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domingo, 20 de março de 2016

HARAM AL-SHARIF - Qual é o teu Deus?


O Haram al-Sharif, ou Esplanada das Mesquitas, é o santuário muçulmano que faz de Jerusalém a terceira cidade santa do islão, depois de Meca e Medina. No entanto, este santuário foi construído sobre as ruínas do templo judaico que albergava as Tábuas da Lei. Do muro ocidental do templo restam apenas vestígios, e o Muro das Lamentações é um deles.
Este local sagrado, tanto para os Judeus como para os Muçulmanos, ilustra as dificuldades de resolução do conflito israelo-palestiniano. Em julho de 2000, as negociações de Campo David II com vista a um acordo de paz, sob tutela dos Estados Unidos, esbarraram logo na questão do estatuto de Jerusalém em geral, e de Haram al-Sharif em particular.

O presidente americano, Bill Clinton, propunha que se desse aos Palestinianos a soberania sobre os bairros cristão e muçulmano, incluindo a esplanada, e que Israel mantivesse a soberania do solo. A delegação palestiniana considerou que esta soberania era perfeitamente ilegítima.
Nos últimos dezasseis anos aprofundaram-se os ódios e a paz voou para bem longe de Jerusalém e do espírito de “responsáveis” dos dois lados.
Tenho muita dificuldade em entender o ódio, o sentido de posse material, a guerra e a o desejo de destruição quando falamos em religião. Qualquer que ela seja! Claro que há o passado, que há a mágoa, a dor e muitas mortes a atrapalhar um futuro que se pretende pacífico, mas o Homem, o Homem crente não pode fugir das balizas que o norteiam: Amor, Paz, Respeito, Compreensão, Perdão, Partilha. Para que serve uma religião se estes valores não triunfam nas nossas ações quotidianas? Que legado deixamos às próximas gerações de crentes?
Não somos responsáveis pelo passado nem temos de assumir ódios que não brotaram das nossas vontades ou ações, mas somos completamente responsáveis pelo presente de incompreensão que vivemos e pelo futuro de desentendimento que ajudamos a solidificar.
Afinal de contas, qual é o nosso verdadeiro Deus: a Paz e o Amor ou a guerra e o ódio?

Gabriel Vilas Boas  

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O PROFETA MAOMÉ DESPEDE-SE, 632


O profeta Maomé concluiu a sua vida com uma peregrinação a Meca, dez anos após se mudar para Medina (o acontecimento chama-se Hijra) e daí o 10 AH no calendário islâmico. Assim se iniciou a prática da peregrinação (Hjj) a Meca, que os muçulmanos, onde quer que residam devem tentar fazer, pelo menos uma vez na vida.
Durante a peregrinação, na qual foi acompanhado por dezenas de milhares de apoiantes, pregou o seu último sermão e completou o livro islâmico das revelações, o Alcorão. No relato do islão xiita, diz-se igualmente que Maomé escolheu o seu primo e genro, Ali, para sucessor. Esta afirmação, no entanto, não é corroborada pelos sunitas e esta questão dividiu sempre sunitas e xiitas. Os sunitas seguem uma liderança que remonta a Abu Bakr, grande companheiro de Maomé e primeiro califa.

O próprio texto do sermão é motivo de disputa e existem diversas versões. A versão xiita é duas vezes mais longa que a sunita, mas é desta que reproduzo algumas passagens onde Maomé deixa uma espécie de mapa de orientação para os seus correlegionários, focando temas muito concretos como a prática da relação com Alá, a relação entre homens e mulheres (onde o respeito e amor deviam ser fundamentais) e até a relação com outros povos, credos e raças. Um texto muito interessante.
«Oh povo, assim como considerais sagrado este mês, este dia, esta cidade, considerai sagrada a vida e os bens de todos os muçulmanos. Devolvei os bens que vos foram confiados aos seus legítimos proprietários. Não magoeis ninguém para que ninguém vos magoe. Lembrai-vos que ireis encontrar o vosso Senhor e que Ele avaliará os vossos atos. Deus proíbe-vos de praticar usura; portanto, todos os encargos com os juros deverão ser abandonados doravante.
(…)
Oh Povo, é verdade que tendes certos direitos em relação às vossas mulheres, mas também é verdade que elas também têm direitos em relação a vós. Lembrai-vos que as haveis recebidos como vossas esposas com a confiança de Deus e a sua autorização. Se elas agirem de acordo com os vossos direitos, então têm o direito de ser alimentadas e vestidas. Tratai bem as vossas mulheres e sede amáveis para com elas porque elas são as vossas parceiras e ajudantes empenhadas. (...)
Toda a humanidade descende de Adão e Eva, um árabe não é superior a um não-árabe e um não-árabe não é superior a um árabe; também um branco não é superior a um negro nem um negro superior a um branco, exceto pela devoção e pelas boas ações. Sabei que todos os muçulmanos são irmãos e que os muçulmanos constituem uma irmandade. Nada é legítimo para um muçulmano que pertence a outro muçulmano, a menos que tenha sido dado livremente e de boa vontade. Portanto não vos injusticeis.»

O Sermão da Despedida de Maomé, 632

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O VÉU ISLÂMICO



Quarenta e oito horas após os atentados de Paris, a Europa vai ganhando consciência do pesado simbolismo destes tristes acontecimentos. As mortes dos jornalistas do “Charlie Hebdo” trazem novamente à ribalta um problema por resolver e de que França será sempre o palco: a intolerância civilizacional. Há uns anos Sarkozy lançou o debate com a polémica proibição do véu islâmico, mas a sociedade francesa não apoiou cabalmente o seu presidente e o debate essencial ficou, no essencial, por fazer.
O aparecimento do Estado islâmico, durante 2014, aprofundou a deriva terrorista dos radicais islâmicos, perante o lamentável silêncio dos principais líderes mundiais do Islão, que preferiram (preferem?) esperar para ver. Os americanos reagiram tarde por causa dos seus homens, a Europa lamentou e foi só. Agora a França sangra onde mais lhe dói: a liberdade de imprensa e de expressão.


Se há coisa onde os franceses não transigem é no valor da liberdade. Não há interesse económico que os faça engolir sapos vivos e ainda bem que assim é. A liberdade de imprensa é um pilar fundamental dessa liberdade, não havendo cláusulas de exceção. O “Charlie Hebdo” era a expressão radical dum jornalismo ousado, polémico, provocador e… livre, por isso os franceses nunca hesitaram em defendê-lo. Firmes na sua convicção, os franceses arrastaram o resto da Europa onde a palavra tolerância não é apenas uma ideia bonita.
Fiéis aos seus valores fundamentais, os franceses não reclamam vingança e continuam a acolher aqueles que não aceitam a diferença. No entanto, essa generosidade não foi suficiente. Evocando a defesa da honra de Alá, um bando de radicais islâmicos assassinou o coração da liberdade, mostrando o lado negro duma fação do Islamismo. Podemos afirmar convictamente que o Islão “não é aquilo”, mas a verdade é que também é aquilo.

Aqueles homens mostraram que há uma fação do mundo islâmico que revela um profundo desrespeito pela vida humana. Lamento muito que os mais importantes líderes islâmicos não tenham percebido que nada faz pior à religião do profeta Maomé do que atos como os ocorridos em Paris. Como muito bem notou José Saramago, “Matar em nome de Deus é converter Deus num assassino.”


Os atentados de 7 de janeiro, em Paris são um desafio civilizacional enorme quer ao mundo islâmico quer à cultura europeia de tolerância e liberdade de expressão.
A tarefa dos Xeiques não é nada fácil: ensinar a tolerância num meio duma cultura intolerante, sob pena de tornar o islamismo uma religião odiada por milhares de pessoas, tal a sua permanente ligação a casos como o de Paris. Os chefes religiosos islâmicos precisam de fazer algo objetivo e claro, porque não fazer nada, não dizer nada é uma resposta errada, perante a urgência do momento.
A França tem de vencer o medo, despir a raiva da alma e afastar os ímpetos de vingança indiscriminada sobre tudo o que usa véu. E tem ainda um trabalho de Hércules para fazer: fazer-se respeitar, fazendo respeitar a sua cultura.
Mais importante do que converter um radical é não deixar que um extremista nos radicalize! 


  Gabriel Vilas Boas