«Todos temos defeitos!»
Ouvimos muitas vezes, em jeito de aviso, defesa ou simples constatação. No entanto
eles têm sabores diferentes, conforme sejam os nossos ou os dos outros. Para
uns temos mil desculpas, para outros pouca paciência.
Os nossos defeitos são
consequências enquanto os do vizinho são causas. Na verdade, ambos são hábitos
maus, que se perpetuam no tempo e no espaço, azucrinando a vida de todos.
Claro que há defeitos e
defeitos, mas se há defeitos impossíveis de tolerar também não é tolerável que
defeitos tão insignificantes persistam irritantemente no tempo.
Os defeitos nascem e
crescem quando a humildade nos abandona e o orgulho nos consome. São dois
companheiros terríveis e insidiosos. Domá-los é um exercício difícil e permanente,
mas perfeitamente viável.
O que não é viável é justificar
os nossos defeitos com os defeitos alheios. Não resolve o nosso problema nem o
do outro. Os únicos defeitos que nos devem interessar são os nossos, pois só
esses podemos eliminar. Então, por que não o fazemos? Na verdade, suspeito que
a verdadeira razão é porque os adoramos, ainda que saibamos que nos fazem mal. Achamos
imensa piada aos nossos defeitos e a primeira tentação é justificá-los.
Normalmente não resulta e por isso passamos à segunda parte do plano: vesti-los
de alguma graça que os torne engraçados.
Naturalmente captamos apenas sorrisos
amarelos e decidimos mudar de estratégia: torná-los pequenos monstros
caprichosos que dominam desassombradamente a nossa débil vontade. Por esta altura, os
outros deixam de nos tentar ajudar e vão à vida deles, deixando-nos com os
nossos diabetes de personalidade, para sempre.
Ora isto não tem que
ser assim nem é preciso ser um herói para escrever outra narrativa pessoal. Os
defeitos são coisas más e feias, que nos magoam o carácter. Quase todos os
defeitos são elimináveis ou reduzíveis à sua insignificância. Se agora estão
monstruosos, há que começar por deixar de alimentar o glutões.
A melhor maneira de
ajudar o outro a fazer alguma coisa pelos seus defeitos é tratar dos nossos. O bom
exemplo tem efeito devastador no mau exemplo.
Gabriel Vilas Boas
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