Há pouco mais de uma semana fui desafiado pela minha família para uma sessão de cinema familiar: “Marie Antoinette”, de Sofia Coppola, era o filme em questão.
Ainda que não me tivesse enchido as medidas gostei do que vi. Trata-se dum filme biográfico sobre a controversa última rainha de França, cujo fim trágico o filme ignora, numa opção discutível da realizadora.
“Marie Antoinette” relata a história eletrizante, mas íntima, da vida turbulenta de uma das vilãs mais conhecida da história mundial. Kisten Dunst interpreta a infeliz princesa austríaca que casou com o jovem e apático rei de França, Luís XVI (Jason Schwartzman). Sentindo-se isolada numa corte onde abundava o escândalo e a intriga, Marie Antoinette desafiou tanto a realeza como o povo, atuando como uma estrela de rock, o que só serviu unicamente para selar o seu destino: ser morta, quando fugia do povo em fúria.
O melhor do filme é mesmo o guarda-roupa. Um trabalho excelente de Milena Canonero que veste as personagens com um pormenor epocal extraordinário. Os vestidos, os sapatos, a decoração de interiores fazem-nos viver intimamente todo o ambiente de fausto, luxo e exagero da corte de Luís XVI.
Mas o objetivo de Sofia Coppola era outro: mostrar Marie Antoinette com os olhos duma mulher do século XXI. E conseguiu-o. A última rainha francesa surge-nos como uma caprichosa estrela de rock and roll. O tom é dado pela bela banda sonora, toda ela feita de rock puro. Essa é a surpresa com que começa o filme. A pose inicial da protagonista traça imediatamente a personalidade da jovem Marie Antoinette: prazer, luxúria, soberba, futilidade.
O filme mostra mais do que diz. A pobreza do argumento surpreendeu-me, mas talvez a realizadora parta do princípio que todos nós já conhecemos muito bem a história da princesa austríaca que casou com um inexperiente príncipe francês e chegou a Paris sem nunca ter visto o futuro marido, apenas para solidificar a aliança que a mãe queria com a França.
Sofia Coppola não desmente em nada a imagem que temos de Marie Antoinette: fútil, perdida em festas, completamente nas tintas para o povo que passava fome, vivendo no fausto e no luxo sem qualquer tipo de remorsos. São inúmeras as cenas de festas onde os excessos de bebidas, bolos e jogo são a regra. Sofia mostra quase sempre os fins de festa, as salas desarrumadas, a comida pela chão, para ilustrar bem o desregramento em que Marie Antoinette passava os dias.
Mas Sofia Coppola acrescenta algo de novo à biografia da polémica rainha de França: a falta de amor, a solidão, a infelicidade em que vivia. Marie teve de esperar meses para que o marido cumprisse o seu papel de homem. O desinteresse que Luís XVI demonstrava pela bela mulher é até um pouco constrangedor. Foi preciso o cunhado vir expressamente de Viena para lhe dizer o óbvio: os herdeiros, do trono, só nascem quando os reis mostram um mínimo de competência com as suas esposas. O casal lá teve os seus filhos, mas o amor nunca chegou à vida de Marie Antoinette. Desse modo, o leitor enquadra melhor o amante que Marie Antoinette teve sem qualquer tipo de remorsos.
Entretanto, o povo tomou a Bastilha, os reis tiveram de partir e a monarquia também. Chegava a Revolução Francesa. Mas isso já não interessava a Sofia Coppola. O filme, da filha do mestre Francis Ford Coppola, queria falar-nos da futilidade de Marie Antoinette, mas também da sua infelicidade, sem deixar de mostrar a hipocrisia da corte e o desprezo com que os últimos reis de França olhavam o seu povo.
Gabriel Vilas Boas
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