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domingo, 18 de janeiro de 2015

LIBERDADE DE EXPRESSÃO


Os atentados de Paris voltaram a pôr na berlinda o debate sobre a liberdade de expressão. É um debate eterno, porque cada um tem a sua própria noção de liberdade e de expressão.
A questão que se coloca é: a liberdade de expressão tem limites? Claro que sim! Sempre teve! No entanto, esses limites foram alargando e diminuindo como um elástico, ao sabor dos humores dos regimes políticos que vigoraram e vigoram nas diversas latitudes do mundo.
A meu ver, a liberdade de expressão é um valor civilizacional, cultural e social moderno. Não há razão para ficarmos muito admirados com a falta de liberdade de expressão em muitos países orientais nem devemos considerar aqueles povos e aquelas culturas atrasados quando em comparação connosco. O dito mundo ocidental foi exatamente assim há poucas décadas. A liberdade de expressão ocidental - portuguesa, espanhola, italiana, francesa, entre outras - andou exilada algumas décadas e também nós demorámos a reagir.
Há uma certa arrogância cultural em queremos impor os nossos valores, a nossa cultura, a nossa noção de tolerância a países tão diferentes dos ocidentais. Não somos melhores, somos apenas diferentes. Eles só mudarão quando sentirem necessidade de mudar. Essa será sempre a razão fundamental.
A noção ocidental de liberdade de expressão é ampla, mas tem limites, enquanto a de muitos povos árabes parece-nos muito restrita. No entanto, faço notar que há, entre nós, quem tenha uma noção de liberdade de expressão muito semelhante à que existe na Arábia Saudita assim como há muitos sauditas que pensam a liberdade de expressão como a maioria de nós.

A grande diferença está no modo como cada cultura penaliza quem ultrapassa os limites da liberdade da expressão. A oriente é quase tudo uma questão de vida/morte  e, portanto, as penalizações são normalmente extremas; a ocidente, estamos instalados na mercantilização dos valores. Tipificámos, hierarquizámos e convertemos em coimas quase todas as “falhas”. Dantes chamávamos-lhes “pecados”, mas a igreja também teve de se converter, perante a acusação de desumanização.  
Temos uma liberdade de expressão limitada à carteira ou à cadeia. Esse foi o nosso método civilizacional. Temos o direito a impô-lo na “nossa terra”, outros têm outra noção de liberdade que impõem no seu território à sua maneira. O mais extraordinário é que cada um tenta impor a sua noção de liberdade de expressão ao outro. É verdadeiramente inútil, idiota e cheio de tiques de autoritarismo. Pode demorar, mas os povos mudam de paradigma quando querem verdadeiramente mudar! 

Gabriel Vilas Boas

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