Há pouco mais de duas semanas, Adriana Calcanhotto fez 49 anos! É quase impossível acreditar que o tempo também tenha passado para a bela brasileira, de voz suave, doce e cristalina, que há vinte e quatro anos se lançou no mundo da música.
A voz de Adriana parece morar eternamente no país das crianças, que ela homenageou com o álbum Adriana Partimpim (nome de infância da cantora) de que faz parte aquela fabulosa canção que quase todos sabemos de cor, “Fico Assim Sem Você”. Pequeno álbum de dez canções, o trabalho de 2004 guarda ainda outra preciosidade que nos lembra como todos já fomos crianças: “Saiba”
Saiba!
Todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão, também
Hitler, Bush e Saddam Hussein
Quem tem grana e quem não tem...
Apesar deste trabalho fofo e delicado, Adriana é, sobretudo, uma cantora e compositora que canta o amor e as suas diversas facetas.
Na viragem do século, Adriana lança dois álbuns, sendo que o segundo – Perfil – reúne muitos dos seus grandes êxitos: “Devolva-me”, “Mentiras”, “Esquadros”, “Senhas”, “Maresia”, “Vambora”. Em qualquer um destes temas, Adriana Calcanhotto combinou uma ideia musical moderna, sedutora e melodiosa com letras de grande sensibilidade poética. Talvez por isso nenhum de nós estranhe as 500 mil cópias que o disco vendeu.
Se repararmos em canções como “Devolva-me” ou “Vambora” (de que gosto particularmente), observamos como Adriana exprime tão bem os intrincados labirintos duma relação amorosa, onde o desânimo e a descrença moram na porta do lado do mais profundo arrebatamento.
E não me procure mais
Assim será melhor, meu bem!
O retrato que eu te dei
Se ainda tens, não sei
Mas se tiver, devolva-me!”
Devolva-me
"Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida”
Vambora
Na primeira década deste século, Adriana voltou a fazer algo que marcou início da sua carreira: produzir músicas para novelas, além de começar a colher os frutos duma carreira em ascensão. Em 2011, regressa com novo trabalho, Micróbio de Samba, todo ele dedicado ao samba, algo que Calcanhotto nunca tinha feito em duas décadas de carreira.
Dois anos volvidos, lançou a tournée “Olhos de Onda”, durante a qual tive a oportunidade de a ver, ao vivo, na Casa da Música, no Porto. Dessa noite, guardo a imagem duma Adriana algo distante do público, mas muito profissional. Todas as músicas me pareceram duma grande beleza poética, com letras extensas, a exigir uma grande capacidade de memorização à cantora. Entre as várias composições ouvidas, a minha memória guarda “Maldito Rádio”, que Adriana compôs, a partir dum tema de Ricardo Tozzi.
“Maldito rádio
Agora que parecia que eu ia
Mudar de vez o curso dessa história
Agora que parecia que ia ser agora
Não é momento
De repisar canções que são só minhas
Maldito radio não me faça pensar nela
Volte pros anúncios
Para, para o hit da nova novela”
Adriana Calcanhotto é fácil de descodificar: simplicidade, beleza, talento. Ouvi-la, deixar-nos-á melancólicos, amorosos ou saudosos, mas a sua voz é quase sempre irresistível.
Gabriel Vilas Boas.
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