Quando a paz se instalava na Europa devastada pela mais violenta guerra que o mundo conhecera até meados do século XX, Oliveira Salazar criava a PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) que veio suceder à PVDE, criada em 1933.
Apesar de ter ido criada para prevenir e combater o crime, sendo também responsável pela instrução de processos crimes contra estrangeiros que tentavam entrar ou permanecer ilegalmente em Portugal, a PIDE ficou conhecida como uma polícia política que tudo fez para neutralização da oposição ao Estado Novo.
Durante mais de 24 anos em que existiu não teve pejo nenhum em torturar para obter informações sobre os mais ínfimos movimentos da oposição ao regime. Se fosse preciso, e algumas vezes foi, matava, como foi o caso do General Humberto Delgado, assassinado em Espanha por um agente da PIDE, depois do General Sem Medo ter desafiado o regime ao ter concorrido contra o candidato da união Nacional nas eleições presidenciais de 1958.
Na maioria das vezes, usava a censura, nos jornais, revistas, televisão e livros, o que impedia que as ideias contra o regime se difundissem.
A teia pidesca estava tão bem montada que incluía as relações pessoais mais íntimas dos investigados, os quais muitas vezes eram denunciados por irmãos, familiares, amigos de infância.
Nesse sentido, a PIDE instalou um clima de medo e terror na sociedade portuguesa em que ninguém confiava em ninguém. Isso demorou anos a refazer e em muitos casos foi preciso que a substituição geracional completasse o processo de regeneração de confiança.
Os portugueses mais antigos ainda recordarão como a sua juventude e dos seus progenitores foi marcada pelo medo de ser denunciado como oposicionista ao regime, como alguns amigos desapareceram sem deixarem rasto, como pessoas próximas foram torturadas da maneira mais cruel e ignóbil até confessar o mais insignificante detalhe.
Muitas pessoas ainda vivas ficaram boquiabertas quando, após a extinção da PIDE/DGS, consultaram os arquivos desta polícia política e verificaram dezenas de cartas suas, algumas íntimas, ali arquivadas.
Felizmente, os governantes portugueses tiveram o bom senso de não entrar num processo de ajuste de contas com aqueles que declaradamente ou de modo mais encoberto traíram a confiança dos seus.
Todos nós sabemos que qualquer país precisa de serviços secretos que defendam a integridade do Estado contra ataques externos, no entanto é de todo intolerável que esses serviços minem a confiança que os cidadãos precisam de ter uns nos outros.
A implementação da PIDE em Portugal, naquele nefasto dia de outubro de 1945, foi um momento muito escuro da nossa História. Recordá-lo é um sinal de alerta para que nunca mais se repita.
Gabriel Vilas Boas
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