Quase todos nós
nascemos com cinco maravilhosos instrumentos que nos permitem fazer da vida uma
sinfonia perfeita. Visão, tato, audição, olfato, paladar. Destes, ainda que
injustificadamente, sempre achei a visão o mais importante.
Saber o que era
a cor, perceber claramente as formas das
pessoas e da natureza, alcançar a grandeza das realizações é um bem
inestimável, incalculável de que os invisuais não conseguem desfrutar. Alguns
nunca conseguiram ver, outros perderam a visão durante a vida.
Além perder a
capacidade de provar e comprovar aquilo que o rodeia, o cego ficava muito
limitado no seu desenvolvimento cognitivo porque perdia a oportunidade de ler.
Isso alterou-se há quase duzentos anos quando um adolescente invisual inventou
um sistema de células com seis pontos que permitia aos cegos lerem. Esse menino
chamava-se Louis Braille e a humanidade deve-lhe gratidão eterna.
A sua
necessidade, a sua persistência e engenho puseram uns óculos luminosos nos
dedos de milhões de pessoas em todo o mundo. Através daquele código a treva que
fechou os olhos e o coração de muitos desafortunados tornou-se menos agreste e
eles mais independentes.
O código de
braille talvez seja o mais poderoso meio de inclusão que conheço, pois devolveu
alguma da independência e autoestima roubadas, permitindo que um cego aceda à
maioria da informação disponível.
Louis Braille é
daqueles anjos que abraçou a humanidade durante algum tempo, mas cuja ação em
prol do seu semelhante ficará gravada para sempre. Regressou ao olimpo muito
cedo, dois dias após ter completado 43 anos, mas a sua ação permitiu alterar radicalmente
a vida dos invisuais e daqueles que interagem com eles.
Braille foi o
menino que trouxe luz ao mundo da escuridão. Ele não se deixou afogar na sua
dor nem no infortúnio e resolveu agir. A sua atitude é uma lição e uma fonte de
inspiração para todos aqueles para quem a vida foi injusta. Como diria T. S.
Eliot, “o homem que age não sofre”. Eu não seria tão perentório, mas talvez
Braille tenha antecipado Albert Camus que nos deixou há precisamente cinquenta
e cinco anos: “E no meio do inverno eu, finalmente, aprendi que havia, dentro
de mim, um verão invencível!”
Gabriel Vilas
Boas
Um dos melhores textos que li. Parabéns! POV
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