A
cidade do Porto é hoje uma cidade substancialmente diferente da de há dez anos. Os
jovens andam pela rua, há movimento de dia e de noite, todos os dias a Ryanair
despeja milhares de turistas low cost na cidade, dezenas
de pequenos negócios crescem, com bom gosto e originalidade, impulsionados por
uma nova geração de portuenses que viu o que se faz noutras cidades e replica
modelos de sucesso na «sua» cidade.
O Porto tornou-se uma cidade de turismo
e de turistas, de lazer e de charme. Longe vão os tempos em que todos os
portuenses diziam com a boca a transbordar de orgulho: «O Porto é a cidade do
trabalho». No entanto, proporcionar bem-estar, descanso e prazer aos outros dá
imenso trabalho.
É indubitável o contributo que a
Ryanair por um lado e a Câmara do Porto por outro deram à transformação da
economia, ambiente e imagem da cidade. A companhia aérea de baixo custo trouxe
à cidade o turista low cost, que ocupa os seus fins-de-semana a conhecer
cidades europeias. Tem pouco tempo, tem pouco dinheiro, mas uma enorme vontade
de viajar, conhecer, descobrir. O Porto abriu-lhes as portas e não marcou preço
de entrada. A edilidade liderada por Rui Rio transformou uma zona morta e nobre
da cidade durante a noite na mais sexy movida do norte da península ibérica. As
noites de sexta-feira e sábado estão cheias de portuenses, londrinos,
catalães, madrilenos, holandeses, franceses que procuram o Porto para se
divertir e conhecer um pouco a cidade, nas poucas horas que passam na invicta.
Nesse sentido, aquilo que o
Porto pode proporcionar a este tipo de fast tourist é altamente sedutor: um
passeio romântico pelas margens do Douro, um jantar à luz de velas no Cais de
Gaia ou na Ribeira, um passeio de barco no perímetro da cidade ou Douro acima à
descoberta dos mistérios do vinho do Porto. Depois há um punhado de monumentos
que o turista raramente dispensa: o Palácio da Bolsa, o interior da estação de
S. Bento, a inevitável torre dos clérigos, a clássica livraria Lello, a glamourosa
zona das Galerias, o romantismo dos jardins do Palácio de Cristal. No entanto, melhor do Porto ainda continua a ser aquele
entardecer melancólico e singular que podemos abraçar, caminhando da Ribeira até
à Foz ou dentro dum elétrico.
O turismo está mudar a face e a
alma da cidade. A velha urbe está a reconstruir-se com o dinheiro do turismo do
século XXI. Crescem hostels, hotéis de charme, pequenos negócios, onde o valor está no extremo bom gosto de alguns produtos.
Apesar de todo um clima de
otimismo e confiança nem tudo são rosas. O turismo é uma opção estratégica e inteligente
no desenvolvimento da cidade, mas não pode ser única, pois fazer depender
grande parte da economia da cidade do turismo é um risco imenso, já que o turista segue
modas. Hoje o Porto está na moda, amanhã pode não estar… Por outro lado, é preciso definir
uma estratégia clara quanto à implementação de determinados pequenos/grandes
negócios no coração da cidade. Não pode haver ofertas repetidas nem faltar
ofertas de serviços que qualquer cidade de média dimensão europeia já tem.
A isto acrescento a oferta cultural, ainda
muito incipiente. O turista não procura centros comerciais nem cinemas, o
turista procura musicais, peças universais de teatro, concertos de música
clássica, bailados, desfiles de moda. Tudo isto com qualidade europeia. Talvez
esteja na hora da edilidade de Rui Moreira investir seriamente na oferta
cultural da cidade.
O Porto abriu-se ao mundo e o
mundo gostou do que viu e do que sentiu. Está na hora de convencê-lo a voltar.
Gabriel Vilas Boas
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