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terça-feira, 14 de julho de 2015

O GELADO


Uma das maravilhas que Marco Polo trouxe da China, onde viveu em finais do século XIII, foi o gelado. Os chineses há muito que se deliciavam com saborosos gelados de fruta, mas na austera europa medieval tal prazer era desconhecido. Quando, finalmente, foi introduzido no velho continente, o gelado tornou-se um capricho, um luxo só ao alcance das classes favorecidas. Levou algum tempo até que este produto se democratizasse, chegando a todos.
Remonta ao Antigo Egito os primeiros vestígios do gelado. Os faraós costumavam oferecer aos seus hóspedes sumos de fruta arrefecida por meio de neve introduzida numas taças de prata com paredes dupla. Alexandre Magno aprendeu esses prazeres com os Persas, quando os conquistou no século IV a.C.

Os chineses usavam muitas vezes os gelados para arrefecer os alimentos, mas a certa altura a própria polpa de fruta passou a ser misturada com neve. As caves do palácio imperial chegaram a ter mais de mil blocos de gelo. Um dos pratos favoritos do imperador era misturar gelado de arroz e leite perfumado com cânfora. Os pratos à base de leite sempre foram muito populares na China e no tempo de Marco Polo vendiam-se doces gelados preparados com leite.
A partir dos relatos escritos por este comerciante veneziano, alguns cozinheiros italianos começaram a realizar experiências, produzindo gelados tanto de água como de leite. A pouco e pouco, as receitas e as técnicas foram-se aprimorando e a Itália tornou-se famosa pela qualidade dos seus gelados. Não tardou muito que estas receitas saltassem fronteiras.

Quando Catarina de Médicis casou com Henrique II, a corte francesa dispôs, ao longo de 34 dias, de um gelado por refeição, com sabor diferente. Havia também uma sobremesa semigelada, feita com nata, cuja receita era secreta. A corte passou então a dispor de um verdadeiro mestre na arte da gelataria, o cozinheiro Buontalenti, a quem alguns estudiosos atribuem a introdução do gelado na europa.
Depois da corte, foi o povo francês a apaixonar-se pelo gelado. O italiano Francisco Procopio abriu em 1670, em Paris, o famoso café Procope onde se vendiam gelados. O negócio teve tal sucesso que, menos de dez anos depois, Procopio já tinha que se haver com mais de 250 concorrentes, só em Paris.
Entretanto, em Inglaterra, as classes mais abastadas começavam também a interessar-se pela novidade. Para tal, muito terá contribuído o exílio do rei Carlos II, no continente, onde o consumo do gelado começava a tornar-se comum.
A ciência traria um novo contributo para este alimento. As misturas cremosas puderam congelar-se totalmente em 1550, quando Blasisus Vilafranca, médico espanhol que vivia em Roma, descobriu que o ponto de congelamento podia ser rapidamente atingido juntando nitrato de potássio (e mais tarde sal de cozinha) à neve. Com este método, os florentinos foram os primeiros a produzir gelados em larga escala.
Paulatinamente toda a europa foi aderindo à nova delícia e Portugal não escapou à regra. Quando os Filipes reinavam em Portugal, as bebidas nevadas eram sobejamente consumidas, ainda que fosse difícil o fornecimento à capital da conhecida neve da Serra da Estrela.
Um século depois, por volta de 1715, quando já reinava D. João V, eram já inúmeros os fabricantes de gelados em Lisboa.
Seria através dos descobridores europeus que o gelado havia de chegar à América. O gelado implementou-se fortemente neste continente. O movimento dos Descobrimentos levou-o a atravessar o oceano Pacífico. George Washington, o primeiro presidente dos EUA, gostava de servir gelados aos seus convidados. O mesmo acontecia com Thomas Jefferson que gostava de ter sempre gelados por perto, para servir em ocasiões especiais. Contudo, foi na vizinha Pensilvânia que a indústria se implementou mais rapidamente de molde a que os gelados passaram a fazer parte dos hábitos de consumo dos americanos.

Foram mesmo os americanos que, na exposição Mundial de Saint-Louis, em 1904, inventaram o gelado de cone. Diz-se que a namorada de um vendedor de gelados, para impedir o gelado de pingar, o enrolou numa bolacha da mesma forma que havia enrolado umas flores oferecidas pelo amado. 

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