O dia 29 de outubro de 1929 ficará para sempre conhecido como um dos piores dias da história dos Estados Unidos e do sistema capitalista. Naquela terça-feira negra a bolsa de Nova Iorque entrou em colapso e com ela arrastou toda a economia americana e mundial que tentava levantar-se, depois da destruição provocada pela Primeira Guerra Mundial.
Só na primeira meia hora da sessão foram vendidas 3 259 800 ações. O desespero tomara conta dos acionistas que tentavam desfazer-se das ações que detinham o mais rapidamente possível, pois o seu valor descia vertiginosamente. A queda começara na quinta-feira anterior, mas os bancos haviam intervindo durante o fim-de-semana, tentando evitar a derrocada do sistema financeiro, mas de nada valeu, pois o pânico estava instalado entre os investidores que continuavam a vender na segunda-feira. Na terça-feira, foram vendidas 16 milhões de ações e as empresas norte-americanas cotadas em bolsas perderam, num só dia, 40 biliões de dólares de valor.
Os acontecimentos dos dias subsequentes vieram provar que o mundo financeiro entrava no movediço terreno da especulação e os preços das ações continuaram a cair para valores inimagináveis, umas semanas antes.
A Terça-Feira negra representou o começo de dez anos de colapso económico e a entrada na “Grande Depressão” que afetaria toda a economia mundial e criaria condições propícias à Segunda Grande Guerra Mundial.
O sistema capitalista como qualquer outro sistema económico tem virtudes e defeitos. No entanto, agora que o conhecemos há quase um século podemos perceber de que se alimenta: especulação, ambição, ganância, trabalho, rotação de capital, gestão de expectativas e do medo.
Oitenta e cinco anos depois pouca coisa mudou. Pensou até que piorou, pois agora não são «apenas» as grandes empresas dum país importante que desmoronam como castelos de cartas, mas assistimos à queda de países como a Islândia, a Grécia ou Portugal que deixam de honrar os seus compromissos e têm de pedir ajuda externa para sobreviver, sujeitando-se à ditadura de quem empresta.
Quando a bolsa de Nova Iorque crashou há oitenta e cinco anos, toda a gente percebeu os efeitos radioativos duma economia apenas assente na especulação financeira, mas como todos os viciados, o mundo voltou a entregar-se nos braços do seu carrasco.
Depois de novamente embalados no poder do dinheiro, os governantes das principais economias mundiais voltaram a jogar a vida dos seus povos na roleta do casino. Obviamente o prémio sai sempre à casa. Desde há dez anos vivemos algo semelhante à grande depressão dos anos trinta do século passado. Milhões perderam o emprego, milhões vivem abaixo do limiar da pobreza, centenas vivem em condomínios fechados, sem remorsos. O sistema financeiro foi feito para ter este resultado! Não há que ter ilusões.
A solução não está em banir o capitalismo ou as bolsas de valores como grande satã das sociedades modernas. Na minha opinião, há que ver as coisas em perspetiva: as bolsas são o coração do sistema financeiro, mas este é só uma parte da economia. E a economia é só uma parte da sociedade. A solução é não permitir àquilo que é minoritário atuar como maioritário…
Isto é muito difícil de fazer? Estamos a mexer com pessoas poderosas e com muito dinheiro e poder? Difícil é pagar dívidas colossais que não fizemos; difícil é deglutir BPN, BES e BPP. Afinal de contas, o ex. dono disto tudo nem dono da casa dele é… por isso, o medo não se justifica!
Gabriel Vilas Boas
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