Etiquetas

Mostrar mensagens com a etiqueta Turismo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Turismo. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 14 de março de 2018

UM AEROPORTO NO SÍTIO ERRADO



Portugal tem quarto aeroportos ao serviço da aviação civil (Lisboa, Porto, Faro e… Beja), mas apenas se serve de três, porque o de Beja está às moscas, já que não consegue atrair nem as companhias aéreas nem os empresários locais a fazerem o necessário investimento para o tornar rentável.

Para um país como Portugal, aquilo que pode tornar rentável e justificável um aeroporto é o turismo, vindo além península. Ora, é necessário uma oferta contínua e concertada entre regiões, para sustentar um aeroporto ao longo de doze meses, se este não estiver em Lisboa ou Porto.
 O aeroporto de Faro conseguiu sobreviver devido à oferta turística algarvia, durante quatro meses, e à significativa comunidade inglesa que procurava o Algarve durante grande parte do ano. Por outro lado, os quase trezentos quilómetros se distam entre Lisboa e várias cidades algarvias tornam pouco prática a utilização do aeroporto Humberto Delgado.
Um aeroporto em Beja tinha tudo para correr mal, pois o Alentejo não tem capacidade suficiente para proporcionar uma oferta turística permanente que justifique vários voos diários de e para o coração do Alentejo. Há Évora, Beja, o Alqueva, mas não foi suficiente.

Entretanto a norte, a explosão turística do Porto, aguçou o apetite de outras cidades e regiões. E na minha opinião, a região centro começa a criar condições de atratividade/oferta turística que justificam um aeroporto como o que foi construído em… Beja. Um aeroporto pequeno situado na periferia de Coimbra, que possibilitasse o acesso imediato ou em menos de meia hora a Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu. Estas são cidades de gente jovem, onde o turismo nacional se tem desenvolvido muito e que estão prontas para dar o exigente salto para a internacionalização. Há praia, campo, montanha, cidades históricas, cidades modernas, monumentos nacionais de referência e universidade emblemática, reconhecida internacionalmente.

Não seria difícil multiplicar por cinco, em dez anos, o número de turistas que escolheriam o centro de Portugal para um curto período de férias. A questão fundamental é que o turista moderno é um turista que viaja muito, mas não tem muito tempo para perder em transbordos. O turismo da região centro não pode gastar um dia em viagens de e para os aeroporto.
No aeroporto de Beja enterraram-se 34 milhões de euros que muito dificilmente serão rentabilizados. O centro do país gastou quase cinco vezes esse valor em estádios de futebol. Noventa mil lugares sentados, distribuídos por três estádios, que continuam às mosas, há mais de uma década.

O problema não foi a falta de dinheiro, mas a péssima maneira de o aplicar. Não houve falta de dinheiro, entre 1990 e 2010, em Portugal; o que houve foi opções erradas. Agora, a nossa margem de manobra é muito menor, até porque ninguém nos empresta dinheiro com facilidade. No entanto, voltar a discutir o TGV só porque Espanha vai alargar a rede é um absurdo.
As nossas receitas vêm do turismo, mas os turistas que chegam a Portugal não vêm de Espanha nem chegam de carro ou comboio. Vêm, na maioria pelo ar, em voos de baixo custo.
Quarenta milhões de euros é capaz de chegar para construir um aeroporto que o centro precisa.
GAVB

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

TABERNA CHECA

A minha curiosidade por conhecer a Taberna Checa, em Guimarães, já tinha algumas semanas. No início de Julho, quando estive na cidade para a badalada “Noite Branca”, organizada pela RFM, tive a oportunidade de conversar com o dono, Carlos Sampaio, que me apresentou demoradamente a casa, os pratos, as especialidades e me desafiou a voltar para conhecer algumas das melhores cervejas europeias, pois a sua carta ostenta mais de quarenta referências, na maioria internacionais.



Esta semana cumpri a promessa e fui almoçar à “Goulash House”, o apelido carinhoso desta Taberna que traz até ao Minho os sabores tradicionais da Europa Central. Lá fui atenciosamente recebido pela dona da Taberna Checa, que obviamente me convidou a provar o prato que dá fama maior à casa: o Goulash – uma broa deliciosa recheada com um caldo de carne de boi, cebola e paprika. Come-se com um colher e deve ser acompanhado por uma cerveja de eleição, como por exemplo a Gulden Draak ou a Pilsner Urquell ou então algo mais suave como a budweiser.


O Goulash é um prato com história. A sua origem remonta ao século IX, quando as tribos nómadas do centro da Europa, em especial os guardadores de bois – gulyas – procuravam um tipo de comida adequado ao seu estilo de vida. Nessa altura eles comiam uma espécie de sopa rica em carne cozinhada e molho picante. Apesar de ainda hoje se discutir se o goulash é uma sopa ou um prato principal, o certo é que aquilo que podemos provar em Guimarães é um prato principal. Saborosa carne, picante, aromática, forte e muito nutritiva. Entre o povo checo acreditava que esta sopa real ou prato lendário ajudava a aliviar o stresse e a curar doenças.
Ora stressado é algo que ninguém fica na Taberna Checa. Além da decoração em tons de azul e cinzento, a lembrar as tradicionais tabernas checas, quem não se deixar seduzir pelo goulash porque não é fã de carne, tenha a versão vegan – goulash vegetariano. Quem já provou e quer outras experiências checas, além das cervejas, pode optar pela Klenit Freska (uma espécie de espetada mista com batatas e salada) ou a Klenote Kure (broa recheada com carne de frango e mistura de legumes).

Para quem preferir pratos made in Portugal, a Taberna tem uma variedade apreciável de hambúrgueres tradicionais e uma panóplia de bifes assinalável, provando os muitos pontos comuns entre a cozinha checa e portuguesa. Nesse caso, talvez não seja má ideia experimentar uma cerveja artesanal de chocolate. É um bocadinho cara, mas toda a gente sabe que a qualidade paga-se.
A Taberna Checa é aquele sítio onde se vai para confraternizar com os amigos, onde se é soberbamente atendido e onde desfrutamos de uma experiência gastronómica internacional. 
A dois passos do Museu Alberto Sampaio, da Torre de Alma, e do mítico largo da Oliveira, o melhor é ir...

GAVB

domingo, 26 de outubro de 2014

OPORTO FAST TOURIST


A cidade do Porto é hoje uma cidade substancialmente diferente da de há dez anos. Os jovens andam pela rua, há movimento de dia e de noite, todos os dias a Ryanair despeja milhares de turistas low cost na cidade, dezenas de pequenos negócios crescem, com bom gosto e originalidade, impulsionados por uma nova geração de portuenses que viu o que se faz noutras cidades e replica modelos de sucesso na «sua» cidade.  
        O Porto tornou-se uma cidade de turismo e de turistas, de lazer e de charme. Longe vão os tempos em que todos os portuenses diziam com a boca a transbordar de orgulho: «O Porto é a cidade do trabalho». No entanto, proporcionar bem-estar, descanso e prazer aos outros dá imenso trabalho.



    É indubitável o contributo que a Ryanair por um lado e a Câmara do Porto por outro deram à transformação da economia, ambiente e imagem da cidade. A companhia aérea de baixo custo trouxe à cidade o turista low cost, que ocupa os seus fins-de-semana a conhecer cidades europeias. Tem pouco tempo, tem pouco dinheiro, mas uma enorme vontade de viajar, conhecer, descobrir. O Porto abriu-lhes as portas e não marcou preço de entrada. A edilidade liderada por Rui Rio transformou uma zona morta e nobre da cidade durante a noite na mais sexy movida do norte da península ibérica. As noites de sexta-feira e sábado estão cheias de portuenses, londrinos, catalães, madrilenos, holandeses, franceses que procuram o Porto para se divertir e conhecer um pouco a cidade, nas poucas horas que passam na invicta.



       Nesse sentido, aquilo que o Porto pode proporcionar a este tipo de fast tourist é altamente sedutor: um passeio romântico pelas margens do Douro, um jantar à luz de velas no Cais de Gaia ou na Ribeira, um passeio de barco no perímetro da cidade ou Douro acima à descoberta dos mistérios do vinho do Porto. Depois há um punhado de monumentos que o turista raramente dispensa: o Palácio da Bolsa, o interior da estação de S. Bento, a inevitável torre dos clérigos, a clássica livraria Lello, a glamourosa zona das Galerias, o romantismo dos jardins do Palácio de Cristal. No entanto,  melhor do Porto ainda continua a ser aquele entardecer melancólico e singular que podemos abraçar, caminhando da Ribeira até à Foz  ou dentro dum elétrico.



         O turismo está mudar a face e a alma da cidade. A velha urbe está a reconstruir-se com o dinheiro do turismo do século XXI. Crescem hostels, hotéis de charme, pequenos negócios, onde o valor está no extremo bom gosto de alguns produtos.
       Apesar de todo um clima de otimismo e confiança nem tudo são rosas. O turismo é uma opção estratégica e inteligente no desenvolvimento da cidade, mas não pode ser única, pois fazer depender grande parte da economia da cidade do turismo é um risco imenso, já que o turista segue modas. Hoje o Porto está na moda, amanhã pode não estar… Por outro lado, é preciso definir uma estratégia clara quanto à implementação de determinados pequenos/grandes negócios no coração da cidade. Não pode haver ofertas repetidas nem faltar ofertas de serviços que qualquer cidade de média dimensão europeia já tem.  


     A isto acrescento a oferta cultural, ainda muito incipiente. O turista não procura centros comerciais nem cinemas, o turista procura musicais, peças universais de teatro, concertos de música clássica, bailados, desfiles de moda. Tudo isto com qualidade europeia. Talvez esteja na hora da edilidade de Rui Moreira investir seriamente na oferta cultural da cidade.
     O Porto abriu-se ao mundo e o mundo gostou do que viu e do que sentiu. Está na hora de convencê-lo a voltar.

Gabriel Vilas Boas