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quarta-feira, 23 de março de 2016

CASA DOS 24, de Fernando Távora


O edifício conhecido como CASA DOS 24 – mais rigorosamente, o edifício dos Paços do Concelho – situa-se junto à Sé do Porto e foi proposto como um sinal da reconstrução da zona envolvente da Sé que as demolições da década de 40 fizeram desaparecer.
Funcionando como um obstáculo vertical, A CASA DOS 24 reenquadra visualmente a Sé e a sua proximidade física face à catedral portuense permitiu reabrir o debate sobre os limites de intervenção arquitetónica em zonas de grande valor patrimonial.

O projeto de Fernando Távora constitui uma radical inversão dos propósitos “higienistas” que pretendem exponenciar a monumentalidade da Sé, criando uma esplanada que até permaneceu inacabada.
No plano programático, a CASA DOS 24 pretendia criar uma espécie de “memorial recordatório dos longos anos de vida e de História da cidade do Porto”, e por isso três pisos – à cota do Terreiro da Sé, da Rua Sebastião e ainda um intermédio – criam percursos e espaços para contemplar a beleza de uma cidade ímpar.

Não havendo documentos históricos que provem exatamente a conformação do edifício, Távora apoiou-se num documento que refere que este tipo de edifício teria mais de “cem palmos de altura”. No entanto, Távora propõe uma estrutura que evoca a antiga casa-torre. Assim sendo, “uma estrutura de paredes em U, repousando sobre parte da ruína inexistente”, ergue-se conformando três lados da torre.

O quarto lado é realizado com uma parede de vidro, permitindo uma leitura abrangente da cidade e criando uma escala mais amena face à malha urbana envolvente.
Continuando a trabalhar no sentido de recriar com clareza e projeto a matriz histórica dos edifícios ou espaços onde intervém, Fernando Távora pretendeu reintroduzir a relação original da Sé do Porto com a sua envolvente.

Siza Vieira considerou este projeto de Távora como pedra fundadora da intervenção que que ele próprio levou a cabo no início do século XX na chamada “Avenida da Ponte”, onde retomou a ideia consagrada neste edifício emblemático da cidade do Porto.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

FERNANDO TÁVORA


Fernando Távora (1923-2005) foi um dos maiores arquitetos portugueses. Ao longo de várias décadas assinou algumas obras emblemáticas da nossa arquitetura.
                Desde cedo, Távora entendeu a arquitetura como uma expressão cultural enraizada no devir dos povos, um trabalho que traduz a inteligência dos sítios e da atividade humana que os transforma.
Podemos dividir a obra deste famoso aquiteto portuense em dois períodos: num primeiro, que compreende os anos 50 e 60 do século XX, em que evidencia a afirmação dos valores modernos; e num segundo período (anos 80 e 90), em que os valores tradicionais emergem como estruturantes nas suas propostas arquitetónicas.

                A sua intervenção no Convento de Santa Marinha da Costa, em Guimarães, é um projeto crucial no percurso de Fernando Távora. Realizada ao longo de quase uma década (1975-1984), consolida uma metodologia de projeto e permite uma passagem do primeiro para o segundo período da sua obra.
                A Pousada de Santa Marinha da Costa era um edifício cuja génese remota ao século IX e que se foi transformando ao longo do tempo até se fixar como convento no século XVIII. Após um conjunto de adaptações e transformações, sucedeu-se uma fase de degradação, que só terminou quando Fernando Távora projetou a transformação do edifício numa pousada.
                Fernando Távora começou por definir as essências históricas do edifício, projetando-as novamente, acrescentando aquilo que achou necessário. Essa reconstituição essencialista do edifício obrigou a demolir aquilo que era espúrio e a repor aquilo que considerava erradamente arruinado pela história. Para Távora, a sua intervenção no edifício da Pousada de Santa Marinha da Costa não pára nem começa a história daquele edifício, antes constitui apenas mais uma etapa da sua história dum processo e futuro abertos.

                Fernando Távora desenhou para a Pousada vimaranense um corpo novo de quartos, em forma de” L”, que não afeta nem dialoga com a estrutura preexistente.
                Do exterior, podemos observar um plano cuja caixilharia já não remete para qualquer ideia de transparência ou de mobilidade ou de manifesto estrutural, mas para uma racionalidade grave e telúrica duma proposta arquitetónica que se soma à história do edifício.

Gabriel Vilas Boas