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sábado, 31 de março de 2018

TORRE EIFFEL - A DAMA DE FERRO FAZ ANOS

Há 129 anos, os parisienses encheram-se de orgulho com a inauguração de um dos mais emblemáticos monumentos do planeta – a Torre Eiffel.
Atualmente recebe mais de sete milhões de visitantes e na altura em que foi inaugurada passou a ser o monumento mais alto do mundo, com os seus imponentes 300 metros (mais 24 se contarmos a imponente antena de rádio).


Neste ícone parisiense, francês e ocidental tudo é admirável e em tamanho XXL: começou em pouco mais de sete mil toneladas e hoje já chega às dez mil. Para isso muito contribuíram os vários upgrades que lhe juntaram ao longo do último século: museu, restaurantes, lojas, milhares de turistas a todas as horas…
Hoje ir a Paris e não subir à Torre Eiffel é como ir a Roma e não ver o Papa. O verdadeiro check-in do turista, em Paris,  faz-se na Torre do senhor Gustave.

E pensar que tudo isto começou por ser um arco de entrada na Exposição Universal de Paris de 1889, ela própria uma homenagem ao centenário da Revolução Francesa.

sexta-feira, 30 de março de 2018

O QUE TORNA UMA COISA INÚTIL OU VALIOSA?



         As coisas fazem sentido quando as usamos. É o uso que lhes damos e a função que desempenham nas nossas vidas que as tornam  importantes e belas.

         Como podemos apreciar a beleza de um objeto que guardamos ciosamente num armário, porque foi muito caro ou é demasiado bom para o uso diário? Não podemos. Com o tempo (e não é preciso muito…) esquecemos a sua beleza, além de nunca termos experimentado a sua utilidade.
         A grande beleza das coisas é estarem onde são necessárias. Infelizmente, temos arrecadações e armários cheios de coisas tão valiosas quanto inúteis.

        
Como nos recusamos a praticar o desapego, acumulamos muitas coisas que não nos servem nem servirão para nada, mas podiam ser úteis e belas para outros.
         Para serem úteis as coisas devem estar no seu devido lugar e na quantidade certa. Tomemos como exemplo uns simples grãos de arroz ou um pouco de água mineral. Se uns grãos de arroz ficarem no fundo de uma tigela e a água no fundo da garrafa, temos vontade de os comer e de a beber; no entanto, se esses mesmos grãos de arroz estiverem num lava-loiças e a água num recipiente qualquer, a impressão de sujidade é automática e ninguém terá vontade de os comer e de a beber.

Algo de semelhante acontece com centenas de coisas que atafulham as nossas casas, as nossas vidas e até a sociedade em geral.
O primeiro passo a dar é ganhar consciência daquilo que já não nos é útil e depois termos a coragem de nos desapegar dessas coisas e fazê-las úteis noutro local, com outras pessoas.
Escolher as coisas (as que deitamos fora e aquelas com que ficamos) implica tomarmos consciência do seu valor e utilidade para nós.
Redefinirmo-nos a nós mesmos começa… pelas gavetas!
Gabriel

quinta-feira, 29 de março de 2018

AFONSO II, UM LEGISLADOR HUMANISTA





Afonso II (1185-1223) é um dos reis mais injustiçados e esquecidos da História de Portugal. O neto de D. Afonso Henriques foi um legislador e um humanista num tempo de conquistadores e guerreiros e talvez por isso muito poucos portugueses o valorizem como ele merece.




O filho de D. Sancho I foi um legislador clarividente. Na área do direito civil estipulou que os casamentos deviam ser livres, ou seja, fora de qualquer coação. É também dele a renúncia a um poder real absoluto e irrefletido, nomeadamente na área da justiça. A lei que ficou conhecida como Ira Régia estabelecia que já não bastava a simples vontade régia para executar uma sentença de morte ou mutilação, porque Afonso II criou uma espécie de prazo-travão de vinte dias, em que a sentença ficava em suspenso, para que a fúria do momento não toldasse a justiça de uma decisão tão importante.

O cuidado com os mais fracos e desprotegidos é uma marca indelével do seu curto reinado. Um exemplo disto é uma lei aprovada nas cortes de Coimbra, que contrariava o costume dos alcaides em lançar um imposto sobre quem vendia alimentos. O rei achava que isso prejudicava os mais pobres e tratou de acabar legalmente com essa mordomia injustificada.

A atenção aos desvalidos e o respeito pela dignidade humana marcam o seu reinado, sobretudo, porque teve o mérito de ir colocando em forma de lei algumas das suas ideias.
Obviamente que este modo de governar não agradava aos mais poderosos, ou seja, nobres e clérigos, mas Afonso II tinha uma característica pouco comum: bondoso com os fracos, duro com os poderosos.  Muitas das terras em posse dos nobres voltaram para a coroa e até as suas irmãs não escaparam à determinação do monarca em fortalecer o poder régio.

A luta com as insubordinadas infantas foi duríssima e Afonso II ganhou inimigos quer entre a nobreza quer entre o clero. Um exemplo disso foi o bispo de Braga, que o excomungou e influenciou a decisão papal de interditar Portugal, ou seja, no país estavam proibidas as celebrações religiosas. Por isso, quando morreu, leproso, em 1223, Afonso II sofreu a humilhação de não ter direito a uma sepultura cristã. Essa desonra viria a ser sanada mais tarde e os restos mortais do terceiro rei de Portugal repousam no Mosteiro de Alcobaça.

Infelizmente, a História de Portugal lembra este rei como um comilão ou realça a sua terrível doença, mas Afonso II foi muito mais que um rei gordo que acabou leproso, Afonso II lançou as bases dos direitos humanos em Portugal, protegeu os mais pobres e afrontou corajosamente os poderosos.
GAVB

quarta-feira, 28 de março de 2018

QUANDO OS FACTOS SE IMPÕEM AOS PRECONCEITOS



      A maior parte de nós apenas percebe o efeito devastador de um preconceito, quando é alvo dele. É um péssimo momento para reagir ou tomar uma posição de princípio sobre o tema, porque todos perceberão que o fazemos somente porque dele somos vítima.
Se é um mau momento para reagir, é uma ótima altura para entender a matéria de que é feito um preconceito: ignorância, arrogância, considerações altamente subjetivas sobre a realidade e os outros e medo.
Na verdade, o preconceito prolifera quando encontra pasto nas nossas fragilidades pessoais, culturais e afetivas. Desgraçadamente cuidamos mal dos nossos pontos fracos.

O que fazer quando somos alvo de um preconceito?
Recorrer aos factos, à História. O problema é que nos viciámos no veneno da pós verdade, que é como quem diz “a verdade feita à medida dos desejos de cada um”, ou seja, a mentira.
Se os factos são poderosos e nós persistentes, lentamente causarão erosão no preconceito, mas é tudo sempre tão lento e nada parece apagar os efeitos psicológicos de um preconceito mal-intencionado.
Apesar de tudo, acho que vale a pena apostar nos factos, na nossa história, na coerência de uma vida. 
Não desistir de impor a força dos factos é uma atitude que aprecio nas pessoas. Há nela uma deliciosa lição de cidadania e afeto, porque mais do que contribuir para a limpeza da nossa imagem social, estamos a formar consciências e a evitar muitos sofrimentos futuros a outras pessoas.

Quando destruímos um preconceito somos mais livres, emocionalmente mais fortes e culturalmente mais equilibrados.
Esperar que a realidade se imponha por si é mais cómodo e por vezes isso acontece, mas os factos precisam de gente corajosa. Os factos precisam de arautos e defensores atuantes. A quantidade de vezes que os factos se impõem aos preconceitos depende mais da nossa coragem do que imaginamos.
GAVB

segunda-feira, 26 de março de 2018

JÁ POSSO FALAR?!



Ricardo já tinha repetido aquele pedido desesperado e impaciente três vezes, mas a mãe não lhe dava a palavra. Furiosamente continuava debitar as acusações de sempre sobre as notas escolares, que nunca a satisfaziam.
O filho tentou interrompê-la, porque tinha várias coisas a dizer em sua defesa, além de já estar cansado daquela saraivada de acusações, a que já perdera a conta. No entanto, acabou por desistir de tentar ser ouvido. Esperou que o cansaço derrotasse aquela fúria, engoliu em seco o inevitável «Ouviste bem o que estou a dizer?!» e disse com calma:

- Mãe, eu estive atento nas aulas, estudei e até melhorei as notas em relação ao período passado, mas tu nunca estás satisfeita!
   Ficou surpreendida, mas disparou à mesma a resposta formatada que tinha pensado.
 -Não quero saber! Tens de tirar melhores notas. Tens capacidades para mais! Esforça-te mais!
  Ricardo desistiu de ripostar, de a tentar convencer das suas razões, porque a mãe, simplesmente, não o ouvia. Que lhe adiantava falar se ela não o ouvia?!
        
No dia seguinte seria diferente… ia ter com o pai. Como a relação deles mudara! Agora conversavam. Falavam de tudo um pouco e sentia-se ouvido e confiante.
         A mudança ocorrera, no final do período passado, quando o pai também lhe viera com a conversa das notas, durante um jantar. Criticava-o enquanto mandava uns sms urgentes (não são todos?) e dava uns likes nas fotos dumas amigas do facebook.

Aquilo irritou-o profundamente. Achou uma grandessíssima falta de respeito e resolveu pôr o pai na ordem.
- Importas-te de desligar o telemóvel e ouvir o que tenho para te dizer?!
Sacudido por aquela bofetada de luva branca, o pai sorriu sem graça e, envergonhado, desligou o telemóvel. Ricardo aproveitou para lhe dizer quanto o magoava que durante os almoços que tomavam juntos o pai estivesse sempre atento ao telemóvel, o que fazia que não prestasse qualquer atenção ao que o filho dizia. Por isso esquecia-se com frequência dos seus pedidos, dos seus argumentos e até do que haviam combinado.

Ricardo explicou ao pai que se esforçava na escola, tendo subido sempre as suas notas, mas que tinha as suas limitações, que nem sempre conseguia vencer. Além do mais, para ele, o mais importante era perceber aquilo que lhe ensinavam e a sua utilidade prática e não se tirava um cinco ou um quatro.
Pela primeira vez em anos, o pai ouviu-o com atenção. Estava comovido com a lição que o filho lhe dera. Os dois tomaram, em conjunto, algumas resoluções. A partir dali, os telemóveis seriam banidos durante os almoços e o tema das notas só entraria na conversa se o Ricardo o invocasse.

A relação entre pai e filho melhorou imenso. Falavam muitas vezes durante o dia; trocavam confidências e passaram a confiar um no outro. De vez em quando, Ricardo provocava o pai:
- Não queres saber que nota tirei a Geografia?
O pai costumava retorquir-lhe com aquele
- Diz-me antes o que aprendeste nas últimas duas semanas?
E a conversa fluía normalmente. O pai aprendera a olhá-lo nos olhos, a ouvi-lo, a querer saber dele para além das notas. No entanto, era ao pai que ele contava em primeiro lugar as notas que tirava. Fazia-o com gosto e responsabilidade, mas também com reconhecimento.

Há meses que Ricardo deixara de discutir com o pai. Nunca mais tivera necessidade de lhe dizer «Já posso falar?!», porque podia mesmo falar e, sobretudo, ser ouvido.

Os filhos não ouvem, falam! Nós é que os temos de ouvir. Olhá-los nos olhos e perceber o que está para além de uma nota, um mau comportamento, uma desatenção permanente. 
O que conta para eles é o exemplo.
Os filhos são um grande teste à nossa capacidade de amar, porque o amor também exige inteligência e humildade.

Gabriel

domingo, 25 de março de 2018

ARETHA Soul FRANKLIN



ARETHA FRANKLIN (1942 - ) nasceu para ser uma estrela,  uma predestinada da voz, que conquistou a América antes de seduzir o resto do planeta, com uma voz cheia de paixão, força e alma… ou não fosse ela a rainha da soul.

Hoje a rainha faz anos. Também por causa dela, os negros e as mulheres foram conquistando aquele RESPECT que devia ser natural e automático, mas infelizmente tem de ser uma conquista de todos os dias.

Mais de 75 milhões de discos vendidos, vários Grammy arrecadados, uma estrela no Passeio da Fama, em Hollywood, antes de chegar aos quarenta são sinais bem evidentes da sua grandeza e fama.

Há mais de trinta anos (1985), o Michigan declarou-a um Recurso Natural do estado e vinte anos mais tarde (2005) o Presidente dos EUA condecorou-a com a Medalha da Liberdade.
É possível que Aretha não sonhasse com tanto; talvez até preferisse não ser ícone de nenhuma libertação negra ou feminina e apenas gostasse que a amassemos por causa da sua voz e da sua música, mas todos nós somos também a nossa Circunstância. E a circunstância de Aretha fê-la bem mais relevante do que ela supôs.

A música (como quase toda a arte) tem este condão extraordinário de nos tornar livres, iguais, sensíveis e, muitas vezes, ser pensantes e com valores. Talvez porque dela brota essa soul, onde Aretha soube ser uma rainha sem fronteiras, mas com muitos súbditos.
GAVB

sexta-feira, 23 de março de 2018

A ILHA DO LIXO PLÁSTICO JÁ PARECE UM CONTINENTE




Algures no Oceano Pacífico, entre o Havai e a Califórnia, os ambientalistas vão encontrando um cenário de horror que supera as suas expectativas mais catastróficas – uma gigantesca ilha de lixo, maioritariamente plástico está depositado no mar e ameaça seriamente a cadeia alimentar de várias espécies de peixes.
Os números obtidos são tão avassaladores que me coloco duas questões: como foi possível enviar tão plástico para o mar? que consequências sombrias ainda estão por apurar?

Se entendesse o lixo encontrado no Pacífico em terra ocuparíamos o equivalente a 18 vezes Portugal. Pensem em algo como Portugal, Espanha, França, Alemanha e Inglaterra completamente coberto de lixo plástico.
O que está a ser retirado do fundo do mar provém de países poderosos como os EUA e a China e devia revoltar-nos tanto como um qualquer atentado do ISIS ou uma violação de privacidade por parte do Facebook, ao serviço de uma qualquer estratégia de poder ou contrapoder.

O lixo encontrado até agora daria para encher é tanto que daria para encher 500 aviões Jumbo. Reparem que estamos a falar de pequenas peças de plástico, que podem ser amassadas, acomodadas, mas não deglutidas por peixe, nem desaparecem na água salgada. Para quem gosta de medidas radicais, ao bom estilo de Putin ou Trump, talvez não fosse despropositado enchermos alguns desses aviões e devolvermos alguma da matéria encontrada no Pacífico aos seus legítimos donos.
A verdade e a vergonha do lixo de plástico são como o azeite – vêm sempre à tona. Só que esta verdade é tão grande e tão nociva que até era bom que fosse mentira.
GAVB

quinta-feira, 22 de março de 2018

O SEGREDO DO MODELO DE EDUCAÇÃO FINLANDÊS SÃO OS PROFESSORES



Quem o diz não é nenhum professor, mas a ministra da Educação finlandesa, Sanni Grahn-Laasonen. 
É reconfortante ouvir isto de um político, onde a Educação nacional é um motivo de orgulho e um exemplo a seguir.
Sim, lá os professores são respeitados pela sociedade e pela classe política, que lhes reconhecem competência técnica, humana e cultural para construir o futuro das novas gerações. No entanto, é bom realçar que este respeito foi tão merecido como conquistado. O governo não atrapalha com teorias e mais teorias sobre educação e os professores colaboraram não emperrando o sistema, com mais um «mas», um «no meu tempo é que era» ou o inevitável «não há condições», para não referir «a culpa é dos alunos que não estudam» ou dos «pais que não lhe dão educação».

A ministra finlandesa deixa claro que o governo não controla a Escola com testes padronizados, porque sabe perfeitamente que os seus professores estão motivados e atualizados. Confia neles, porque sabem que escolhem os melhores métodos e estão habituados a trabalhar em equipa.
Na Finlândia os professores têm consciência que o mundo muda rapidamente e que têm de ser eles os primeiros a adaptar-se a essa mudança, trazendo para a escola e para o seu método essas mudanças, em vez de as combater. Talvez por isso os professores finlandeses tenham enraizados a cultura da cooperação entre professores das diferentes disciplinas.


«Colocamos um acontecimento no centro e depois analisamo-lo através de diferentes perspectivas e disciplinas.»

Ora isto obriga a fazer e refazer aulas constantemente e, sobretudo, torna imperativo que os professores trabalhem em conjunto, expondo virtudes e defeitos da sua forma de ensinar e atuar.
Há um trabalho a fazer entre os professores em Portugal. Formação e adequação às transformações tecnológicas, sociais e comportamentais. A autonomia é muito interessante quando sabemos o que queremos fazer com ela e há consenso sobre o modo de atuar. Este é um trabalho que os professores portugueses têm de fazer e concluir.

Outro fator importante é retirar a educação da discussão política. Perdemos imenso tempo a discutir o diploma X, a lei Y, o pormenor K; continuamos a olhar para a Escola com olhos de censor. Gostamos de falar de respeito e valorização do papel do professor e não nos respeitamos uns aos outros, considerando umas disciplinas mais importantes do que outras, como se tem provado no caso da nota de Educação Física ou das disciplinas não obrigatórias. 


Se uma disciplina tem importância para figurar no curriculum, então não pode ser uma disciplina de segunda; se um aluno acha importante determinada disciplina e nela se inscreve é porque a acha relevante na sua formação. Por que razão o contrariamos e a retiramos da contagem para a média do aluno?
Respeitar o papel do professor é respeitar o direito do aluno e das suas famílias a uma educação que saiba acompanhar a evolução dos tempos ao mesmo tempo que honra a história e os valores fundamentais em que nos revemos.
GAVB

quarta-feira, 21 de março de 2018

PORTUGAL ASSUMIU A PARÓDIA COMO FORMA DE VIDA




Ricardo Araújo Pereira costuma dizer que fazer humor em Portugal está cada vez mais difícil, porque a realidade é um concorrente feroz. É difícil não começar por rir (e acabar a chorar) com os últimos anúncios excêntricos do mundo social, político e desportivo, em Portugal.


Os alunos da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra lembraram-se de convidar José Sócrates para perorar sobre o "Projeto Europeu depois da crise Económica”. O homem que escavacou a economia portuguesa em meia dúzia de anos, que nos obrigou ao humilhante e penoso pedido de ajuda à Troika; o político sobre o qual impende várias acusações de corrupção no exercício de funções, é convidado para falar sobre a “estratégia que desenvolveu para sair da crise”, pois "ela deve ser transmitida aos estudantes”, disseram, sem rir, os organizadores. 
Uns pândegos estes estudantes de Economia de Coimbra! Se o objetivo era chamar a atenção para o ciclo de conferências, conseguiram, mas talvez devessem convidar Sócrates para falar sobre a estratégia como destruir um país em tão pouco tempo ou como acumular tantas acusações de corrupção, tráfico de influências e branqueamento em tão curto governo. 


O mais engraçado é que Sócrates, qual mitómano, está convencido que não faz parte de uma paródia e que os alunos de Coimbra não o convidaram para se divertirem um pouco com o delirante ego e probidade do ex. primeiro-ministro.

Poucas semanas antes, outro ex. primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, foi convidado para dar aulas em várias universidades privadas. Sem pestanejar aceitou de imediato assim como a sua equiparação a professor catedrático. Logo ele que nunca deu uma aula que fosse e que aconselhou os professores a emigrar, dado que não havia trabalho para eles, em Portugal. O homem que acabou a licenciatura aos quarenta anos acha-se perfeitamente capaz de dar aulas em três faculdades, com a competência de um catedrático. Na estética do ridículo, Sócrates começa a ter concorrente.


Num registo menos burlesco, mas muito mais provocador, o líder dos super-dragões, Fernando Madureira, acaba de ser convidado para dar uma palestra sobre “Prevenção da Violência Nos Grupos Organizados de Adeptos”, vulgo Claques de Futebol.

Ora, Madureira percebe imenso de violência, mas na vertente oposta: como aterrorizar adeptos adversários, como entrar nas áreas de serviço, consumir e não pagar, como levar a sua claque a entoar cânticos de ódio aos clubes rivais, como lançar o pandemónio em viagens de avião para o estrangeiro, onde colegas seus foram expulsos do avião depois de terem roubado outros passageiros e importunado as hospedeiras. Mas não, Madureira vai falar sobre ética.

O espaço público português está uma paródia assumida, em que determinadas figuras, com relevo na sociedade, assumem um papel tão bizarro e parodiante que nos faz sentir, a todos, figurantes de uma ópera bufa.
GAVB

segunda-feira, 19 de março de 2018

AMOR É A COMBINAÇÃO PERFEITA DE SENTIMENTO, VONTADE E INTELIGÊNCIA



O renomado psiquiatra espanhol Enrique Rojas costuma afirmar que o “o grande erro do século XX foi acharmos que o amor era só um sentimento, que vai e vem, quando na realidade é um ato de vontade e inteligência”. De facto tendemos a negligenciar o papel da inteligência na construção da nossa felicidade.

É verdade que o amor não se aprende nos livros, nem há uma fórmula científica que o tenha capturado, mas quase todas as histórias de falhanços amorosos têm uma explicação bem racional.


A vontade e a inteligência têm um papel fundamental na oxigenação do sentimento amoroso. A maneira como gerimos conflitos ou como encaramos os inevitáveis problemas que as diferenças de personalidade trazem é um exercício de inteligência.
Muitos casais queixam-se da monotonia em que as suas relações caíram, achando que a culpado foi o enfraquecimento do sentimento, quando o problema esteve na ausência de vontade. É a inteligência que estimula a vontade, permitindo que os sentimentos ganhem as tonalidades de um arco-íris.
É óbvio que o sentimento pode desaparecer, invalidando todas as tentativas inteligentes que a nossa vontade possa ter, mas essa é uma resposta normalmente preguiçosa de quem faz pouco esforço.

Ter metas e objetivos a nível afetivo é um bom princípio para quem não gosta de deixar o seu futuro emocional nas mãos do acaso. 
Por exemplo, resolver um problema com o companheiro é uma meta tangível. Aprender a perdoar, não transformar problemas em drama ou deixar-se de constantes queixas e remoques podem constituir objetivos de um dos membros do casal ou até dos dois.
Trazer a inteligência para o mundo dos afetos não é mecanizar o coração nem racionalizar sentimentos, mas antes rentabilizá-los, otimizá-los e transformá-los em algo mais sólido e duradoiro.
GAVB

domingo, 18 de março de 2018

DEIXEI UM AMIGO NA ARRECADAÇÃO



A arrecadação é aquele lugar lúgubre e enfadonho onde despejamos toda a tralha (outrora objetos valiosos, úteis e adorados), de que já não precisamos ou deixamos de gostar e cujo destino final será o lixo. Só pudor ou uma certa nostalgia de alegres momentos passados nos impedem de os mandar definitivamente para o caixote sem retorno.
Quando deixamos alguma caixa na arrecadação sabemos perfeitamente que as hipóteses daqueles objetos voltarem à vida são ínfimas. Haverá um tempo em que já nem na arrecadação terão lugar.

Fazemos o mesmo com muitas pessoas que fizeram parte das nossas vidas. E o mais alarmante é que o fazemos com uma lucidez e frieza quase sinistras. Não precisam de ser propriamente velhos ou apenas companheiros circunstanciais do nosso trajeto pela vida; basta que tenham perdido a piada, isto é, a utilidade. Em alguns casos, a rapidez com que mastigamos e cuspimos seres humanos das nossas vidas é tão grande que até assusta a quem só assiste.

Ocasionalmente, hoje, falava com uma pessoa amiga quando veio à conversa o nome de um amigo comum. Homem cultíssimo, admirado justamente pelos colegas, teve o azar de encontrar a doença, há alguns meses. Logo ali perdeu grande parte da corte. Tentou reabilitar-se o melhor que soube, mas a doença roubara-lhe o melhor de si. Hoje, os amigos fogem dele, desconsideram-no, são intolerantes com as suas falhas. Afinal, o génio já não era tão genial, a sua debilitada não lhe serve de atenuante e a memória de cada um arquivou-o na arrecadação, por uns tempos, porque o carimbo final já está cravado na caixa.

Perscruto com atenção a memória e reconheço outros casos onde nem foi preciso nenhuma doença conveniente para que um ser humano desaparecesse do mapa das pessoas interessantes.
Às vezes, dou comigo a abominar esta expressão [“pessoas interessantes”]; soa-me quase sempre a baba de pessoas interesseiras.
Podia lembrar-vos que o Universo quase sempre se encarrega de proporcionar aos arquivadores de gente na arrecadação uma experiência inolvidável na arrecadação da vida, mas prefiro dizer-vos que tratar os Outros como tralha “apenas” nos diminui (imenso) como pessoas e nos tira oportunidades únicas de sermos felizes, porque cada pessoa é um tesouro maravilhoso por descobrir. Muitas vezes ele só está escondido entre o pó e as teias de aranha de uma qualquer miserável arrecadação.
Gabriel  

sábado, 17 de março de 2018

OS INGLESES, ESSES VERDADEIROS AMIGOS DA ONÇA



Portugal e Inglaterra são historicamente povos aliados e, algumas vezes, os reis portugueses pediram ajuda aos ingleses para expulsar espanhóis ou franceses. O problema é que os ingleses sempre olharam para essa aliança com sobranceria e arrogância, tratando-nos como “uns pobres coitados” a quem se pode fazer quase tudo.  Em certos momentos eles foram piores que os inimigos.

O primeiro sinal desse tipo de comportamento deu-se no final do século XIV (1380), quando o rei D. Fernando pediu ajuda aos ingleses para rechaçar as tropas castelhanas que cercavam Lisboa. Mal desembarcaram em Lisboa, os nossos queridos amigos britânicos trataram de espalhar o terror entre o pobre povo de Lisboa. 

Como muito bem refere Fernão Lopes, na sua Crónica de D. Fernando, «Esta gente dos ingleses, quando se instalaram em Lisboa, procedendo não como homens que vinham ajudar a defender a terra, mas como se tivessem sido chamados para a destruir […] matando, roubando e forçando as mulheres, mostrando tal domínio e desprezo de todos que se diria que eram mortais inimigos…»

Esta conduta obrigou D. Fernando a afastá-los para o Alentejo e a combinar a paz com Castela em condições menos favoráveis do que seria desejável.
Uns séculos mais tarde os ingleses voltaram-se a revelar-se verdadeiros amigos da onça. No início do século XIX, as tropas napoleónicas invadiram Portugal e a família real teve de fugir para o Brasil. Os ingleses foram novamente chamados a ajudar na tarefa de reconquista da soberania nacional e mais uma vez demonstraram arrogância e desprezo pelos mais elementares direitos dos portugueses. Comandados por Beresford, os soldados ingleses instalaram-se em Portugal como se fossem os verdadeiros patrões do território e o povo gemia, pois passava das crueldades do «Maneta» para as arbitrariedades dum general com o rei na barriga. Gomes Freire ainda conspirou contra o ditador inglês, mas sem sucesso. Só a revolução liberal de 1820 acabou com o martírio inglês.

Os ingleses haviam de ser responsáveis por um das mais importantes estocadas na monarquia portuguesa. No final do século XIX, o governo português desenhou um mapa cor-de-rosa, com o ojetivo de unir os territórios de Angola e Moçambique, em África. O objetivo do governo, com esse plano de conquistas territoriais em solo africano, era reabilitar o prestígio internacional da coroa portuguesa e dar um novo fôlego à monarquia, já muito acossada pelos republicanos. 
E o que fizeram os ingleses? Lançaram um ultimato ao jovem rei português, D. Carlos I, intimando-o a abandonar tais pretensões, sob pena de ser invadido pelos seus «queridos amigos». 
E Portugal, mais uma vez, cedeu. Poucos anos mais tarde, os ideais republicanos triunfaram em Portugal.
Costuma-se dizer que “De Espanha, nem bons ventos nem bons casamentos”, mas a verdade é que de Inglaterra só nos chegaram verdadeiros amigos da onça.
GAVB

sexta-feira, 16 de março de 2018

A DECADÊNCIA DO BRASIL JÁ CHEGOU AO ASSASSÍNIO POLÍTICO



Há dois dias, a vereadora da Câmara do Rio de Janeiro, no Brasil, Marielle Franco foi barbaramente assassinada com quatros tiros na cabeça, quando seguia de carro, com o seu motorista e assessora.
Em menos de 48 horas, descobriu-se que as balas que mataram Marielle eram as mesmas que a polícia federal brasileira usa. Se acrescentarmos este dado ao facto de Marielle Franco se ter destacado pela crítica feroz à atuação da polícia militar e do exército na cidade perigosa, outrora maravilhosa, não é difícil concluir que estamos perante um crime de contornos políticos, daqueles que Putin tanto gosta.

Marielle era uma mulher corajosa, frontal, como quase já não há no Brasil. Ela tanto lutava pela dignidade das mulheres como defendia a comunidade LGBT e os desmandos contra os negros. A injustiça e arbitrariedade dos poderosos eram o seu alvo e isso levou-a à morte.

O Brasil é hoje um simulacro de liberdade, democracia e justiça. Completamente entregue a gente sem escrúpulos, capaz de matar quem ousa levantar a voz. Já não é só a corrupção generalizada dos quadros dirigentes, a incompetência de quem governa, a incapacidade para controlar os gangues nas favelas, a lei marcial imposta à lei da bala pelo exército; agora, o Brasil está de regresso a uma espécie de ditadura militar informal, em que Temer (o presidente que não foi eleito) abdicou do controlo da segurança para se aguentar mais uns meses no poder, enquanto tenta limpar as presumíveis provas que no futuro o incriminarão.
Putin manda assassinar em Londres, mas no Brasil a «coisa» faz-se às claras, para que toda a gente perceba quem manda e como manda(rá).
GAVB

quinta-feira, 15 de março de 2018

A ESCOLA PRECISA DE SE TRANSFORMAR PARA NÃO SE TORNAR IRRELEVANTE



Há trinta anos a Igreja Católica tinha uma grande relevância na sociedade portuguesa; hoje, a sua importância é pouco mais que residual. O que aconteceu? Fechou-se; recusou aceitar as críticas que lhe eram apontadas e cristalizou a mentalidade. Como resultado recolheu o progressivo afastamento das pessoas e sobretudo deixou de influenciar as suas decisões.

A Escola corre um risco semelhante, só que as consequências serão bem piores, porque a sua importância na saúde de qualquer sociedade é elevada. É a Escola que permite pensarmos em igualdade, democracia, justiça, coesão social.

A Escola trabalha as gerações futuras e, por isso, mais do que vergastadas, críticas acintosas, opiniões doutorais sobre como é que se deve ensinar, educar ou aprender, a Escola portuguesa precisa que a ajudem a não perder relevância, porque isso seria desastroso. 

Quem faz a escola assim ou assado são os professores. Hostilizá-los, enxovalhá-los, criar-lhes sistemáticos obstáculos é um erro crasso, mas que nem sempre se tem evitado. Precisámos deles, precisamos de os ajudar a fazer um Escola mais competente, assertiva, inclusiva, responsável, dinâmica.
De que ajuda precisam os professores? Em primeira lugar, que não atrapalhem o seu trabalho, com burocracias inúteis,  com teorias discutíveis, com tentativas parolas de ensiná-los a  fazer o seu trabalho. Eles erram como qualquer profissional, mas a percentagem de acerto é bem mais elevado que em muitas outras profissões.

Outra ajuda que seria bem-vinda era a definição clara dos principais objetivos de cada Escola. Por vezes, numa mesma Escola existem «várias escolas», pois há grupos de alunos que prosseguem objetivos bem diferentes. Os professores têm de perceber essa diferença e dar a cada grupo aquilo que eles precisam, fazendo-os crescer na medida das suas competências e capacidades.
Ajudaria imenso aos professores perceberem que a Escola não é um lugar para ensinar, mas um local para aprender. 
É verdade que são eles os detentores da autoridade, do saber, do conhecimento, da técnica, mas não são eles o objetivo final do seu trabalho. Por isso, não pode ser “à sua maneira”, mas à maneira que é mais útil a quem aprende. Não confundir útil com fácil, como não se deve confundir trabalho com diversão. A escola não é nenhum parque de diversão para só aprendermos de forma divertida.

É verdade que os meios materiais ao dispor dos professores são tão antigos e obsoletos que até mete dó, mas a principal transformação está no modo como se faz, ou seja, no método. Poucos são aqueles que mudam para um método onde não se sentem confortáveis. Ora, muitos professores sentem-se confortáveis no intragável método expositivo, que até a eles lhes daria sono.

Como se muda? O ideal seria que tivéssemos perdido o medo de perder o controlo da aula, através de formação. Como ela não existiu nas últimas décadas, cabe a cada professor não deixar-se fossilizar no que ao método diz respeito. Não sendo uma coisa propriamente fácil, também não é um bicho papão. Largar o domínio absoluto da aula, aceitando que o conhecimento chegue aos alunos por diversos canais e modos (não apenas pelo livro, não apenas por aquilo que o professor diz), deixando que ele seja construído. Ensiná-los a pensar, a ter espírito crítico, a não ter de demonstrar tudo em teste ou por escrito. 

Obviamente que nos primeiros tempos os resultados podem ser frustrantes e ficarmos com um mão cheia de quase nada e com o tempo de aulas dado. No entanto, se o trabalho for feito com critério, rigor e planeamento, os frutos hão de aparecer. Se não for no nosso pomar, será no de outro. O importante é que apareçam e sejam consistentes.
O que não podemos esperar é ter resultados diferentes fazendo sempre do mesmo modo. E se os alunos são diferentes daquilo que eram quando começámos a trabalhar, por que razão continuamos a fazer igual? O comodismo é um luxo caro!    
GAVB

quarta-feira, 14 de março de 2018

UM AEROPORTO NO SÍTIO ERRADO



Portugal tem quarto aeroportos ao serviço da aviação civil (Lisboa, Porto, Faro e… Beja), mas apenas se serve de três, porque o de Beja está às moscas, já que não consegue atrair nem as companhias aéreas nem os empresários locais a fazerem o necessário investimento para o tornar rentável.

Para um país como Portugal, aquilo que pode tornar rentável e justificável um aeroporto é o turismo, vindo além península. Ora, é necessário uma oferta contínua e concertada entre regiões, para sustentar um aeroporto ao longo de doze meses, se este não estiver em Lisboa ou Porto.
 O aeroporto de Faro conseguiu sobreviver devido à oferta turística algarvia, durante quatro meses, e à significativa comunidade inglesa que procurava o Algarve durante grande parte do ano. Por outro lado, os quase trezentos quilómetros se distam entre Lisboa e várias cidades algarvias tornam pouco prática a utilização do aeroporto Humberto Delgado.
Um aeroporto em Beja tinha tudo para correr mal, pois o Alentejo não tem capacidade suficiente para proporcionar uma oferta turística permanente que justifique vários voos diários de e para o coração do Alentejo. Há Évora, Beja, o Alqueva, mas não foi suficiente.

Entretanto a norte, a explosão turística do Porto, aguçou o apetite de outras cidades e regiões. E na minha opinião, a região centro começa a criar condições de atratividade/oferta turística que justificam um aeroporto como o que foi construído em… Beja. Um aeroporto pequeno situado na periferia de Coimbra, que possibilitasse o acesso imediato ou em menos de meia hora a Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu. Estas são cidades de gente jovem, onde o turismo nacional se tem desenvolvido muito e que estão prontas para dar o exigente salto para a internacionalização. Há praia, campo, montanha, cidades históricas, cidades modernas, monumentos nacionais de referência e universidade emblemática, reconhecida internacionalmente.

Não seria difícil multiplicar por cinco, em dez anos, o número de turistas que escolheriam o centro de Portugal para um curto período de férias. A questão fundamental é que o turista moderno é um turista que viaja muito, mas não tem muito tempo para perder em transbordos. O turismo da região centro não pode gastar um dia em viagens de e para os aeroporto.
No aeroporto de Beja enterraram-se 34 milhões de euros que muito dificilmente serão rentabilizados. O centro do país gastou quase cinco vezes esse valor em estádios de futebol. Noventa mil lugares sentados, distribuídos por três estádios, que continuam às mosas, há mais de uma década.

O problema não foi a falta de dinheiro, mas a péssima maneira de o aplicar. Não houve falta de dinheiro, entre 1990 e 2010, em Portugal; o que houve foi opções erradas. Agora, a nossa margem de manobra é muito menor, até porque ninguém nos empresta dinheiro com facilidade. No entanto, voltar a discutir o TGV só porque Espanha vai alargar a rede é um absurdo.
As nossas receitas vêm do turismo, mas os turistas que chegam a Portugal não vêm de Espanha nem chegam de carro ou comboio. Vêm, na maioria pelo ar, em voos de baixo custo.
Quarenta milhões de euros é capaz de chegar para construir um aeroporto que o centro precisa.
GAVB