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domingo, 4 de março de 2018

EU NÃO QUIS SABER, TU NÃO QUISESTE SABER… OBVIAMENTE, ELES TAMBÉM NÃO!



Sabem há quanto tempo dura a guerra na Síria? Quantas pessoas já pereceram naquela guerra sem lei nem humanidade nem vergonha? Provavelmente, muitos de nós não sabem sequer onde fica a Síria.
A guerra na Síria dura há sete anos! Já fez cerca de 500 mil mortos, 7,6 milhões de desalojados internamente e quase cinco milhões de refugiados.
Na Síria toda a crueldade já foi experimentada, desde bombardeamentos a alvos civis a ataques com armas químicas, passando pelo fechar de portas aos refugiados que procuravam fugir da morte, arriscando a própria vida numa bote, no Mediterrâneo.

Não quisemos saber. Tanto ignorámos que até pareceu ter acabado, mas não acabou. O mundo lá continuou a girar, numa espécie de passerelle de frivolidades. Obama saiu da Casa Branca para dar lugar a um grunho, Hollande já pode andar de mota à vontade porque Macron é quem governa a França; em Portugal, já passou a tempestade socrática, que arrasou bancos, salários e direitos; a época de limpezas em modo liberal e o tempo da ténue esperança. Barroso deixou a Comissão Europeia para dar entrada na Goldman Sachs; Francisco tentou libertar a Igreja dos seus complexos; Portugal foi campeão europeu de futebol e de futsal; o Reino Unido deixou a União Europeia; Dilma e Lula caíram na teia de corrupção que ajudaram a criar; a Justiça brasileira e portuguesa começaram a prender alguns poderosos…

Mas

Na Síria tudo continuou na mesma. Semana após semana a guerra abatia mais uns milhares e nós, ao longe, lamentávamos. Depois mudávamos de canal e dois minutos depois… já tinha passado. Nos últimos dias foi noticiado um ataque com armas químicas. Lá veio a declaração das Nações Unidas, as declarações hipocritamente surpreendidas dos líderes dos principais países mundiais. Em Inglaterra estão a “ponderar seriamente” (só não se sabe em quê), em Berlim e Paris apela-se a Putin que “exerça pressão máxima” sobre Bashar al-Assad.  Putin (que esta semana anunciou ter um novo míssil invencível) lembrou-se que realmente havia uma guerra na Síria e de tão aborrecido que estava decretou ele mesmo um cessar fogo. Ninguém o respeitou. Putin teve pena, mas, como estava com sono, foi dormir.

Entretanto, no campo de minas sírio mais uns milhares morreram. Não vou escrever que eram crianças, mulheres e velhos, porque isso seria apenas mais uma outra forma de hipocrisia. Eram seres humanos, como eu e tu.

Desde que a guerra na Síria começou passaram dois mil e quinhentos dias. Nos últimos trezentos, em Portugal falou-se imenso de e-mails, de incêndios, da chuva, do festival da canção e do assédio às estrelas de Hollywood.
É possível que daqui a uns anos a guerra na Síria acabe, pois não haverá pessoas suficientes onde estourar tanta bomba, tanta bala, tanta arma química.
Há uma enorme perversão que nos consome a alma!
GAVB

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