«O
nosso querido amigo Vincent morreu há quatro dias. (…) No domingo à tarde,
partiu para o campo, perto de Auvers, encostou o cavalete a uma meda de feno,
foi para trás do castelo e disparou um revólver sobre si próprio. Com a
violência do impacto (a bala entrou por debaixo do coração), ele caiu, mas
levantou-se; caiu mais três vezes, mas regressou à estalagem onde se hospedara
(Ravoux, Place de la Mairie), sem falar a ninguém do seu ferimento.
Morreu,
finalmente, na segunda-feira à tarde, a fumar o seu cachimbo que se recusou a
largar, explicando que o seu suicídio fora absolutamente deliberado e que a sua
lucidez era total. (…).
A
urna estava coberta com um simples pano branco e rodeada de montes de flores,
os girassóis de que ele tanto gostava, dálias amarelas, flores amarelas por
todo o lado. Era, como se lembram, a sua cor preferida, o símbolo da luz que ele
sonhava ser tanto no coração das pessoas como nas obras de arte.»
Carta
dirigida pelo artista Émile Bernard ao colecionador de arte Albert Aurier, em 4
de agosto de 1890.
O artista
pós-impressionista Vincent Van Gogh suicidou-se com um tiro no estômago, num campo
perto de Auvers-sur-Oise, nos arredores de Paris, a 28 de julho de 1890. Foi o
local onde pintou um dos seus últimos quadros, Campo de Trigo com Corvos. O irmão, o marchand Théo (que o encorajara a seguir arte) fora o esteio
emocional imprescindível do pintor atormentado e foi em seu auxílio, registando
as últimas palavras de Vincent “A tristeza
ficará para sempre.” Vincent morreu a 29 de julho, com 37 anos.
Numa carta dirigida uns
dias antes à irmã de ambos, Elizabeth, Théo escreveu:
«As pessoas deviam
perceber que ele é um grande artista, algo que muitas vezes coincide com ser um
grande homem. Com o tempo, isso virá a ser reconhecido e muitos lamentarão a sua
morte prematura.»
Théo morreu apenas seis
meses depois, demasiado cedo para testemunhar a adulação global de que Vincent
e a sua obra seriam alvo.
Vale a pena refletirmos
sobre o desespero em que vivem muitas pessoas que nos rodeiam. Muitas delas
cometem atos como o de Vincent Van Gogh e só então reparamos na pessoa que
vagueou à nossa frente durante meses e percebemos que podíamos ter feito algo
para anular aquela angústia.
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