Tropecei nesta frase, hoje, ao ler um interessantíssimo artigo
de Margarida Vieitez, na revista Visão, sobre
relações interpessoais, onde a autora enaltece a importância da confiança, do
compromisso, da coragem, do respeito e do altruísmo no sucesso das relações
amorosas.
O título levou-me o espírito para outros pensamentos. Quase
instintivamente deparei-me amargurado com a óbvia conclusão que nos dedicamos
muito mais ao telemóvel que às pessoas e que a máquina que domina o nosso
quotidiano tem uma importância bem superior à maioria (para não dizer à
totalidade) das pessoas que cruzam o nosso quotidiano.
A nenhum delas dedicamos
tanto tempo, atenção, sacrifícios, preocupação. De nenhuma pessoa somos tão
dependentes como do telemóvel, nem ninguém nossa comanda de modo tão despótico.
Apesar de “dispensarmos” as pessoas do nosso dia-a-dia, por
causa do telemóvel, ele não faz o mesmo por nossa causa. O telemóvel sabe
perfeitamente que a sua grande virtude é facilitar a comunicação entre as
pessoas. Quando ele deixa de ser intermediário, mas se tornar no “outro”,
rapidamente acabará por nos aborrecer e por isso é trocado, por modelo mais
recente.
O nosso principal erro relacional é que replicamos o método
que usamos com o telemóvel nas pessoas. Há alguém mais novo, com um melhor
interface, com um design mais atrativo, que obtém melhores imagens sociais?
Então, trocamos imediatamente de relacionamentos. O problema é que as pessoas
não aceitam ser trocadas como a mesma facilidade que um telemóvel, porque não são
objetos e têm sentimentos.
Impossível fazermos dos outros um telemóvel de versão
desatualizada sem rapidamente passarmos pela mesma experiência, porque nem eles
nem nós vão para algum cemitério de inutilidades tecnológicas. Continuaremos a
existir, a vermo-nos, a sentir e a despertar sentimentos.
Se persistirmos no erro crasso de lidar com as pessoas como
lidamos com os telemóveis, em pouco tempo os telemóveis perderão toda a graça,
porque deixarão de trazer, lá dentro, pessoas de carne e osso, que nos fazem sonhar, mas apenas um realidade totalmente virtual e tremendamente aborrecida.
GAVB
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