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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O TEATRO E AS CRIANÇAS




Como educador, penso, muitas vezes, qual a área educativa, qual a disciplina que deve fazer parte da formação dum aluno desde tenra idade e, por mais voltas que dê, a resposta surge-me quase sempre em forma de arte: TEATRO.
É uma arte completa, global, que provoca os sentidos, as emoções, a inteligência, o corpo, e os valores de quem a ele se entrega. Não consigo imaginar nada melhor para acompanhar o crescimento duma criança até à altura das primeiras decisões e opções. Por isso, acho que o Teatro devia fazer parte, como uma disciplina autónoma, do curriculum dos alunos nos primeiros nove anos de escolaridade.
Duma maneira divertida, descomplexada e integradora, o Teatro desenvolve a expressão oral. É constrangedor ouvir ler alguns adolescentes de quinze anos, que ainda soletram e acho que vão soletrar a vida inteira,  pois não vislumbro melhorias significativas.


Ao mesmo tempo, a arte cénica faz desabrochar a criatividade nas crianças, o que lhes será muito útil quer na escola quer na vida. Não falo apenas da criatividade intelectual, mas igualmente da criatividade motora, corporal, gestual, comunicativa. Quando se dão conta, os pequenos atores de dez anos são possuidores de várias técnicas que fazem deles pessoas altamente apelativas no meio social onde se movem.
Quem é criativo e se expressa com fluência é também uma pessoa confiante. Ora a confiança é uma qualidade muito rara entre os nossos alunos e poucos a adquirem com o tempo. Essa confiança foi ganha em centenas de ensaios, onde o medo do ridículo somou derrota atrás de derrota, até se retirar em debandada.


Esta confiança raramente se confunde com soberba, pois foi construída dentro dum processo de crescimento onde o humanismo é uma constante. Para quem, como eu, já fez teatro, como ator e encenador, percebe como esta arte contribui para a socialização e integração de jovens das mais variadas personalidades.
No entanto, é completamente ingénuo pensar que o Teatro é uma arte fácil. Exige muito trabalho, organização, disponibilidade física, mental e de tempo. O mais espantoso é que as crianças costumam responder afirmativamente a estes desafios. A razão é óbvia: teatro é paixão, concretiza sonhos, derruba medos, faz viver.
Normalmente, os alunos de teatro são pessoas responsáveis, solidárias, gostam de trabalhar em grupo. É impressionante observar quanto se comprometem, quanto se implicam numa peça, quanto “crescem” de todas as formas.


Em cima dum palco, encontro jovens que correm, pulam, coreografam com a beleza e astúcia; vejo os discursos mais convincentes, os diálogos mais apaixonados; noto a arte do desenho nos cenários e a beleza da música na sonoplastia…
Por mais voltas que dê, não consigo imaginar algo que desenvolva tantas aptidões numa criança, num adolescente, num jovem!

Gabriel Vilas Boas   

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