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sábado, 10 de março de 2018

UMA RAINHA DOIDA NUM PAÍS DE MALUCOS


D. Maria I (1734-1816) tinha tudo para ficar na história de Portugal como um rainha memorável, pois ela foi a primeira mulher a subir ao trono português, tendo sucedido a D. José, seu pai, um rei que foi deixando o Marquês de Pombal governar e desse modo enfraquecendo a imagem real.
No entanto, a circunstâncias que rodearam o reinado de D. Maria I haviam de torná-lo num autêntico suplício, para a monarca, que acabou por ficar louca e ter de «abdicar» efetivamente do exercício do poder régio.
Grande responsável pela loucura da rainha foram os fanáticos confessores que teve. A destituição do Marquês de Pombal não teve apenas por consequência a recuperação do poder por parte da alta nobreza, mas também da Igreja Católica. Os clérigos aproveitaram-se despudoradamente da religiosidade exacerbada e supersticiosa da rainha para a levar a cometer autênticas loucuras. Uma delas foi enviar quarenta mil cruzados (ao cambio de hoje, 320 milhões de euros) para a conservação dos lugares santos em Jerusalém. Outra medida foi a construção da Basílica da Estrela, em Lisboa, onde está sepultada.

Nove anos após assumir o trono, D. Maria I começou a levar autênticas vergastadas do destino. Primeiro a morte do marido (D. Pedro III, um rei feíssimo e de pouca inteligência); dois anos mais tarde sucumbe o príncipe herdeiro, D. José, com bexigas, e poucos meses depois o seu confessor, frei Inácio de S. Caetano. Este clérigo tinha uma grande ascendência sobre a rainha, como já se referiu, mas o que lhe sucedeu fez um trabalho ainda mais nefasto. D. José Maria de Melo era o inquisidor-mor do reino e aproveitou-se da extrema fragilidade da rainha para lhe inculcar a ideia que o seu pai estaria a sofreu duríssimas penas no inferno por ter sancionado a política do Marquês de Pombal.

D. Maria I não resistiu e ficou efetivamente maluca. Logo no início de 1792 foi declaradamente oficialmente louca e assim permaneceu até ao fim dos seus dias, vinte e quatro anos mais tarde, ainda que por vezes tivesse alguns acessos de lucidez, como naquele dia de outono de 1807, em que a corte embarcava para o Brasil, para fugir à invasão do exército de Napoleão: «Mais devagar! Diriam que fugimos!»

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