Quando
penso naquilo que é essencial para o desenvolvimento cultural duma pequena
cidade portuguesa lembro-me com frequência dos equipamentos culturais básicos:
uma biblioteca, um cinema, um teatro, um centro cultural, um centro cívico.
Normalmente, o teatro é sempre o último a ser construído e em algumas terras,
como por exemplo Amarante, aquele que é esquecido.
Eu sei, perfeitamente, que é o equipamento mais caro e
aparentemente com menos rentabilidade. Basta observar quão poucos são os espectadores
de teatro nas grandes cidades portuguesas e como maravilhosas salas de
espetáculos espalhadas pelo país raramente se enchem por causa duma peça de
teatro. Por outro lado, uma biblioteca, uma sala de cinema, um auditório têm um
público mais fiel e são muito mais fáceis de construir e gerir, havendo
facilidade de ocupação e programação.
No entanto, um teatro municipal é o elemento
verdadeiramente estruturante na política cultural duma cidade pequena ou média
em Portugal. Quando tecnicamente bem construído, um teatro é multidisciplinar.
Serve as representações teatrais, o cinema, a música, as palestras, as conferências,
as apresentações de livros.
Se nos centrarmos em exclusivo na arte que Molière,
Shakespeare ou Gil Vicente imortalizaram, chegamos à conclusão que um teatro
municipal permite que várias companhias teatrais possam apresentar os seus
trabalhos, durante todo o ano e não apenas no verão, quando as condições
atmosféricas permitem e até convidam a representações ao ar livre.
Todos os anos, uma cidade como Amarante fica privada de
teatro, porque as companhias não se deslocam a uma cidade que não lhes fornece
os meios mais básicos de atuação. A cidade apenas dispõe dum pequeno auditório, no centro cultural de Amarante, onde existem algumas condições técnicas para a
representação teatral, mas não dispõe, sequer, de duzentos lugares sentados, o
que não viabiliza economicamente qualquer espetáculo dum companhia profissional
ou semi-profissional de teatro. E sem elas, dificilmente teremos teatro de
qualidade, precisamente aquele que conquista e fideliza o público.
Por outro lado, um teatro municipal deve existir em
perfeita ligação com as escolas da cidade ou do concelho. Existindo esse espaço,
as escolas tinham um ótimo pretexto para oferecer aos seus alunos uma atividade
extracurricular tão rica como o teatro. Quem já representou ou encenou a mais
pequena ou insignificante peça teatral numa escola, como foi o meu caso, sabe
quanto esta atividade desenvolve os alunos em várias dimensões: sociológica,
cultural, artística.
Um aluno aprende a estar em palco, ganha autoestima,
melhora a dicção, aprofunda os seus conhecimentos literários, faz amigos, vive
emoções profundas e irrepetíveis.
Um espaço cultural, como um teatro, cria vida cultural
numa cidade. Claro que isso depende da capacidade de iniciativa dos agentes
culturais dessa cidade, mas quando não existe onde fazer, o brilho desaparece dos olhos de muita gente e a
vontade esmorece com mais facilidade.
E se fizermos honestamente as contas, veremos que a
cultura é dos investimentos mais produtivos e rentáveis que um município pode
fazer.
Gabriel Vilas Boas
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