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domingo, 9 de setembro de 2018

NUMA DEMOCRACIA ADULTA O MEU VOTO NÃO PODE VALER MAIS DO QUE O TEU

O Sporting elegeu o seu novo presidente, o médico Francisco Varandas. Foi o candidato que obteve mais votos, mas não aquele em quem os sportinguistas mais votaram, já que o candidato João Benedito (ex. futsalista) conseguiu o apoio de mais mil sportinguistas do que o novo presidente sportinguista.

Esta "incoerência" legal explica-se com o facto de haver sócios com direito a mais votos que outros, tendo em conta a antiguidade. Na prática, uma minoria de sócios seniores pode eleger um presidente contra a maioria, apenas porque são associados mais antigos. 
O que acontece no Sporting Clube de Portugal é o mesmo que se passa noutros clubes desportivos e noutras associações. 
Apesar de ser legítimo um clube/associação definir as suas regras, isso não quer dizer que elas sejam totalmente democráticas e não devam ser discutidas.
Quando meu voto vale o dobro ou o triplo ou o quíntuplo de outro sócio, apenas porque tenho mais anos de filiação ou pago uma quota superior, não se pode falar de democracia. 
Uma pessoa - um voto! Independentemente do sexo, da idade (desde que maior de idade), do número de anos de associado.

Para eliminar o oportunismo eleitoral, podemos admitir que um sócio apenas só comece a eleger após um ano de filiação, mas não devemos hierarquizar a sua importância. 
Acho que a legislação eleitoral geral, aplicada a associações desportivas ou de outro âmbito, devia impedir estes regulamentos pouco democráticos, dado que um dos deveres da Democracia é defender o seu espírito e os seus princípios. 
Obviamente que há a tradição, o direito das diversas associações privadas definirem as suas regras, todavia há bens e princípios que estão claramente acima das vontade subjetivas de alguns. Uma sociedade democrática não deve permitir que os seus princípios sejam deturpados ou manipulados, que alguns usem o estatuto da Democracia mas não a apliquem, que um qualquer candidato minoritário assuma o poder porque a eleição tinha um asterisco. 
Uma democracia saudável não tem asteriscos.
GAVB  

sábado, 7 de janeiro de 2017

SOARES FOI FIXE

Crónica de uma morte anunciada

Depois de passadas as festas natalícias, Mário Soares lá teve autorização para morrer sem atrapalhar a alegria de ninguém. Escorropichou a vida até à última gota.
Quer gostemos ou não, ele é a cara da democracia portuguesa. Conquistou-a, liderou-a, consolidou-a.
Fez erros? Muitos! Há pessoas que o detestam, mas até essas sabem quanto ele foi importante, para a afirmação do processo democrático no nosso país.
Acertando ou errando, Soares nunca se traiu.

Assumiu a democracia e defendeu-a dos comunistas; enfrentou a crise e a primeira bancarrota, aliando-se à Direita, no Bloco Central; lançou-se na corrida à presidência da República com apenas 7% das intenções de votos, contra amigos e inimigos, vencendo no photo-finish, a mais emocionante eleição presidencial de que há memória, em 1986, contra Freitas do Amaral, apoiado por Cavaco Silva no auge do seu poder.
Soares era um líder nato. Soube governar, presidir… reinar. Havia política em tudo o que fazia; havia controvérsia, e também humanidade e cultura.

Com o passar do tempo, habitados a direitos que ele ajudou a conquistar e a manter, fomos notando os seus defeitos e desvalorizando as suas conquistas, mas nem isso o acabrunhou ou tornou azedo.
Continuou a intervir, a ser polémico, a aventurar-se. Algumas vezes já sem a noção do ridículo, como foi o caso da frustrada candidatura presidencial contra Cavaco Silva. Até nisso Soares foi diferente – não tinha medo do ridículo.
Partiu, porque todos temos de partir. Entretanto protagonizou uma vida grandiosa. Não nos deixou mais pobres, porque ainda hoje usufruímos da riqueza que ele deixou para todos - a Democracia.

Gabriel Vilas Boas

sexta-feira, 18 de março de 2016

O BRASIL TOMA O FUTURO NAS MÃOS


O Brasil está envolvido numa luta titânica pela defesa da sua democracia, da sua dignidade política, do seu futuro identitário.
A desesperada nomeação do ex-presidente Lula da Silva para ministro da Casa Civil, outorgando-lhe uma quase imunidade judicial, tornou tudo mais claro: de um lado a justiça, grande parte do povo brasileiro, a vontade de estripar da administração pública do país os enormes tentáculos da corrupção instalada; do outro lado um sistema político-partidário comprometido, corrupto, desesperado, capaz de lançar mão de toda e qualquer estratégia para se furtar ao escrutínio da justiça.

O que mais me impressiona é que ninguém parece fugir à parte que lhe toca no guião de uma luta feroz e sem quartel. Governantes, ex-governantes, deputados, empresários comprometidos com o sistema corrupto lançam mão de influências, chantageiam, aproveitam os pontos de fuga das leis laboriosamente criadas durante anos para situações de emergência como esta, fazem nomeações absurdas para cargos públicos com imunidade judiciária. Os juízes, a comunicação social, o povo em geral contrapõem com a abertura de um processo de destituição da Presidente Dilma Rousseff, com a tentativa de anulação jurídica da nomeação de Lula da Silva, com a divulgação dos telefonemas comprometedores dos principais líderes políticos e económicos do país, com manifestações gigantescas nas principais cidades brasileiras contra Dilma, contra Lula, contra a corrupção congénita que lhes come a alma.

O povo brasileiro decidiu tomar nas suas próprias mãos o futuro, dando força e coragem a quem tem a dificílima missão de atacar gente muito poderosa com meios modestos, mas com uma convicção profunda que que cumprem uma missão nobre. Admiro aquela gente! Souberam superar o trauma de ver o seu herói fraquejar e não hesitaram na hora de escolher: estão com aqueles que escolheram a liberdade, a democracia, a decência pública. Não foram eles que falharam, não são eles que têm motivos para fugir ou esconder-se.
Pode demorar algum tempo, mas este jogo só pode ter um resultado…


GABRIEL VILAS BOAS

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O 25 DE NOVEMBRO DE 1975


Há precisamente quarenta anos, o 25 de novembro de 1975 foi o dia em que Portugal mais perto esteve de mergulhar numa guerra civil de consequências incalculáveis, mas certamente nefastas para uma jovem democracia de ano e meio.
Nesse dia, forças da extrema-esquerda radical portuguesa tentaram um golpe militar que se propunha derrubar o governo e instaurar em Portugal uma ditadura comunista, próxima da daquilo que acontecia nos países de leste e sob influência da União Soviética. Felizmente um grupo de operacionais, comandados por Ramalho Eanes (o povo havia de lhe agradecer com uma dupla eleição para Presidente da República), conseguiu controlar e dominar os revoltosos e fez abortar a intentona sem grande derramamento de sangue.
As conquistas de abril de 1974 estiveram por um fio. Embora nunca o admitisse explicitamente, o PCP esteve por detrás deste frustrado assalto ao poder. Até porque Cunhal acabou por falar em derrota da esquerda revolucionária, uns dias mais tarde.

O que falhou ao PCP foi a coragem (ou a falta dela) de Otelo Saraiva de Carvalho e do presidente da República, Costa Gomes. Otelo foi para casa em vez de assumir o comando do golpe; Costa Gomes lutou por evitar uma guerra civil, o que na prática significou o não apoio às ideias de Cunhal.
Talvez o PCP não tenha percebido logo, mas a 25 de novembro de 1975 perdeu muito mais que um falhado assalto ao poder. Perdeu credibilidade, perdeu a confiança da esmagadora maioria do povo. Aqueles que haviam lutado como nenhuns outros contra a ditadura fascista de Salazar, mostravam ser apenas uns ditadores de sinal contrário. Ora os portugueses queriam liberdade, democracia, pois só isso garantia condições de desenvolvimento.
Quarenta anos depois o PCP chega ao poder, mantendo-se fora do governo. Terão a oportunidade que sempre reclamaram: influenciar políticas, pugnar pelos direitos dos trabalhadores, criar condições para uma maior equidade social. Se não cederem à tentação de impor ideologias, se não forem contra a vontade da maioria da população em matérias como a integração na União Europeia, a Nato, o euro e até a economia de mercado, podem limpar a má imagem que deixaram há quarenta anos. 



Provavelmente, mais de metade da população portuguesa não acredita nisso. Tal como aconteceu com o PCP há quarenta anos, eu gostava que essa imensa maioria que detesta os comunistas estivesse enganada. Como desejo o melhor para o meu país e acho que algumas das reivindicações comunistas têm que ter cabimento orçamental (afinal sempre arranjamos 7 mil milhões de euros para pagar BPN e BES), espero que só voltemos a falar de eleições daqui a quatro anos e nessa altura ninguém tenha dúvidas que o PCP é um parceiro "credível” da democracia portuguesa. São as ditaduras, e não as democracias que se fazem de preconceitos.

Gabriel Vilas Boas

sábado, 10 de janeiro de 2015

GETÚLIO, O FILME


"Saio da vida para entrar na História." Getúlio Vargas

Recentemente vi, já em vídeo, o filme “Getúlio”, sobre a maior figura política do Brasil da primeira parte do século XX – Getúlio Vargas. Revolucionário, chefe de governo, ditador, presidente eleito pelo povo, acabou por se suicidar a 24 de Agosto de 1954, quando decorria uma investigação ao assassínio do jornalista Carlos Lacerda, principal opositor de Getúlio Vargas.
O filme percorre a angústia de Getúlio nos últimos 19 dias da sua vida até decidir suicidar-se, quando se torna evidente, para toda a gente, que fora a sua guarda pessoal a arquitetar a morte do principal rival de Vargas, sem dar disso conhecimento a Getúlio.
Tony Ramos esteve brilhante, como é seu costume, no papel de Getúlio, que me pareceu um individuo cansado, amargurado, um pouco desiludido com aqueles que lhe eram mais próximos.

"Eu sempre desconfiei muito daqueles que nunca me pediram nada. Geralmente os que sentam à mesa sem apetite são os que mais comem."




O filme não é uma biografia de Getúlio, pois todos os anos que o controverso político brasileiro esteve no poder são resumidos pela voz da personagem principal do filme logo no início da película, com uma lucidez arrepiante. Na primeira pessoa, Getúlio refere as diversas fases em que teve o poder na mão, o modo antidemocrático como o manteve, mas também as coisas boas que fez, nomeadamente a criação da Petrobras, o salário mínimo, as férias pagas. Ao longo do filme, ele repisará estas ideias, para que fique bem claro que Getúlio fora um ditador que governou a favor do povo.
No entanto, não é esse o objetivo do filme. Penso que a pretensão do realizador foi mostrar a angústia de Getúlio nos últimos dias de vida, perante a acusação explícita de que seria impossível não ter dado tácito aval ao assassínio do seu principal opositor.


" Metade dos meus homens de governo não é capaz de nada, e a outra metade é capaz de tudo."

Vargas, melhor do que ninguém, sabia que em política o que parece é, mas neste caso o que parecia não era. No meu entender, é essa reabilitação moral inequívoca que o filme procura e que, no meu entender, consegue.
Todavia, penso que o realizador deveria ter ido um pouco mais além do drama psicológico final de Getúlio. A sua vida política rocambolesca incitava a uma abordagem mais histórica e factual da sua ação pública. Ainda que esta já tenha sido abordado em anteriores trabalhos cinematográficos e os brasileiros a conheçam bem, os europeus, como eu, e as jovens gerações brasileiras não têm um domínio tão claro dos factos.



Além do extraordinário desempenho de Tony Ramos, sobressai Drica Moraes, no papel de Alzira Vargas, a filha de Getúlio. Ela é a grande companheira, confidente, amparo do pai. Drica consegue sobressair dos restantes atores, agitando a cena, marcando ritmo, completando e contrapondo a sua personalidade lutadora ao cansaço de Getúlio.
A nível técnico é de realçar a excelente fotografia do filme e a ótima caracterização de atores, que fazem de GETÚLIO, de João Jardim, um bom filme, mas longe de ser excecional. Para ver e para discutir com os amigos que gostam de história do Brasil.

Gabriel Vilas Boas