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quarta-feira, 28 de março de 2018

QUANDO OS FACTOS SE IMPÕEM AOS PRECONCEITOS



      A maior parte de nós apenas percebe o efeito devastador de um preconceito, quando é alvo dele. É um péssimo momento para reagir ou tomar uma posição de princípio sobre o tema, porque todos perceberão que o fazemos somente porque dele somos vítima.
Se é um mau momento para reagir, é uma ótima altura para entender a matéria de que é feito um preconceito: ignorância, arrogância, considerações altamente subjetivas sobre a realidade e os outros e medo.
Na verdade, o preconceito prolifera quando encontra pasto nas nossas fragilidades pessoais, culturais e afetivas. Desgraçadamente cuidamos mal dos nossos pontos fracos.

O que fazer quando somos alvo de um preconceito?
Recorrer aos factos, à História. O problema é que nos viciámos no veneno da pós verdade, que é como quem diz “a verdade feita à medida dos desejos de cada um”, ou seja, a mentira.
Se os factos são poderosos e nós persistentes, lentamente causarão erosão no preconceito, mas é tudo sempre tão lento e nada parece apagar os efeitos psicológicos de um preconceito mal-intencionado.
Apesar de tudo, acho que vale a pena apostar nos factos, na nossa história, na coerência de uma vida. 
Não desistir de impor a força dos factos é uma atitude que aprecio nas pessoas. Há nela uma deliciosa lição de cidadania e afeto, porque mais do que contribuir para a limpeza da nossa imagem social, estamos a formar consciências e a evitar muitos sofrimentos futuros a outras pessoas.

Quando destruímos um preconceito somos mais livres, emocionalmente mais fortes e culturalmente mais equilibrados.
Esperar que a realidade se imponha por si é mais cómodo e por vezes isso acontece, mas os factos precisam de gente corajosa. Os factos precisam de arautos e defensores atuantes. A quantidade de vezes que os factos se impõem aos preconceitos depende mais da nossa coragem do que imaginamos.
GAVB

domingo, 7 de janeiro de 2018

UMA VIAGEM DE METRO EM CUECAS

O maior adversário não é o frio, mas o constrangimento de quem… observa. 
Hoje, quem viajou de metro, em Lisboa, deparou-se com esta originalidade importada dos EUA: uma viagem de metro sem calças e de cuecas.
O dia anual da viagem de metro em cuecas começou em 2002 nos Estados Unidos e paulatinamente alargou-se a outros países. Hoje foi notícia em Portugal. Entre aqueles que sorriem constrangidos e aqueles que se riem, há também quem não ache piada nenhuma, uma falta de respeito, uma americanice desavergonhada. Estão no seu perfeito direito de se sentirem incomodados e até indignados, como diria Mário Soares.

Eu prefiro olhar o evento com menos rigidez moral, pois aprecio a ousadia de quem não tem medo do ridículo, de chocar sem ofender, de nos pôr a pensar sobre os nossos pré-conceitos. E como a roupa e o corpo estão tão ligados àquilo que pensamos dos outros, mesmo que nunca tenhamos trocado com eles uma simples palavra!


Um aderente português à iniciativa dizia a uma repórter de rádio que aquilo que lhe dava mais gozo era ver a cara das pessoas quando, sem que nada o fizesse prever, começava a desapertar o cinto, desabotoar as calças e descontraidamente baixá-las e retirá-las das pernas. Perceber a estupefação, o incómodo, a indignação ou o sorriso. 
Muitos terão pensado até que ponto seriam capazes de uma ousadia daquelas e outros acabarão este dia a recordar que aquele foi o momento mais colorido do seu dia. Afinal não é o fim do mundo em cuecas, mas «apenas» uma viagem de metro em cuecas.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O PRECONCEITO QUE HÁ EM NÓS

Einstein dizia que era mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito. E quem é vítima de um qualquer preconceito entende perfeitamente este lamento do célebre cientista.
O preconceito é uma espécie de vírus cultural que nasce connosco, fruto do caldo civilizacional em que somos gerados. Ou tratamos de o combater com inteligência ou ele consome-nos a alma em lume brando.
Muitos de nós jamais admitirão qualquer atitude preconceituosa. A sua definição de preconceito é, no entanto, muito curta e não vai além da cor de pele. O problema do preconceito é ser uma doença insidiosa que se instala no nosso disco rígido e muda as configurações com que vemos e avaliamos os outros.
Ele revela-se quando falamos do sotaque do aldeão, quando menosprezamos a ideologia política daqueles que defendem outra visão da sociedade, no modo como ridicularizamos a preferência clubísticas daqueles que se desabituaram de ganhar, no desprezo com que nos referimos a alguém menos letrado ou no riso escarninho com que comentamos o modo de vestir da outra… Os exemplos são variados e abundantes.

Por que somos tão preconceituosos? A principal razão é a ignorância. A nossa pretensa superioridade moral, ética ou cultural resulta da soberba falta de conhecimento das razões que levam os outros a ser diferentes. A isto acresce a arrogância de pensar que somos melhores, só porque somos maioritários ou mais endinheirados ou mais cultos. Toda a maioria como toda a riqueza ou sabedoria é relativa. Verificamos isso quando viajamos, quando as circunstâncias nos colocam “do outro lado” ou então nos apaixonamos por alguém que personifica tudo aquilo criticámos ou ridicularizámos.
O preconceito é um modo cruel de magoarmos o outro. Quando o fazemos reiterada e conscientemente transforma-se em maldade.
Nunca é tarde para abrimos mão dos nossos preconceitos. Observar aquele que é diferente apenas como alguém que é diferente e deixá-lo Ser, à sua maneira, sem o constranger, sem o humilhar.
Assumir a nossa verdade; agir de acordo com os valores da vida, isto é, respeitando a diferença. Não porque é bonito ou nos traz vantagem moral, mas apenas porque a dignidade dos outros é tão importante como a nossa.

Gabriel Vilas Boas

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O ARTISTA É UM FINGIDOR?


Fernando Pessoa escreveu no poema Autopsicografia que o poeta é um fingidor. Todo o escritor precisa de o ser! E também o ator, o pintor, o cineasta… O artista precisa de fingir para criar! A realidade é notícia, é história e, sobretudo, é, muitas vezes, aborrecida.

No entanto, ao contrário do leitor, do espetador, do ouvinte, o artista não pode ser um fingidor amador. Fingir é a sua arte, fingir é a sua profissão e todo o seu encanto está em fazer, por momentos, os outros acreditar na verosimilhança do seu poema, da sua atuação, da sua pintura futurista. Para isso, ele precisa de viver a personagem que criou, de sorver a sua personalidade, de entrar dentro dela e fazê-la caminhar num palco ou numa folha de papel. É ele que lhe dá vida, que lhe empresta personalidade, comportamentos e sentimentos.
Quando o consegue plenamente, será que podemos afirmar que continua a fingir? Quem representa, quem escreve com frequência ou até quem pinta com regularidade e alguma qualidade sabe perfeitamente quão doloroso é o processo criativo. A dor não é nenhum fingimento. O amor, o ódio, a alegria, a revolta, a compaixão, o medo que poeta ou ator expelem das suas personagens foram vividos, muitas vezes sofridos.


É comum os escritores falarem de experiências traumáticas de escrita como é recorrente vários atores falarem com assombro das experiências que viveram (não fingiram viver) ao representar determinada peça.
Claro que essas experiências passam e os atores partem para outra história, como cada um de nós o faz com as diversas experiências por que passa na vida.
Escrever, representar, criar qualquer objeto artístico é tão sério e tão “verdadeiro” como outra coisa qualquer. Ninguém diz de um economista que tem um “jeitinho” para as contas, nem que faz uns cálculos para desenfastiar do aborrecimento da vida; ninguém desdenha da arte de um pasteleiro ou de uma cozinheira como um ócio tolo de quem tem muito tempo para desperdiçar, apesar dos bolos fazerem mal à saúde.
O artista sente a dor que finge, transmutando-se em várias personalidades, num trabalho incansável que alimenta o espírito daqueles que precisam de algo mais do que a intragável mesmice.

gavb    

sábado, 9 de abril de 2016

PRECONCEITO SEXUAL E ATRASO CVILIZACIONAL



Um Papa que pede aos cristãos que aceitem gays e lésbicas; um chefe do Estado-Maior do exército que se demite porque um tenente-coronel que dirige um colégio militar assume que discrimina e exclui alunos homossexuais; uma estrela da música pop que cancela um concerto porque um Estado norte-americano aprova uma lei abjeta que proíbe os transsexuais de frequentarem casas de banho públicas do seu sexo de nascimento – são pequenos sinais de esperança numa mudança que tarda. 

O preconceito sexual é um dos maiores problemas das civilizações modernas. A discriminação pode não estar na lei, mas está nos atos e poucos são aqueles que têm a coragem de romper com o cerco da discriminação e intolerância.

Os atos do Papa Francisco, do general Carlos Jerónimo e do cantor Bruce Springsteen são atos com um profundo significado, pois confrontam grupos tão ortodoxos como o Exército e a Igreja Católica, para quem falar de homossexualidade é como falar do diabo ou de uma doença. Não é! A orientação sexual é um direito inalienável do indivíduo. Ridicularizá-lo, excluí-lo, discriminá-lo é uma arrogância inaceitável e maldosa. No fundo, até a palavra “tolerância” é um abuso sobre o direito das pessoas. Nós não temos de tolerar nem deixar de tolerar. A sexualidade de um gay ou de uma lésbica não é propriedade nossa, sobre a qual dispomos e por magnanimidade aceitamos. Isso é uma arrogância cultural que devemos evitar. Cada um é como é e tem direito a sê-lo.

Claro que há regras de convivência em sociedade, mas ser hétero ou homossexual, como ser branco ou negro, religioso ou ateu não confluem com elas. Todos nós sabemos isto, mas só nos lembramos de o assinalar quando alguém que nos é próximo afetivamente sofre as consequências deste atraso civilizacional que se chama discriminação. 

Obviamente que a discriminação não termina com ações isoladas sejam elas de um Papa ou de um cantor famoso, como não acabou quando inscreveram normas anti discriminatórias nas leis, mas é certo que lentamente o mundo se move como decretou Galileo Galilei perante o tribunal do Santo Ofício e, de vez em quando, “pula e avança como bola colorida nas mãos de uma criança”, acrescentou António Gedeão. Não lhe demos cabo das cores, vestindo às crianças o equipamento do preconceito que lhes rouba a liberdade.

Gabriel Vilas Boas

quinta-feira, 31 de março de 2016

UM HOMEM NA DANÇA



O que é que leva um rapaz de 6 anos a começar a frequentar aulas de ballet clássico?...
A resposta é simples e, ao mesmo tempo, um pouco inusitada.
Um pediatra, dois irmãos pianistas, uns pais com mente aberta e uma boa dose de ingenuidade.
O que é que mantém esse rapaz a frequentar as aulas de ballet clássico durante 15 anos?Uma enorme dose de coragem e de autodeterminação.
Explicando. Corria, então, o ano de 1977 quando numa consulta de rotina, o pediatra disse aos pais que o rapaz precisava de uma atividade física regular, que lhe permitisse desenvolver a massa muscular e estimulasse o desenvolvimento harmonioso do corpo. Por esta altura, os dois irmãos do rapaz eram pianistas acompanhadores de aulas de ballet e lançaram a ideia de o rapaz experimentar uma aula, sendo que era sabido que a dança é uma atividade que além de desenvolver o corpo, trabalha outras áreas nomeadamente a parte intelectual e criativa. 


Os pais, pessoas de mente aberta e sensíveis à arte, não viram nenhum tipo de obstáculo. Em particular, o pai. O rapaz, com a tal boa dose de ingenuidade, também não viu nenhum óbice a experimentar.E assim, foi. Gostou. Rezam as crónicas que demonstrou, até, alguma apetência. E continuou. Só que o que era normal para alguns, para outros ainda estava carregado de preconceito. Um rapaz na dança?... No ballet clássico???... Hummmmm, só pode ser “efeminado”…. É aqui que entra a enorme dose de coragem e de autodeterminação.
Mas porque é que um rapaz no ballet clássico tem de ser um rapaz de tendências femininas?
Uma coisa é a dança, outra é a orientação sexual. Não vamos mais fugir da questão central. Há bailarinos que são homossexuais? Há, com certeza. Tal e qual como há médicos, políticos, futebolistas, engenheiros, etc. homossexuais. A questão é a orientação sexual e não a atividade que se desenvolve. Foi fácil quebrar este preconceito? Não foi. 


Na maior parte das vezes foi mais fácil esconder o que se fazia do que explicar aquilo que o preconceito vigente nas cabeças das pessoas não queria entender. Com algumas histórias engraçadas à mistura, como aquela do colega de turma que tinha uma irmã colega de turma do rapaz no ballet, que passou um ano letivo inteiro a conversar (gozar seria um termo mais adequado…) com o rapaz, sobre o colega que a mana tinha no ballet. “Anda lá desde miúdo. Deve ser maricas de certeza!...” Pois deve, pois deve… Entretanto, o rapaz e a irmã riam-se a bandeiras despregadas com os comentários do irmão preconceituoso. 
Tudo isto termina, quando o mano vai assistir ao espetáculo de final de ano letivo da escola de dança e é confrontado com a foto do colega no escaparate em que se podiam ver os alunos mais avançados e que iam dançar as coreografias mais importantes. O choque não podia ser maior. A lição, sim. Valha em bom rigor dizer que além de um pedido de desculpas, veio um ato de contrição assumindo que tinha recebido a maior das lições acerca de julgamento de pessoas, com base no preconceito. 

Certamente já desconfia que esta é uma crónica autobiográfica. Acertou em cheio. Embora as coisas já se tenham alterado muito substancialmente, ainda há um caminho a percorrer, nomeadamente no que diz respeito ao ballet clássico. Pela minha parte, só posso agradecer-lhe o muito que me deu enquanto pessoa e enquanto Homem. Valores como o rigor, a disciplina, a sensibilidade, a criatividade e a perseverança, foram-me incutidos na dança e desde sempre têm norteado a minha vida. Já para não falar das amizades de e para a vida, que ficaram até aos dias de hoje e ficarão para sempre.

Por isso, aceite um conselho. Dance, Sem medo, sem preconceito, sem entraves mentais absolutamente ultrapassados e que mais não fazem do que tolher-nos e impedir-nos de desfrutar a vida naquilo que ela tem de melhor. Dance!!!  
Paulo Santos Silva

domingo, 16 de novembro de 2014

SER MÃE SOLTEIRA


Sempre achei que ser pai ou mãe era das coisas mais extraordinárias que um ser humano podia experimentar, pois  gerar um ser humano assemelha-nos a pequenos deuses. Com o tempo, percebi que ser mãe é estar um grau acima deste estádio de felicidade plena. Para algumas mulheres, trata-se duma sensação e dum sentimento tão únicos e maravilhosos que as palavras são seres demasiado pobres para os descrever.  
Quem percebe a magia de ser mãe entende, sem dificuldade, que algumas mulheres decidam ser mães, ainda que os pais dos seus filhos se  recusem a cumprir o seu papel.


Admiro muito as mães solteiras! Na maioria dos casos, esse facto é mais fruto das circunstâncias do que duma opção inicial e deliberada das mulheres. Aprecio a força interior que essas mulheres revelam ao lutar contra a tristeza, a desilusão, a angústia que o momento do abandono dos companheiros traz.
Enfrentar uma gravidez nunca é fácil, enfrentá-la sozinha é sempre difícil. A gravidez é um momento psicológico e físico delicado quer para a mãe quer para o bebé, por isso é de louvar aquelas mulheres que decidem trilhar esse caminho apenas com o conforto dum ser que se mexe dentro delas.
A decisão de ser mãe solteira traz óbvias implicações em todas as pessoas que rodeiam a mulher. Todos parecem ter opinião sobre uma decisão que apenas cabe àquela mulher tomar e, quando tomada, muitos continuam a querer discuti-la, emitindo juízos de valor moral indecentes sobre algo que não lhes diz respeito. Isto acontece no trabalho, entre as amigas, no seio da família. Por mais que queira, uma mulher não é imune a toda esta avalanche opinativa, que não raras vezes se torna em julgador feroz e ameaçador. Contra isso, a mulher tem apenas a fé inabalável da sua decisão e o abraço dum coração que bate junto ao seu.


Depois de enfrentar o monstro do preconceito, a mãe solteira enfrentará os Trabalhos de Hércules dos primeiros meses de vida do seu rebento.
Todos os casais costumam salientar as noites mal dormidas, os cansativos trabalhos com fraldas e biberões, a falta de tempo para estarem um com o outro… A mãe solteira tem o trabalho dos dois e sobrevive. Não tem é o tempo nem o dinheiro que um casal dispõe para enfrentar os encargos com o nascimento duma criança.
A questão económica assume, por vezes, contornos dramáticos, pois na esmagadora maioria dos casos, o pai não contribui com nenhum dinheiro para o sustento da criança. Além disso, ter que tomar conta dum filho diminui drasticamente o tempo disponível para trabalhar. O certo é que muitas mães solteiras fazem verdadeiros milagres todos os meses para sustentar os seus filhos, garantindo-lhes também roupa, brinquedos, livros, consultas no médico….

Podíamos dizer que são pessoas excecionais, mães de ouro, um impressivo exemplo de amor, mas isso melhoraria muito pouco a sua situação. Melhorar a sua situação é começar por fazer uma coisa muito simples: RESPEITAR a sua decisão. O valor da maternidade é um valor tão cheio de amor e generosidade que quem decide abraçá-lo jamais pode merecer censura. Depois podemos e devemos APOIAR a mãe. Há uma imensidão de pequenas e grandes coisas que podemos fazer para ajudar uma mãe solteira. Nenhuma delas custa dinheiro e todas são duma grande utilidade.

Quando um dia destes nos depararmos com uma mãe solteira era bom que nos lembrássemos que aquela mulher tomou a mesma decisão que a nossa mãe tomou quando decidiu que havíamos de nascer. Aí, talvez percebamos bem aquilo que o Papa Francisco disse há uns meses: “Não existem mães solteiras, existem mães. Porque mãe não é um estado civil.”    
Gabriel Vilas Boas