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domingo, 4 de janeiro de 2015

BRAILLE, OS ÓCULOS DE UM CEGO


Quase todos nós nascemos com cinco maravilhosos instrumentos que nos permitem fazer da vida uma sinfonia perfeita. Visão, tato, audição, olfato, paladar. Destes, ainda que injustificadamente, sempre achei a visão o mais importante.
Saber o que era a cor, perceber claramente as formas das pessoas e da natureza, alcançar a grandeza das realizações é um bem inestimável, incalculável de que os invisuais não conseguem desfrutar. Alguns nunca conseguiram ver, outros perderam a visão durante a vida.
Além perder a capacidade de provar e comprovar aquilo que o rodeia, o cego ficava muito limitado no seu desenvolvimento cognitivo porque perdia a oportunidade de ler. Isso alterou-se há quase duzentos anos quando um adolescente invisual inventou um sistema de células com seis pontos que permitia aos cegos lerem. Esse menino chamava-se Louis Braille e a humanidade deve-lhe gratidão eterna.



A sua necessidade, a sua persistência e engenho puseram uns óculos luminosos nos dedos de milhões de pessoas em todo o mundo. Através daquele código a treva que fechou os olhos e o coração de muitos desafortunados tornou-se menos agreste e eles mais independentes.
O código de braille talvez seja o mais poderoso meio de inclusão que conheço, pois devolveu alguma da independência e autoestima roubadas, permitindo que um cego aceda à maioria da informação disponível.
Louis Braille é daqueles anjos que abraçou a humanidade durante algum tempo, mas cuja ação em prol do seu semelhante ficará gravada para sempre. Regressou ao olimpo muito cedo, dois dias após ter completado 43 anos, mas a sua ação permitiu alterar radicalmente a vida dos invisuais e daqueles que interagem com eles.



Braille foi o menino que trouxe luz ao mundo da escuridão. Ele não se deixou afogar na sua dor nem no infortúnio e resolveu agir. A sua atitude é uma lição e uma fonte de inspiração para todos aqueles para quem a vida foi injusta. Como diria T. S. Eliot, “o homem que age não sofre”. Eu não seria tão perentório, mas talvez Braille tenha antecipado Albert Camus que nos deixou há precisamente cinquenta e cinco anos: “E no meio do inverno eu, finalmente, aprendi que havia, dentro de mim, um verão invencível!”

Gabriel Vilas Boas       

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