Os
atentados de Paris voltaram a pôr na berlinda o debate sobre a liberdade de
expressão. É um debate eterno, porque cada um tem a sua própria noção de
liberdade e de expressão.
A
questão que se coloca é: a liberdade de
expressão tem limites? Claro que sim! Sempre teve! No entanto, esses
limites foram alargando e diminuindo como um elástico, ao sabor dos humores dos
regimes políticos que vigoraram e vigoram nas diversas latitudes do mundo.
A meu
ver, a liberdade de expressão é um valor civilizacional, cultural e social
moderno. Não há razão para ficarmos muito admirados com a falta de liberdade de
expressão em muitos países orientais nem devemos considerar aqueles povos e
aquelas culturas atrasados quando em comparação connosco. O dito mundo
ocidental foi exatamente assim há poucas décadas. A liberdade de expressão ocidental - portuguesa,
espanhola, italiana, francesa, entre outras - andou exilada algumas décadas e
também nós demorámos a reagir.
Há uma
certa arrogância cultural em queremos impor os nossos valores, a nossa cultura,
a nossa noção de tolerância a países tão diferentes dos ocidentais. Não somos
melhores, somos apenas diferentes. Eles só mudarão quando sentirem necessidade de
mudar. Essa será sempre a razão fundamental.
A noção
ocidental de liberdade de expressão é ampla, mas tem limites, enquanto a de
muitos povos árabes parece-nos muito restrita. No entanto, faço notar que há,
entre nós, quem tenha uma noção de liberdade de expressão muito semelhante à
que existe na Arábia Saudita assim como há muitos sauditas que pensam a
liberdade de expressão como a maioria de nós.
A
grande diferença está no modo como cada cultura penaliza quem ultrapassa os
limites da liberdade da expressão. A oriente é quase tudo uma questão de
vida/morte e, portanto, as penalizações
são normalmente extremas; a ocidente, estamos instalados na mercantilização dos
valores. Tipificámos, hierarquizámos e convertemos em coimas quase todas as “falhas”.
Dantes chamávamos-lhes “pecados”, mas a igreja também teve de se converter,
perante a acusação de desumanização.
Temos
uma liberdade de expressão limitada à carteira ou à cadeia. Esse foi o nosso
método civilizacional. Temos o direito a impô-lo na “nossa terra”, outros têm
outra noção de liberdade que impõem no seu território à sua maneira. O mais extraordinário é que
cada um tenta impor a sua noção de liberdade de expressão ao outro. É
verdadeiramente inútil, idiota e cheio de tiques de autoritarismo. Pode
demorar, mas os povos mudam de paradigma quando querem verdadeiramente mudar!
Gabriel Vilas Boas
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