Como educador, penso,
muitas vezes, qual a área educativa, qual a disciplina que deve fazer parte da
formação dum aluno desde tenra idade e, por mais voltas que dê, a resposta
surge-me quase sempre em forma de arte: TEATRO.
É uma arte completa,
global, que provoca os sentidos, as emoções, a inteligência, o corpo, e os valores
de quem a ele se entrega. Não consigo imaginar nada melhor para acompanhar o
crescimento duma criança até à altura das primeiras decisões e opções. Por
isso, acho que o Teatro devia fazer parte, como uma disciplina autónoma, do
curriculum dos alunos nos primeiros nove anos de escolaridade.
Duma maneira divertida,
descomplexada e integradora, o Teatro desenvolve a expressão oral. É constrangedor
ouvir ler alguns adolescentes de quinze anos, que ainda soletram e acho que vão
soletrar a vida inteira, pois não vislumbro melhorias significativas.
Ao mesmo tempo, a arte
cénica faz desabrochar a criatividade nas crianças, o que lhes será muito útil
quer na escola quer na vida. Não falo apenas da criatividade intelectual, mas
igualmente da criatividade motora, corporal, gestual, comunicativa. Quando se
dão conta, os pequenos atores de dez anos são possuidores de várias técnicas
que fazem deles pessoas altamente apelativas no meio social onde se movem.
Quem é criativo e se
expressa com fluência é também uma pessoa confiante. Ora a confiança é uma
qualidade muito rara entre os nossos alunos e poucos a adquirem com o tempo.
Essa confiança foi ganha em centenas de ensaios, onde o medo do ridículo
somou derrota atrás de derrota, até se retirar em debandada.
Esta confiança
raramente se confunde com soberba, pois foi construída dentro dum processo de
crescimento onde o humanismo é uma constante. Para quem, como eu, já fez
teatro, como ator e encenador, percebe como esta arte contribui para a
socialização e integração de jovens das mais variadas personalidades.
No entanto, é
completamente ingénuo pensar que o Teatro é uma arte fácil. Exige muito
trabalho, organização, disponibilidade física, mental e de tempo. O mais
espantoso é que as crianças costumam responder afirmativamente a estes
desafios. A razão é óbvia: teatro é paixão, concretiza sonhos, derruba medos,
faz viver.
Normalmente, os
alunos de teatro são pessoas responsáveis, solidárias, gostam de trabalhar em
grupo. É impressionante observar quanto se comprometem, quanto se implicam numa
peça, quanto “crescem” de todas as formas.
Em cima dum palco,
encontro jovens que correm, pulam, coreografam com a beleza e astúcia; vejo os
discursos mais convincentes, os diálogos mais apaixonados; noto a arte do
desenho nos cenários e a beleza da música na sonoplastia…
Por mais voltas que
dê, não consigo imaginar algo que desenvolva tantas aptidões numa criança, num
adolescente, num jovem!
Gabriel Vilas Boas
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