Conforme já era esperada há alguns dias, Maria Barroso faleceu esta madrugada, em Lisboa, aos 90 anos. Não será exagerado dizermos que estamos perante uma das mulheres mais relevantes do século XX português.
Maria Barroso viveu uma vida cheia, coerente, feliz e dedicada aos outros. Conseguiu essa coisa absolutamente extraordinária de ser inteira, íntegra, sem deixar de afirmar a sua identidade política, social e cultural.
Há poucas semanas, numa entrevista de fim de vida ao Jornal I, disse a Luís Osório que sempre procurou não fazer nada que irritasse o marido, Mário Soares. Ora isso podia indiciar uma mulher submissa, mas a vida de Maria Barroso desmente cabalmente essa ideia. O que existia nela era um amor profundo ao marido, aos filhos, aos outros, que ela soube transportar para o teatro, o ensino, a liberdade, os direitos do homem e até a política.
Com a naturalidade e simplicidade que só os grandes e bons têm, Maria de Barroso soube convencer o pai a formar-se em Arte Dramática e com a mesma astúcia e coragem declamou os poetas da liberdade num país amordaçado. Concluiu o segundo curso superior numa altura em que muitas das suas compatriotas não conseguiam concluir a instrução primária.
O casamento com Mário Soares marca a sua entrada na política ativa, sendo a única mulher que apôs a sua assinatura na ata de fundação do Partido Socialista, em 1973.
Serenamente, pacientemente, sabiamente, soube ser a mulher de Mário Soares sem nunca apagar a sua essência. Antes tornou o marido mais humano, mais diplomático, mais justo. O profundo amor que lhe devotou ao longo de sessenta e seis anos via-se na maneira como o deixava brilhar ou como amparava as suas quedas, perdoando-lhe os deslizes, respeitando a sua personalidade, moldando-o sem que ninguém suspeitasse.
Maria Barroso conseguia ser socialista e católica com uma convicção e verdade que ninguém colocava em causa. Presidiu à Cruz Vermelha Portuguesa, dirigiu o famoso Colégio Moderno onde fora professora e fundou a Pro Dignitate, que tem um papel relevante na área dos Direitos Humanos, em Portugal.
Com a simplicidade e grandeza que a caracterizaram declarou: “Valeu a pena ter vivido!”. A Vida é maravilhosa quando encontra seres humanos assim!
Gabriel Vilas Boas
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