As cidades são feitas de pessoas e
das marcas por elas deixadas. Ao observarmos a paisagem urbana, de cidades como
Lisboa e Porto, percebemos que ao longo de séculos esta foi sendo objeto de uma
dinâmica em que novas marcas foram acrescentadas ou substituíram outras na
complexa malha citadina.
No entanto, foi em meados do século
XVIII, que estas cidades conheceram uma mudança urbanística e arquitectónica
que iria alterar profundamente o seu aspecto. Apesar do Neoclassicismo em
Portugal surgir um pouco mais tarde, do no resto da Europa, muito devido à
continuidade das ideias absolutistas, este estilo perdurou até ao século XX
sustentado pela arquitectura pública e estatal.
Percorrendo as avenidas, ruas e
ruelas destas duas cidades portuguesas, verificamos que estas são muito
diferentes, quer na questão dos estilos arquitetónicas, quer da própria luz,
ou ainda das cores utilizadas nos edifícios, não só da que advém da cor da
pedra (granito ou calcário) mas também das cores empregues nos tão típicos
azulejos ou mesmo nas fachadas pintadas de cores mais berrantes ou mais pastel.
Analisemos então as duas cidades um
pouco mais a fundo, quanto à diferença que estas apresentam no mesmo período da
história, Neoclássico, e que é o que
ainda hoje as caracteriza, as distingue e as torna tão especiais.
Lisboa, depois da destruição originada pelo
terramoto de 1755, principiou a reconstrução liderada pelo marquês de Pombal.
Surgiu assim o estilo Pombalino,
fruto da necessidade e do espírito de iniciativa Português. É um tipo de
arquitectura inteligente e muito bem concebida, pois abarca o primeiro sistema
anti-sísmico e o primeiro método de construção em grande escala pré-fabricado
no mundo. A baixa de Lisboa está construída sobre uma verdadeira floresta de
estacas enterradas e como estão expostas à água, não correm o perigo de
apodrecer conservando a sua elasticidade natural.
O aspeto da cidade de Lisboa é
completamente modificado. As ruas com aspecto labiríntico de traçado medieval,
dão lugar a um traçado rectilíneo e ortogonal. Os espaços tornam-se espaçosos,
permitindo condições de iluminação e arejamento até aí inexistentes. A
simplicidade é completa e funcional, eliminando tudo o que é supérfluo, incluindo
a decoração, impondo uma sobriedade racional, refletindo assim o espírito do
iluminismo patente na época e um forte carácter neoclássico, ainda sem ordens
arquitectónicas clássicas, mas submetendo o acessório à razão.
O “Neoclassicismo Lisboeta” é mais
tardio que no Porto devido sobretudo à influência que a “Escola de Mafra” teve
neste território e também podemos dizer que este estilo se diferencia do do
Porto, quer pela data quer pela origem das suas influências. Lisboa recebe
influências italianas, da antiga Roma imperial, devido ao gosto dominante na
corte portuguesa e da ligação dos bolseiros e artistas italianos que viviam na
capital.
No Porto, a segunda metade do século
XVIII trouxe novas transformações urbanísticas e arquitectónicas que vão
alterar profundamente o aspecto da cidade. Foram causas determinantes para o
aparecimento desta nova fase, o aumento rápido da população e da atividade
mercantil, sobretudo do vinho do Porto, e ainda a nomeação de João de Almada e
Melo como comandante militar.
O plano urbanístico de João de Almada para a
cidade do Porto, um dos primeiros planos de conjunto a aparecer na Europa,
pretendia renovar a cidade antiga e ordenar o crescimento para fora da muralha
Fernandina. Foi incrementada uma concepção mais racional da cidade, defendendo
aspectos como a luz, a higiene e a salubridade. Conforme estes novos conceitos
urbanísticos as construções deviam submeter-se a planos rigorosos em que se
favorecia o conjunto arquitectónico e não o edifício isolado. A planta das
novas ruas era acompanhado pelo desenho dos alçados a edificar. Estas áreas
constituem, ainda hoje, paradigma de coerência e equilíbrio na relação
rua-conjunto edificado.
A segunda metade do século XVIII foi
também a época da construção de grandes edifícios exemplares da arquitetura
neoclássica de influência inglesa, que se prolongaria ainda pelo século XIX.
Podemos então concluir que a cidade
do Porto, em resultado da importante comunidade britânica, desenvolve edifícios
de forte influência inglesa, por vezes quase “palladianos” (Andrea Palladio
arquiteto italiano renascentista/maneirismo).
No entanto o forte carácter
funcionalista é uma das características comuns entre os dois polos.
Teresa Beyer
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