Sabem há quanto tempo dura a guerra na Síria? Quantas pessoas
já pereceram naquela guerra sem lei nem humanidade nem vergonha? Provavelmente,
muitos de nós não sabem sequer onde fica a Síria.
A guerra na Síria dura há sete anos! Já fez cerca de 500 mil
mortos, 7,6 milhões de desalojados internamente e quase cinco milhões de
refugiados.
Na Síria toda a crueldade já foi experimentada, desde
bombardeamentos a alvos civis a ataques com armas químicas, passando pelo
fechar de portas aos refugiados que procuravam fugir da morte, arriscando a
própria vida numa bote, no Mediterrâneo.
Não quisemos saber. Tanto ignorámos que até pareceu ter
acabado, mas não acabou. O mundo lá continuou a girar, numa espécie de passerelle
de frivolidades. Obama saiu da Casa Branca para dar lugar a um grunho, Hollande
já pode andar de mota à vontade porque Macron é quem governa a França; em Portugal,
já passou a tempestade socrática, que arrasou bancos, salários e direitos; a
época de limpezas em modo liberal e o tempo da ténue esperança. Barroso deixou
a Comissão Europeia para dar entrada na Goldman Sachs; Francisco tentou
libertar a Igreja dos seus complexos; Portugal foi campeão europeu de futebol e
de futsal; o Reino Unido deixou a União Europeia; Dilma e Lula caíram na teia
de corrupção que ajudaram a criar; a Justiça brasileira e portuguesa começaram a
prender alguns poderosos…
Mas
Na Síria tudo continuou na mesma. Semana após semana a
guerra abatia mais uns milhares e nós, ao longe, lamentávamos. Depois mudávamos
de canal e dois minutos depois… já tinha passado. Nos últimos dias foi
noticiado um ataque com armas químicas. Lá veio a declaração das Nações Unidas,
as declarações hipocritamente surpreendidas dos líderes dos principais países
mundiais. Em Inglaterra estão a “ponderar seriamente” (só não se sabe em quê),
em Berlim e Paris apela-se a Putin que “exerça pressão máxima” sobre Bashar
al-Assad. Putin (que esta semana
anunciou ter um novo míssil invencível) lembrou-se que realmente havia uma
guerra na Síria e de tão aborrecido que estava decretou ele mesmo um cessar
fogo. Ninguém o respeitou. Putin teve pena, mas, como estava com sono, foi
dormir.
Entretanto, no campo de minas sírio mais uns milhares
morreram. Não vou escrever que eram crianças, mulheres e velhos, porque isso
seria apenas mais uma outra forma de hipocrisia. Eram seres humanos, como eu e
tu.
Desde que a guerra na Síria começou passaram dois mil e
quinhentos dias. Nos últimos trezentos, em Portugal falou-se imenso de e-mails,
de incêndios, da chuva, do festival da canção e do assédio às estrelas de
Hollywood.
É possível que daqui a uns anos a guerra na Síria acabe,
pois não haverá pessoas suficientes onde estourar tanta bomba, tanta bala, tanta
arma química.
Há uma enorme perversão que nos consome a alma!
GAVB
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