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quarta-feira, 21 de março de 2018

PORTUGAL ASSUMIU A PARÓDIA COMO FORMA DE VIDA




Ricardo Araújo Pereira costuma dizer que fazer humor em Portugal está cada vez mais difícil, porque a realidade é um concorrente feroz. É difícil não começar por rir (e acabar a chorar) com os últimos anúncios excêntricos do mundo social, político e desportivo, em Portugal.


Os alunos da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra lembraram-se de convidar José Sócrates para perorar sobre o "Projeto Europeu depois da crise Económica”. O homem que escavacou a economia portuguesa em meia dúzia de anos, que nos obrigou ao humilhante e penoso pedido de ajuda à Troika; o político sobre o qual impende várias acusações de corrupção no exercício de funções, é convidado para falar sobre a “estratégia que desenvolveu para sair da crise”, pois "ela deve ser transmitida aos estudantes”, disseram, sem rir, os organizadores. 
Uns pândegos estes estudantes de Economia de Coimbra! Se o objetivo era chamar a atenção para o ciclo de conferências, conseguiram, mas talvez devessem convidar Sócrates para falar sobre a estratégia como destruir um país em tão pouco tempo ou como acumular tantas acusações de corrupção, tráfico de influências e branqueamento em tão curto governo. 


O mais engraçado é que Sócrates, qual mitómano, está convencido que não faz parte de uma paródia e que os alunos de Coimbra não o convidaram para se divertirem um pouco com o delirante ego e probidade do ex. primeiro-ministro.

Poucas semanas antes, outro ex. primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, foi convidado para dar aulas em várias universidades privadas. Sem pestanejar aceitou de imediato assim como a sua equiparação a professor catedrático. Logo ele que nunca deu uma aula que fosse e que aconselhou os professores a emigrar, dado que não havia trabalho para eles, em Portugal. O homem que acabou a licenciatura aos quarenta anos acha-se perfeitamente capaz de dar aulas em três faculdades, com a competência de um catedrático. Na estética do ridículo, Sócrates começa a ter concorrente.


Num registo menos burlesco, mas muito mais provocador, o líder dos super-dragões, Fernando Madureira, acaba de ser convidado para dar uma palestra sobre “Prevenção da Violência Nos Grupos Organizados de Adeptos”, vulgo Claques de Futebol.

Ora, Madureira percebe imenso de violência, mas na vertente oposta: como aterrorizar adeptos adversários, como entrar nas áreas de serviço, consumir e não pagar, como levar a sua claque a entoar cânticos de ódio aos clubes rivais, como lançar o pandemónio em viagens de avião para o estrangeiro, onde colegas seus foram expulsos do avião depois de terem roubado outros passageiros e importunado as hospedeiras. Mas não, Madureira vai falar sobre ética.

O espaço público português está uma paródia assumida, em que determinadas figuras, com relevo na sociedade, assumem um papel tão bizarro e parodiante que nos faz sentir, a todos, figurantes de uma ópera bufa.
GAVB

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