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quarta-feira, 10 de junho de 2020

ARISTIDES SOUSA MENDES NO PANTEÃO NACIONAL

Aristides Sousa Mendes é um herói português, de quem o Estado português sempre teve vergonha. 
O homem que foi contra Salazar, contra o politicamente correto, contra a hipócrita etiqueta diplomática, mas a favor da humanidade, da vida, de milhares de homens, mulheres e crianças que conseguiram fugir  de um destino trágico, criado por um louco que perseguia o ideal de extermínio dos judeus.

Apesar de todas as reabilitações públicas, o poder político sempre teve um certo pejo em assumir a sua herança humanista, no entanto, lentamente essa inércia ética vai-se esbatendo e por estes dias o parlamento português aprovará um projeto de resolução que visa dar honras de panteão nacional a Aristides Sousa Mendes.

O projeto é da deputada Joacine Katar Moreira e parece reunir amplo consenso entre os vários partidos políticos, ainda que não note grande entusiasmo em nenhum deles. Pouco importa! O que é relevante é que a memória dos seus atos não se apague e, pelo contrário, as gerações mais novas de portugueses respirem os seus ideais humanistas, a sua coragem política e diplomática, a maneira com soube valorizar a vida.

É certo que o panteão nacional não é um lugar icónico da portugalidade nem um dos mais turísticos, mas o seu simbolismo é inegável e através dele podemos percecionar muito do que fomos e somos enquanto país e povo.
Quando, daqui a um ano ou a década, um jovem visitar o Panteão e indagar sobre os feitos dos heróis que lá são evocados, poderá aprender sobre a simbólica coragem portuguesa, em tempos de cobardia e taticismo político, durante a segunda guerra mundial. 

E certamente abrirão um sorriso longo e satisfeito, que iluminará a face satisfará a alma. Aristides Sousa Mendes foi e é esse raio de esperança com carimbo português, no passaporte da vida.

GAVB

domingo, 12 de novembro de 2017

JANTAR COM A MORTE


Se os tipos da Web Summit ainda não sabiam, ficaram a saber: em Portugal, as aparências são para se respeitar. Os portugueses adoram as aparências e não gostam que lhes toquem nessa espécie de sagrado. Pode fazer-se e dizer-se quase tudo, mas é absolutamente inconveniente que se saiba.

A aparência é a manta preferida dos portugueses. Ela cobre a ignorância, dá respeitabilidade a quem não a tem, sossega a população, permite que negócios ilegítimos se concretizem dentro da lei, faz-nos acreditar que somos bem melhores do que aquilo que somos. 
A aparência portuguesa traduz-se bem naquele adágio brasileiro “me engana que eu gosto”.

Nas últimas horas, o país mediático lá descobriu que se faziam jantares de gala no Panteão Nacional. Pior: eles não eram proibidos, pois até havia lei para os regulamentar e, sacrilégio dos sacrilégios, o jantar de encerramento da Web Summit só fora o último.
O primeiro-ministro logo se disse chocado. Ninguém sabe se com a autorização que o seu Ministro da Cultura tacitamente deu para estes jantares entre memórias fúnebres do Camões, Vasco da Gama e Nuno Álvares Pereira, se com a lei que outros fizeram e ele aceitou, se com a sua própria ignorância sobre as leis e regulamentos do país.

Concorrendo com o estado de choque de António Costa para globo de ouro do fingimento político está a indignação do maior partido da oposição e criador da lei que permite estas ceias de gala, na companhia da morte.
Entretanto, o povo, que supostamente deve estar indignado, revoltado, chocado leva com outra “revelação”: «Aqui não há corpos! Há sempre essa confusão. No átrio central do Panteão Nacional encontram-se os cenotáfios, que são memoriais fúnebres, do Infante Dom Henrique, de Nuno Alvares Pereira, Camões, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama. O que aconteceu na sexta-feira foi um jantar, entre outros que se realizam aqui, no corpo central do monumento, de acordo com o regulamento que está em vigor.», disse a Diretora do Panteão Nacional, Isabel Melo.

Ah bom, no Panteão não estão os restos mortais dos nossos maiores, só uma espécie de memorial. Isso deixa-me mais descansado, mas também algo desconsolado. Sendo assim, acho que até podemos subir de nível e passar de jantares de gala a um concurso da Elite Model Look. Acho que a memória do Camões apreciaria. Por outro lado, nem é preciso estar preocupado em atirar as culpas para o governo anterior, porque a culpa já tem dono: o Regulamento, obviamente.

Enquanto aguardamos nova bronca do governo ou da oposição, era bom que quem nos governa passasse uma vista de olhos pelas leis, decretos-lei e regulamentos que aprovou nos últimos anos, porque já não há paciência para tanta indignação, revolta e estados de choque com aquilo que eles próprios fizeram. Se não têm mais nada para nos dizer, vão jantar com a morte e depois contem como foi.

GAVB

sexta-feira, 3 de julho de 2015

EUSÉBIO NO PANTEÃO NACIONAL



Um ano e meio depois da sua morte, os restos mortais de Eusébio são transladados para o Panteão Nacional, o lugar onde repousam definitivamente alguns dos heróis da pátria. Ultimamente, foram lá colocando alguns dos que o povo amou verdadeiramente e que personificaram a Portugalidade mais genuína e bela: Humberto Delgado, Amália Rodrigues, Sophia de Mello Breyner e, agora, Eusébio da Silva Ferreira. 

Claro que o melhor panteão, onde devem morar estas figuras, é a nossa memória e o nosso coração. E Eusébio passa com distinção esses dois critérios. Deixou de jogar há quatro décadas e só no final da sua vida apareceu alguém a disputar-lhe o trono supremo. Os seus golos, as vitórias e alegrias que deu a um Portugal amordaçado e triste cintilam na memória de várias gerações.

Infelizmente não o vi jogar. Logo a ele que tornou monstruosa a popularidade do meu clube. Tenho os livros, os relatos radiofónicos e, sobretudo, as imagens televisivas que me mostram quão grande foi. 
As correrias loucas com a bola, perfeitamente dominada, de vinte/ trinta metros até desferir o seu potente e certeiro remate, que fazia benfiquistas e portugueses pularem de alegria; a correção com companheiros e adversários; a simplicidade no trato; a afabilidade; o virtuosismo aliado à força numa combinação tão admirável que muito poucos se igualaram. Artur Agostinho, esse ícone da rádio e da televisão, batizou-o de pantera negra, pela maneira felina e cheia de estilo como corria, atacava, marcava.
Os golos, as vitórias, os prémios, os títulos não o tornaram mediático nem rico, mas profundamente amado. E não há maior riqueza de que ser amado assim. 

Hoje, oficialmente, Eusébio subiu, justamente, ao panteão. A sua entrada na elite dos heróis nacionais consagra o futebol como um agente da cultura. Nada mais justo. A cultura é um exercício sobre a identidade e nos últimos anos o desporto em geral e o futebol em particular têm sido dos setores que mais têm contribuído para a nossa identidade coletiva. 


Há ano e meio, despedi-me do rei Eusébio. Uma semana depois da sua morte, um estádio da Luz repleto ergueu-se para a última homenagem. 
Sinatra cantava o «My Way», quase todos se levantaram para te rever mais uma vez. E havia tanta saudade nos nossos olhos brilhantes que nenhum aplauso consegue afagar. 
Custou imenso levantar aquela cartolina negra e nem o hino que nos unia teve o sabor de tantas tardes e noites. 
Depois virámos a cartolina e estádio ficou com as cores que nos ensinaste amar. Corremos, saltámos, marcámos, apoiámos, ganhámos. Era o mínimo que podíamos fazer para te dizer "Obrigado!"

Gabriel Vilas Boas