Por causa do dinheiro ou da perda de paixão, a verdade é que
são cada vez mais os artistas que defendem a proibição do uso de telemóveis
durante os seus concertos. A proibição é polémica e até pode ser considerada um
atentado à liberdade individual, mas merece ser discutida, quer sob a
perspetiva económica (comercial) quer sob a vertente social e cultural.
Começo por aquela que menos me preocupa, a comercial.
Kendrick Lamar baniu repórteres fotográficos dos seus concertos e proíbe o uso
de telemóveis, por parte dos seus espetadores. A sua preocupação é puramente comercial.
Quer ter o controlo absoluto da sua marca e não deixa que imagens dos seus
concertos andem a circular pela net sem que lhe paguem por isso. Lamar já é
rico suficiente para não se armar em sovina. A sua argumentação não me convence
e revela que vê os seus fãs apenas como clientes, a quem procura sugar o maior
número de euros ou dólares possível.
No entanto, já sou mais sensível aos argumentos dos The Lumineers,
dos Indie Folk, Guns N’ Roses, Alicia Keys ou Jack White. Realmente os espectadores
tornaram-se muito mais passivos durante os concertos; as mãos estão ocupadas
com o smartphone, a cabeça divide-se entre a foto espetacular que se quer tirar
para de imediato postar no Insta ou no Face e assim provar quanto top está a
ser a nossa noite, fazendo disparar os likes, e a performance do artista.
Esta obsessão ridícula com a vaidade está a matar até o
prazer dos momentos em que somos (ou éramos) felizes por causa de uma música,
de uma interpretação. Sem pudor fazemos dos nossos ídolos
musicais objetos decorativos da nossa vaidadezinha tonta, que apenas gera
inveja dispensável, até arruinarmos por completo com a fruição do objeto
artístico.
Obviamente que os artistas sentem a pobreza de tais comportamentos
e indignam-se com o modo como desrespeitamos o seu trabalho, a sua paixão e
dedicação aos fãs.
Proibir não é o caminho, ainda que educar seja uma estrada muito difícil de percorrer. Alguns
escolhem a via do negócio e até já há uma start up que criou uma bolsa, Yondr,
onde, os espectadores são “convidados” a deixar os seus telemóveis, à entrada
dos concertos livres de telemóveis, pelos
diversos assistentes que controlam as entradas dos espectáculos de artistas como
Lamar ou Jack White.
Antes que o Yondr entre na moda é necessário criar a moda de
prescindir, em algumas circunstâncias, do smartphone, porque estamos a permitir
que ele nos torne num objeto decorativo do seu despotismo.
GAVB
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