Há trinta anos a Igreja Católica
tinha uma grande relevância na sociedade portuguesa; hoje, a sua importância é
pouco mais que residual. O que aconteceu? Fechou-se; recusou aceitar as críticas
que lhe eram apontadas e cristalizou a mentalidade. Como resultado recolheu o
progressivo afastamento das pessoas e sobretudo deixou de influenciar as suas
decisões.
A Escola corre um risco
semelhante, só que as consequências serão bem piores, porque a sua importância
na saúde de qualquer sociedade é elevada. É a Escola que permite pensarmos em
igualdade, democracia, justiça, coesão social.
A Escola trabalha as gerações
futuras e, por isso, mais do que vergastadas, críticas acintosas, opiniões doutorais sobre
como é que se deve ensinar, educar ou aprender, a Escola portuguesa precisa que
a ajudem a não perder relevância, porque isso seria desastroso.
Quem faz a
escola assim ou assado são os professores. Hostilizá-los, enxovalhá-los, criar-lhes
sistemáticos obstáculos é um erro crasso, mas que nem sempre se tem evitado.
Precisámos deles, precisamos de os ajudar a fazer um Escola mais competente,
assertiva, inclusiva, responsável, dinâmica.
De que ajuda precisam os
professores? Em primeira lugar, que não atrapalhem o seu trabalho, com
burocracias inúteis, com teorias
discutíveis, com tentativas parolas de ensiná-los a fazer o seu trabalho. Eles erram como
qualquer profissional, mas a percentagem de acerto é bem mais elevado que em
muitas outras profissões.
Outra ajuda que seria bem-vinda era a definição clara dos principais objetivos de cada Escola. Por vezes, numa
mesma Escola existem «várias escolas», pois há grupos de alunos que prosseguem
objetivos bem diferentes. Os professores têm de perceber essa diferença e dar a
cada grupo aquilo que eles precisam, fazendo-os crescer na medida das suas
competências e capacidades.
Ajudaria imenso aos professores perceberem
que a Escola não é um lugar para ensinar, mas um local para aprender.
É verdade
que são eles os detentores da autoridade, do saber, do conhecimento, da
técnica, mas não são eles o objetivo final do seu trabalho. Por isso, não pode
ser “à sua maneira”, mas à maneira que é mais útil a quem aprende. Não
confundir útil com fácil, como não se deve confundir trabalho com diversão. A escola
não é nenhum parque de diversão para só aprendermos de forma divertida.
É verdade que os meios materiais
ao dispor dos professores são tão antigos e obsoletos que até mete dó, mas a
principal transformação está no modo como se faz, ou seja, no método. Poucos
são aqueles que mudam para um método onde não se sentem confortáveis. Ora,
muitos professores sentem-se confortáveis no intragável método expositivo, que
até a eles lhes daria sono.
Como se muda? O ideal seria que tivéssemos
perdido o medo de perder o controlo da aula, através de formação. Como ela não
existiu nas últimas décadas, cabe a cada professor não deixar-se fossilizar no
que ao método diz respeito. Não sendo uma coisa propriamente fácil, também não
é um bicho papão. Largar o domínio absoluto da aula, aceitando que o
conhecimento chegue aos alunos por diversos canais e modos (não apenas pelo
livro, não apenas por aquilo que o professor diz), deixando que ele seja
construído. Ensiná-los a pensar, a ter espírito crítico, a não ter de demonstrar
tudo em teste ou por escrito.
Obviamente que nos primeiros tempos os resultados
podem ser frustrantes e ficarmos com um mão cheia de quase nada e com o tempo
de aulas dado. No entanto, se o trabalho for feito com critério, rigor e
planeamento, os frutos hão de aparecer. Se não for no nosso pomar, será no de
outro. O importante é que apareçam e sejam consistentes.
O que não podemos esperar é ter
resultados diferentes fazendo sempre do mesmo modo. E se os alunos são
diferentes daquilo que eram quando começámos a trabalhar, por que razão continuamos
a fazer igual? O comodismo é um luxo caro!
GAVB
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