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domingo, 19 de julho de 2015

ARISTIDES SOUSA MENDES - UM TRATADO DE HUMANIDADE



Passam hoje 130 anos do nascimento de Aristides Sousa Mendes, o cônsul de Portugal em Bordéus, quando a rebentou a Segunda Guerra Mundial e que se destacou por passar milhares de vistos a judeus, para se refugiarem em Portugal da mortal perseguição nazi, contrariando a ordem expressa do governo de Salazar.
Não me quero deter sobre os dados da extraordinária história vivida por Aristides Sousa Mendes naqueles loucos meses dos anos de 1939 e 1940, nem vou discutir se salvou mil, dez mil ou trinta mil pessoas. O importante, e isso é inegável, é a dimensão do que fez: sucessivos atos de coragem, liberdade e humanidade.
Usou o cargo que tinha para salvar pessoas, para afirmar a vitória da humanidade sobre a barbárie.
Violou regras, desrespeitou ordens, colocou o país numa posição difícil a nível diplomático, em plena guerra mundial? É verdade, mas isso é tão pequenino e insignificante, sem o ser, quando comparado com as vidas de gente inocente que salvou.
A política não pode ser só tática, interesse, jogo. A política serve para ajudar as pessoas e a sobrevivência é a ajuda mais fundamental que podemos prestar a alguém.
 Os grandes homens, os grandes políticos, aqueles que querem inscrever o seu nome na história dos povos como verdadeiros estadistas não se acobardam perante as circunstâncias ou opiniões públicas sectárias e cegas pelo ódio.

Nos últimos meses lembrei-me várias vezes do mais famoso cônsul da história de Portugal, por causa do problema dos migrantes no mediterrâneo. Como são tristes notas de rodapé da História atitudes como a de Angela Merkel, ainda esta semana, ao anunciar que alguns dos refugiados palestinianos não poderiam ser recebidos pela Alemanha, porque a política é uma coisa dura, desumana, interesseira.

Com uma sensibilidade horripilante, Merkel arrasou o sonho duma adolescente palestiniana que não conseguirá entender jamais as prioridades da chanceler alemã.
Recordar Aristides Sousa Mendes não pode ser apenas lembrar um homem bom, humano, corajoso, porque o seu exemplo não frutificou. É preciso tornar o seu exemplo um farol que ilumine as consciências daqueles que nos governem. A liberdade e a humanidade são valores absolutos que jamais poderão estar sujeitos a jogos de conveniência.
Gabriel Vilas Boas

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