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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

MERKEL DESCOBRIU QUE A ALEMANHA PRECISA DA EUROPA


Durante anos vários líderes europeus andaram a pedinchar à senhora Merkel maior flexibilidade da Alemanha face ao tratado orçamental da UE, suplicaram através de lindas metáforas maior envolvimento alemão nas questões do emprego, nas políticas sociais, na consideração pelas especificidades de cada economia e Merkel assobiava olimpicamente para o lado e mandava dizer que regras são regras e todos tinham de as cumprir.
Entretanto as circunstâncias mudaram radicalmente e Merkel tem o discurso que outros tiveram durante anos sem nunca obterem resposta.

A Inglaterra vai sair da União, o clima de guerra aberta económica entre a Alemanha e os EUA vai custar muito milhões de euros a cada uma das economias através de coimas que vão ser aplicadas à VW e à Apple, Merkel perde assustadoramente popularidade entre os alemães e pode ser apeada do poder a breve trecho; a crise dos migrantes sírios está por resolver e vai agudizar-se no inverno. A isto acresce que a França do senhor Hollande é mais problema do que solução, pois o aumento da sua dívida é um péssimo exemplo para apresentar aos malandros do sul da Europa e a Inglaterra está fora do barco. Resta a Alemanha para puxar sozinha um navio atolado em descrença, dívidas e incoerência.

Por isto tudo e porque finalmente sente o cargo de chanceler em perigo Merkel diz o que todos andam a dizer há muito: “A União Europeia está numa situação crítica!” E para abreviar caminho a chanceler diz especificamente quais são as prioridades: segurança, crescimento económico, mercado laboral, expectativas dos mais jovens dentro do mercado europeu.
Merkel está apertada e quer passar a discutir o essencial. No entanto, Merkel não quer salvar Europa nenhuma, antes quer salvar a Alemanha de uma crise social e económica que está ao pé da porta e salvar-se a ela própria enquanto líder do governo. Se não tiverem um plano de negociação bem definido, os restantes líderes europeus vão deixar que Merkel ponha e disponha a seu belo prazer, perdendo-se assim uma excelente oportunidade de reformular o modelo económico em que assenta a atual União Europeia.

Merkel nunca foi de grandes rasgos, nem para Alemanha nem para a Europa. Nos restantes países dominam os tecnocratas ou gente sem escrúpulos ou gente sem legitimidade ou gente sem carisma. Pode ser que todos juntos consigam parir uma ideia brilhante e humanista sobre os novos e delicados passos que a UE tem de dar. A probabilidade é pequena, mas pode acontecer.

Gabriel Vilas Boas   

domingo, 19 de julho de 2015

ARISTIDES SOUSA MENDES - UM TRATADO DE HUMANIDADE



Passam hoje 130 anos do nascimento de Aristides Sousa Mendes, o cônsul de Portugal em Bordéus, quando a rebentou a Segunda Guerra Mundial e que se destacou por passar milhares de vistos a judeus, para se refugiarem em Portugal da mortal perseguição nazi, contrariando a ordem expressa do governo de Salazar.
Não me quero deter sobre os dados da extraordinária história vivida por Aristides Sousa Mendes naqueles loucos meses dos anos de 1939 e 1940, nem vou discutir se salvou mil, dez mil ou trinta mil pessoas. O importante, e isso é inegável, é a dimensão do que fez: sucessivos atos de coragem, liberdade e humanidade.
Usou o cargo que tinha para salvar pessoas, para afirmar a vitória da humanidade sobre a barbárie.
Violou regras, desrespeitou ordens, colocou o país numa posição difícil a nível diplomático, em plena guerra mundial? É verdade, mas isso é tão pequenino e insignificante, sem o ser, quando comparado com as vidas de gente inocente que salvou.
A política não pode ser só tática, interesse, jogo. A política serve para ajudar as pessoas e a sobrevivência é a ajuda mais fundamental que podemos prestar a alguém.
 Os grandes homens, os grandes políticos, aqueles que querem inscrever o seu nome na história dos povos como verdadeiros estadistas não se acobardam perante as circunstâncias ou opiniões públicas sectárias e cegas pelo ódio.

Nos últimos meses lembrei-me várias vezes do mais famoso cônsul da história de Portugal, por causa do problema dos migrantes no mediterrâneo. Como são tristes notas de rodapé da História atitudes como a de Angela Merkel, ainda esta semana, ao anunciar que alguns dos refugiados palestinianos não poderiam ser recebidos pela Alemanha, porque a política é uma coisa dura, desumana, interesseira.

Com uma sensibilidade horripilante, Merkel arrasou o sonho duma adolescente palestiniana que não conseguirá entender jamais as prioridades da chanceler alemã.
Recordar Aristides Sousa Mendes não pode ser apenas lembrar um homem bom, humano, corajoso, porque o seu exemplo não frutificou. É preciso tornar o seu exemplo um farol que ilumine as consciências daqueles que nos governem. A liberdade e a humanidade são valores absolutos que jamais poderão estar sujeitos a jogos de conveniência.
Gabriel Vilas Boas