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domingo, 11 de janeiro de 2015

URGENTE, URGENTE É REFORÇAR "AS URGÊNCIAS"


A primeira semana de janeiro trouxe a Portugal os problemas mais previsíveis de qualquer início de inverno: uma vaga de frio e enorme afluência de doentes às urgências dos hospitais. Mas, ao que parece, as bem pagas administrações hospitalares não estavam à espera do sucedido e ocorreram uma série de “pequenos imprevistos”: a maioria das pessoas esperou em média cinco ou mais horas para ser atendido por um médico; os bombeiros viram as suas macas retidas várias horas porque os hospitais não tinham camas para colocar os doentes e, para completar o quadro, alguns doentes acabaram por falecer num corredor da urgência dum hospital, sem terem sido vistos por um médico que lhes valesse. De tanto esperar, desistiram de viver!
O sistema nacional de saúde é o bem mais precioso que o país tem! As urgências hospitalares são o coração do sistema e nelas estão concentrados todos os meios técnicos e humanos de socorro imediato ou não fossem “urgências”. Nos hospitais, o país investe muito dinheiro, fazendo dos médicos os funcionários públicos mais bem remunerados do país, comprando, na maioria dos casos, os fármacos que são prescritos, adquirindo os meios de diagnóstico e tratamento necessários às boas práticas médicas. A isto acresce que o país tem hospitais e centros de saúde, espalhados pelo território, em número mais que suficiente para atender à população.


Então, qual a razão destas indecorosas mortes? Parece-me óbvio que faltam recursos humanos e que os que existem são (foram) muito mal geridos, nestas últimas semanas.
Como é possível que as administrações hospitalares tenham permitido que os médicos marcassem férias para esta altura do ano, onde é mais que previsível uma enorme afluência de doentes aos hospitais? O senhor doutor tem direito a elas? Pois tem, mas há alturas do ano em que devia ser vedada a possibilidade dum médico marcar férias. Isso acontece com outras profissões do Estado, como por exemplo, os professores. Se as administrações não têm poder para isso, que a peçam à tutela; agora, deixar morrer um velho num corredor de hospital como um cão é que não!
Tivemos e continuamos a ter, infelizmente, o caricato problema da falta de camas para colocar os doentes internados. Os hospitais portugueses têm camas suficientes, mas alguns estão fechados e outros com lotação longe de esgotar. Por que será que os doutos administradores da saúde pública portuguesa não fizeram a tempo uma transferência ordenada de doentes para que aquelas unidades de saúde que têm urgências pudessem receber o esperado ataque, em massa, das gripes e constipações, um clássico desta altura do ano?  


O cada vez menos brilhante ministro Paulo Macedo já nos descansou, ao dizer, sem rir, que a situação é má, mas vai… piorar! A sua honestidade deixa-me furioso! Ele não está lá para constatar, ele está lá para resolver, encontrar soluções. E a solução não é pagar 80 euros, à hora, a médicos para fazer urgências! Os mesmos médicos que Paulo Macedo e a troika empurraram para o sistema de saúde privado são agora assediado com ordenados à jogador de futebol, como se de mercenários se tratassem, para salvar a face dum sistema que não soube prever o óbvio.
Os médicos que existem são poucos e estão exaustos. Não são 1000 euros por dia que apagam o cansaço e lhes dão discernimento necessário para decidir em poucos minutos a melhor solução para salvar uma vida.



Além de médicos, faltam enfermeiros. Aqueles desgraçados que ganham pouco mais de mil euros por mês (recordo que se oferece o mesmo por dia a um médico, em situações de desespero como acontece agora) e que o ministro empurrou para fora do país ao não atender a muitos dos seus justos pedidos. No último ano foram seis por dia, ou seja, mais de dois mil, aqueles que emigraram. Este caos também se deve à sua ausência.
Para terminar, lembro que se fecharam muitas urgências hospitalares, como por exemplo Amarante, para se concentrar meios num hospital de referência regional. A medida, em teoria, parecia acertada, na prática e face à carestia de meios humanos imposta pela troika, talvez não fosse nada mal pensado reabrir algumas urgências durante estas semanas de grande afluência da população aos hospitais. Afinal de contas, muito do equipamento está parado…
Estas coisas são de previsão e planeamento fácil, porque são mais previsíveis que o frio no inverno e o calor no verão. Se um ministério não serve para planear o óbvio, para que serve, afinal?
Gabriel Vilas Boas


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