Passam hoje 130 anos do nascimento de Aristides Sousa Mendes, o cônsul de Portugal em Bordéus, quando a rebentou a Segunda Guerra Mundial e que se destacou por passar milhares de vistos a judeus, para se refugiarem em Portugal da mortal perseguição nazi, contrariando a ordem expressa do governo de Salazar.
Não me
quero deter sobre os dados da extraordinária história vivida por Aristides
Sousa Mendes naqueles loucos meses dos anos de 1939 e 1940, nem vou discutir se
salvou mil, dez mil ou trinta mil pessoas. O importante, e isso é inegável, é a
dimensão do que fez: sucessivos atos de coragem, liberdade e humanidade.
Usou o
cargo que tinha para salvar pessoas, para afirmar a vitória da humanidade sobre
a barbárie.
Violou
regras, desrespeitou ordens, colocou o país numa posição difícil a nível
diplomático, em plena guerra mundial? É verdade, mas isso é tão pequenino e
insignificante, sem o ser, quando comparado com as vidas de gente inocente que
salvou.
A
política não pode ser só tática, interesse, jogo. A política serve para ajudar
as pessoas e a sobrevivência é a ajuda mais fundamental que podemos prestar a
alguém.
Os grandes homens, os grandes políticos,
aqueles que querem inscrever o seu nome na história dos povos como verdadeiros
estadistas não se acobardam perante as circunstâncias ou opiniões públicas
sectárias e cegas pelo ódio.
Nos
últimos meses lembrei-me várias vezes do mais famoso cônsul da história de
Portugal, por causa do problema dos migrantes no mediterrâneo. Como são tristes
notas de rodapé da História atitudes como a de Angela Merkel, ainda esta
semana, ao anunciar que alguns dos refugiados palestinianos não poderiam
ser recebidos pela Alemanha, porque a política é uma coisa dura, desumana,
interesseira.
Com uma
sensibilidade horripilante, Merkel arrasou o sonho duma adolescente
palestiniana que não conseguirá entender jamais as prioridades da chanceler
alemã.
Recordar
Aristides Sousa Mendes não pode ser apenas lembrar um homem bom, humano,
corajoso, porque o seu exemplo não frutificou. É preciso tornar o seu exemplo
um farol que ilumine as consciências daqueles que nos governem. A liberdade e a
humanidade são valores absolutos que jamais poderão estar sujeitos a jogos de
conveniência.
Gabriel Vilas Boas
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