D. Maria I (1734-1816) tinha tudo para ficar na história de
Portugal como um rainha memorável, pois ela foi a primeira mulher a subir ao
trono português, tendo sucedido a D. José, seu pai, um rei que foi deixando o
Marquês de Pombal governar e desse modo enfraquecendo a imagem real.
No entanto, a circunstâncias que rodearam o reinado de D.
Maria I haviam de torná-lo num autêntico suplício, para a monarca, que acabou por
ficar louca e ter de «abdicar» efetivamente do exercício do poder régio.
Grande responsável pela loucura da rainha foram os fanáticos
confessores que teve. A destituição do Marquês de Pombal não teve apenas por
consequência a recuperação do poder por parte da alta nobreza, mas também da
Igreja Católica. Os clérigos aproveitaram-se despudoradamente da religiosidade
exacerbada e supersticiosa da rainha para a levar a cometer autênticas
loucuras. Uma delas foi enviar quarenta mil cruzados (ao
cambio de hoje, 320 milhões de euros) para a conservação dos lugares santos em
Jerusalém. Outra medida foi a construção da Basílica da Estrela, em Lisboa, onde
está sepultada.
Nove anos após assumir o trono, D. Maria I começou a levar
autênticas vergastadas do destino. Primeiro a morte do marido (D. Pedro III, um
rei feíssimo e de pouca inteligência); dois anos mais tarde sucumbe o príncipe
herdeiro, D. José, com bexigas, e poucos meses depois o seu confessor, frei
Inácio de S. Caetano. Este clérigo tinha uma grande ascendência sobre a rainha,
como já se referiu, mas o que lhe sucedeu fez um trabalho ainda mais nefasto.
D. José Maria de Melo era o inquisidor-mor do reino e aproveitou-se da extrema
fragilidade da rainha para lhe inculcar a ideia que o seu pai estaria a sofreu
duríssimas penas no inferno por ter sancionado a política do Marquês de Pombal.
D. Maria I não resistiu e ficou efetivamente maluca. Logo no
início de 1792 foi declaradamente oficialmente louca e assim permaneceu até ao fim dos seus
dias, vinte e quatro anos mais tarde, ainda que por vezes tivesse alguns
acessos de lucidez, como naquele dia de outono de 1807, em que a corte
embarcava para o Brasil, para fugir à invasão do exército de Napoleão: «Mais
devagar! Diriam que fugimos!»
Sem comentários:
Enviar um comentário