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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

DA ARTE, DA PINTURA, DO EXPRESSIONISMO EM AMADEO DE SOUZA-CARDOSO


Amadeo de Souza-Cardoso, Tristezas cabeça (1914) 

“Tenho sentido momentos em que tudo me aparece de uma esterilidade negra, de impotência realizadora, de gasto, de inútil; outros de irradiação celeste, de fecundidade imensa, de um abrir criador como a flor se abre ao sol. E contra isto, choques de sentimentos, massacres de ideias, onde pensamentos velhos resistem a pensamentos novos e pensamentos novos se formam de sentimentos velhos. Nos momentos de calma, das entre-lutas refaço as trincheiras da resistência, examino a minha capacidade de energia vital e aparece-me a vitória nítida.”
Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a sua mãe, abril de 1914, Paris

A personalidade de Amadeo, imbuída de intensa espiritualidade e algum drama podem, se quisermos, ajudar a explicar também o seu envolvimento no movimento expressionista que se desenvolveu na Alemanha, na primeira década do séc. XX.
Esta vanguarda, caraterizada pela utilização expressiva da cor e da forma, surge como reação à objetividade do Impressionismo, propondo uma pintura mais intensa, em jogo de emoções e sensações, num dramatismo só comparável à própria vida. Os mais profundos sentimentos deveriam emergir da cor, intensa em pinceladas violentas e bruscas. A analogia com a época impõe-se. A situação política e económica da Europa na viragem do século, o mal-estar social e a crise de valores provocada por uma invasão desenfreada da tecnologia, pelos excessos da industrialização desumana e pelo crescimento assustador das cidades é denunciada pelos expressionistas; influenciados pela generalização da crise, que atinge o seu auge com o rebentar da Primeira Grande Guerra, estes pintores privilegiam a expressão dos estados de espírito subjetivos em temas como a doença, a solidão, a ânsia do amor insatisfeito ou a deceção e angústia.
                Inspiram-se nos primitivos e na arte negra e tribal, isentas de mácula de modernidade; imagens arcaicas e quase naif, em distorções e fortes contrastes cromáticos invadem as telas dos pintores dos grupos Die Brucke (A Ponte),de Dresden e Der Blaue Reiter, (O Cavaleiro Azul)a segunda vanguarda expressionista em direto de Munique.
Amadeo foi permeável a esta nova vanguarda aquando da sua passagem meteórica pela Alemanha e desenvolve trabalhos que se aproximam desta estética em trabalhos quer de pintura quer de desenho, num interessante diálogo com o pensamento expressionista do seu tempo.
A inspiração primitivista e a recuperação das máscaras africanas está presente no conjunto de cabeças/máscaras que vai produzindo desde 1908. Estas figurações integram-se em tipos humanos com estados emocionais alterados, onde se chega a roçar a violência física e emocional, num grotesco inesperado e sem fim.

Alma de expressionista, portanto. Assim era Amadeo.

Amadeo de Souza-Cardoso, Luto cabeça boquilha (1914)


Amadeo de Souza-Cardoso, O rata (1915)

Rosa Maria Alves da Fonseca

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