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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O URBANISMO DO SÉCULO XVIII NAS CIDADES DE LISBOA E PORTO





As cidades são feitas de pessoas e das marcas por elas deixadas. Ao observarmos a paisagem urbana, de cidades como Lisboa e Porto, percebemos que ao longo de séculos esta foi sendo objeto de uma dinâmica em que novas marcas foram acrescentadas ou substituíram outras na complexa malha citadina.
No entanto, foi em meados do século XVIII, que estas cidades conheceram uma mudança urbanística e arquitectónica que iria alterar profundamente o seu aspecto. Apesar do Neoclassicismo em Portugal surgir um pouco mais tarde, do no resto da Europa, muito devido à continuidade das ideias absolutistas, este estilo perdurou até ao século XX sustentado pela arquitectura pública e estatal.
Percorrendo as avenidas, ruas e ruelas destas duas cidades portuguesas, verificamos que estas são muito diferentes, quer na questão dos estilos arquitetónicas, quer da própria luz, ou ainda das cores utilizadas nos edifícios, não só da que advém da cor da pedra (granito ou calcário) mas também das cores empregues nos tão típicos azulejos ou mesmo nas fachadas pintadas de cores mais berrantes ou mais pastel.

Analisemos então as duas cidades um pouco mais a fundo, quanto à diferença que estas apresentam no mesmo período da história, Neoclássico, e que é o que ainda hoje as caracteriza, as distingue e as torna tão especiais. 
 Lisboa, depois da destruição originada pelo terramoto de 1755, principiou a reconstrução liderada pelo marquês de Pombal. Surgiu assim o estilo Pombalino, fruto da necessidade e do espírito de iniciativa Português. É um tipo de arquitectura inteligente e muito bem concebida, pois abarca o primeiro sistema anti-sísmico e o primeiro método de construção em grande escala pré-fabricado no mundo. A baixa de Lisboa está construída sobre uma verdadeira floresta de estacas enterradas e como estão expostas à água, não correm o perigo de apodrecer conservando a sua elasticidade natural.

O aspeto da cidade de Lisboa é completamente modificado. As ruas com aspecto labiríntico de traçado medieval, dão lugar a um traçado rectilíneo e ortogonal. Os espaços tornam-se espaçosos, permitindo condições de iluminação e arejamento até aí inexistentes. A simplicidade é completa e funcional, eliminando tudo o que é supérfluo, incluindo a decoração, impondo uma sobriedade racional, refletindo assim o espírito do iluminismo patente na época e um forte carácter neoclássico, ainda sem ordens arquitectónicas clássicas, mas submetendo o acessório à razão.



O “Neoclassicismo Lisboeta” é mais tardio que no Porto devido sobretudo à influência que a “Escola de Mafra” teve neste território e também podemos dizer que este estilo se diferencia do do Porto, quer pela data quer pela origem das suas influências. Lisboa recebe influências italianas, da antiga Roma imperial, devido ao gosto dominante na corte portuguesa e da ligação dos bolseiros e artistas italianos que viviam na capital.

No Porto, a segunda metade do século XVIII trouxe novas transformações urbanísticas e arquitectónicas que vão alterar profundamente o aspecto da cidade. Foram causas determinantes para o aparecimento desta nova fase, o aumento rápido da população e da atividade mercantil, sobretudo do vinho do Porto, e ainda a nomeação de João de Almada e Melo como comandante militar.
 O plano urbanístico de João de Almada para a cidade do Porto, um dos primeiros planos de conjunto a aparecer na Europa, pretendia renovar a cidade antiga e ordenar o crescimento para fora da muralha Fernandina. Foi incrementada uma concepção mais racional da cidade, defendendo aspectos como a luz, a higiene e a salubridade. Conforme estes novos conceitos urbanísticos as construções deviam submeter-se a planos rigorosos em que se favorecia o conjunto arquitectónico e não o edifício isolado. A planta das novas ruas era acompanhado pelo desenho dos alçados a edificar. Estas áreas constituem, ainda hoje, paradigma de coerência e equilíbrio na relação rua-conjunto edificado.


A segunda metade do século XVIII foi também a época da construção de grandes edifícios exemplares da arquitetura neoclássica de influência inglesa, que se prolongaria ainda pelo século XIX.
Podemos então concluir que a cidade do Porto, em resultado da importante comunidade britânica, desenvolve edifícios de forte influência inglesa, por vezes quase “palladianos” (Andrea Palladio arquiteto italiano renascentista/maneirismo).
No entanto o forte carácter funcionalista é uma das características comuns entre os dois polos.



Teresa Beyer

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