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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

AS EMPRESAS DETESTAM MULHERES GRÁVIDAS


Obviamente não são todas as empresas, mas é um dado comumente aceite pela generalidade da sociedade portuguesa que as empresas em Portugal “evitam” contratar mulheres grávidas ou que tenham ideias de engravidar.
Numa ocasional conversa com alguns alunos da minha direção de turma, perguntei-lhes quem contrataria uma empresa portuguesa: uma mulher grávida e altamente qualificada ou uma mulher não-grávida e mediamente qualificada? A resposta sai pronta e decidida: a mulher não-grávida.
É impressionante como adolescentes de 14/15 anos já têm uma perceção nítida das más práticas laborais que os espera e de como a mentalidade empresarial e social, que enferma o nosso país, continua a ser injusta e errada.

Recentemente, um jornal diário português fazia manchete como o seguinte título “Governo vai obrigar empresas a dar horário flexível a mães e pais”. Quando temos de “obrigar” uma empresa a ter que cumprir a lei, já começamos a “perder o jogo”. Uma empresa que precisa de “ser obrigada” a flexibilizar os horários de quem é pai ou mãe, não percebe patavina de coesão social, de economia, de motivação no e para o trabalho.

A paternidade e a maternidade fazem parte da vida das sociedades assim como as empresas. E são tão ou mais importantes aquelas que estas.
 As empresas não querem perceber este princípio de reciprocidade? Por que há de a sociedade entender as suas dificuldades de financiamento e adiar um, dois, três, seis meses o pagamento das suas dívidas? Seguindo o seu princípio economicista, há que executar de imediato a caução.
As empresas são feitas de pessoas, as que trabalham e as que dirigem, portanto o problema não se resolve com recurso ao computador, mas mudando mentalidades.
Os direitos são como os valores – devem ser entendidos, aceites, assimilados e cultivados. Como qualquer empresário avisado sabe, um bom negócio só é realmente bom quando aproveita a ambas as partes.

Gabriel Vilas Boas

terça-feira, 29 de novembro de 2016

OS MÉDICOS ESTÃO A REBENTAR DE CANSAÇO



Quem anda pelos hospitais já reparou, por certo, que muitos médicos estão no limite da exaustão. São horas e horas de consultas, urgências, operações, num ritmo frenético e desumano, onde o perigo de erro médico espreita a cada esquina.
Um estudo recente refere que dois em cada três médicos sente que atingiu o limite de saturação física e psicológica. O inquérito foi feito a cerca de 10 mil médicos e revela, igualmente, que são os médicos entre os 30 e os 45 anos que mais acusam o stress de uma profissão, onde falhar é literalmente a morte do artista.

Por que chegamos a este ponto? Fecharam-se hospitais? Não! O número de doentes que procuram os cuidados médicos aumentou exponencialmente? Não. O número de médicos diminui assustadoramente? Diminui, mas não tanto assim que justifique este estado de pré caos.

Na minha opinião, é a conjugação de pequenos fatores que ficaram do tempo da troika assim como uma fratura entre “médicos com estatuto” e “médicos sem estatuto” no hospital, que está a ditar esta perigosa situação nos hospitais portugueses.

Começo pelos pequenos "probleminhas" que ficaram do tempo da troika: os enfermeiros tiveram de se fazer à vida e foram ganhar dinheiro para o Reino Unido, deixando os hospitais descalços de pessoal essencial à manutenção dos cuidados básicos de saúde; muitos dos melhores médicos que trabalhavam no serviço nacional de saúde foram naturalmente aliciados pelos hospitais privados a mudarem-se de armas e bagagens para um serviço onde a pressão é menor, o salário é bem maior e o horário é humano. Por outro lado, a capacidade técnica, humana e tecnológica destes hospitais privados já é muito aceitável e os médicos percebem que têm boas condições de trabalho no setor privado.

Paralelamente, nos hospitais acentuou-se a diferença de estatuto entre os médicos. Os mais novos trabalham mais, em piores condições e ganham menos. Os seus direitos laborais são, por vezes, inferiores aos colegas mais velhos, por via das alterações que se fizeram nos contratos, dentro da função pública, na última década.
Fica-me a ideia que nos hospitais portugueses há claramente médicos de 1.ª e médicos de 2.ª: uns trabalham o necessário no hospital e têm estatuto suficiente para escolher um horário que lhes permita ainda exercer medicina privada; outros acumulam horas e mais horas, atendendo um público cada vez mais exigente, violento e com todo o tipo de mazelas, ganhando um salário mediano. São estes que se sujeitam a todo o tipo de ditames das direções hospitalares e já não conseguem disfarçar aquele semblante de zombie, que nem repara que à sua frente está uma pessoa física, psicológica e emocionalmente debilitada.
Não reparam, porque eles não estão muito melhor!

Gabriel Vilas Boas

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O DIA EM QUE AS MULHERES COMEÇARAM A VOTAR

A Nova Zelândia foi o primeiro país do mundo em que as mulheres votaram em eleições gerais, quando o sufrágio universal foi garantido a todas as mulheres maiores de 21 anos, incluindo as indígenas maoris. Aconteceu há pouco mais de 120 anos, no dia 28 de Novembro de 1893, mais de um século depois da revolução francesa!
Kate Sheppard (líder histórica do Temperance Union) tinha organizado uma petição nacional a pedir o voto das mulheres nas eleições, mas apenas um quarto do potencial eleitorado feminino assinou a petição, o que diz bem do desinteresse das mulheres por um dos seus direitos mais básicos ou então como o julgavam inalcançável.


A eleição daquele dia de Novembro de 1893 foi um marco na cidadania mundial, sendo descrita por um jornal local como a eleição “mais bem conduzida e ordeira realizada no país”. Ganhou o partido liberal, chefiado por Richard Seddon, mas isso tem pouca relevância. O que ficou para a história foi este enorme passo dado por um país da Oceânia, onde Kate Sheppard ganhou honras de figurar esfingicamente nas notas de 10 dólares neozelandesas, o que ainda hoje acontece.
Este feito é ainda mais assinalável se tivermos em consideração que só no século XX, as mulheres ingleses (1928) e norte-americanas (1920) alcançaram o mesmo direito.
Nos últimos cem anos as mulheres conseguiram uma aproximação assinalável dos seus direitos aos dos homens, todavia, hoje, em muitos pontos do mundo, muitas mulheres não percebem o alcance do que foi conseguido nem conseguem apreender aquilo que as mulheres há cerca de cem anos não tinham.
É bom lembrar a História, porque há muitos pontos no globo onde ainda não se escreveu nem fez História e a luta pelos mais elementares direitos das mulheres, como o direito ao voto, ainda faz todo o sentido.
Gabriel Vilas Boas  

domingo, 27 de novembro de 2016

OS PROFESSORES TRABALHAM BEM MAIS QUE O SEU HORÁRIO? MUITOS ALUNOS TAMBÉM!

Por esta altura do ano, alunos e professores andam embrenhados na realização e correção dos testes.
Quando alguém lembra aos professores o magnífico horário que têm, eles apontam para épocas do ano como esta, em que têm de corrigir centenas de testes, em poucos dias, ao mesmo tempo que cumprem o seu horário letivo e não letivo. São tempos duros, extenuantes, em que todos têm a sensação que trabalham bem para além da conta.

No entanto, esta sobrecarga não é apenas para os professores, mas também para os alunos!! Ok, não é para todos… aqueles que não investem na sua formação como deviam parecem andar flauteados, mas há muitos outros que estudam horas e horas, preparando-se para os testes. 

O que mais me intriga é que os seus professores, apesar de sistematicamente apelarem ao estudo parecem esquecer o horário dos pequenos. São 32 horas para crianças de 10/11 anos e mais de 35 para crianças de 13 anos. Quase todas elas têm aulas, desde as 8.30 às 16.30, todos os dias da semana. Chegam a casa uma hora depois e terão disponibilidade mental e física para 90 a 120 minutos de estudo!

Como querem os professores que os alunos tirem boas notas (nível 4/5), quando marcam testes à 2.º feira e à 3ª feira e à 4ª feira da mesma semana, ao mesmo tempo que os seus colegas marcam para esses dias trabalhos de casa que demoram 60 a 90 minutos a realizar? E ai do aluno que não traga todas as perguntas do TPC feitas! De nada lhe adianta dizer que tinha teste de História naquela manhã. O professor de Inglês, Francês ou Português não quer saber. Tinha marcado “10 vezes o verbo «avoir»” e o estudo para o teste de História não é da sua conta.


Timidamente algum aluno aproxima-se do professor e pede-lhe para alterar o teste de 3.ª feira para 6.ª feira. A resposta é quase sempre “Não! Já marquei o teste há muito tempo, agora não vou desmarcar! Tens mais testes? Estuda no fim-de-semana! Olha, os teus colegas não se queixam!”

Realmente não se queixam, pois as suas expectativas são tão baixas que deixaram de se queixar, de se preocupar e de estudar. E quem quer estudar convenientemente? Resposta pronta do professor: «Tem que estudar com tempo, com antecedência!» Na verdade nem isso pode. Entre o fim dos primeiros testes e o começo dos segundos não passam duas semanas. Há disciplinas em que o essencial das matérias a avaliar se concentra nas últimas aulas antes do teste.

Muitos professores sabem disto muito bem, mas assobiam para o lado, até porque a maioria só quer “passar de ano” e “uma positiva baixa” está sempre ao alcance da maioria dos alunos. Mas é mau remedeio.
O horário de um aluno estudioso e cumpridor, durante a época de testes, vai bem além das 50 horas semanais. É o aluno que é submetido a avaliação e este não pode fazer como o professor, executando o teste noutro dia mais conveniente, porque “não foi possível acabar o estudo a tempo”.
Estou cada vez mais convencido que algumas más notas dos alunos começam também na maneira como os professores os enchem de TPC nas semanas dos testes e como não mostram abertura para fazer pequenas alterações às datas inicialmente acordadas para as provas. Isto acontece sobretudo com os alunos mais novos, do 2.º ciclo, que, por vergonha e medo, não manifestam muitas das suas angústias.
Está na altura de muitos professores olharem além do seu umbig(h)orário!
GAVB

sábado, 26 de novembro de 2016

A HISTÓRIA ABSOLVÊ-LO-Á?


Talvez. Mas não da maneira que Fidel sonhou, ou seja, dando-lhe razão política. A minha opinião assemelha-se à de Catarina Martins: Fidel Castro foi uma figura histórica de grandes feitos e de grandes erros.
Concordemos ou não com a ideologia da revolução cubana, ela teve toda a legitimidade, porque assentou na vontade popular e, quando assim é não há como não louvar quem a corporiza.
         Fidel não era um romântico como Che, no entanto tinha a determinação e a coragem dos grandes líderes e nunca se vergou perante a força económica dos EUA. Fê-lo por convicção e orgulho e acho que fez bem. Não podem ser os outros a decidir que caminho é melhor para nós. 
Fidel também esteve bem ao definir a educação e a saúde como pilares básicos da sociedade cubana, fornecendo aos seus compatriotas melhor saúde pública que muitos americanos. Talvez não fosse má ideia Donald Trump tentar explicar por que razão a maior dos cubanos ainda hoje tem um sistema de saúde público e universal bem melhor que muitos milhões de norte-americanos.
         
Ao lado de coisas boas e corajosas, Fidel fez outras muito negativas e fê-lo conscientemente, o que não tem perdão.
         Começo pelo erro mais óbvio e mais perdoável: a ideologia. Estava errada, como viria a ser provado um pouco por todo o mundo, mas Fidel persistiu nela estupidamente.
         
Depois há os erros indesculpáveis: acabar com uma ditadura para impor outra, não permitir a iniciativa privada, não deixar que os cubanos pudesse sair livremente do seu país, não abrir a economia, atirando o povo para a indigência, perseguir a assassinar os seus opositores.
Ideologicamente talvez Fidel obtenha a absolvição, porque o comunismo foi um modelo económico e social falhado como o foi o neoliberalismo, mas não consigo absolvê-lo da opressão que impôs aos seus compatriotas, não consigo perdoar-lhe as mortes, as décadas de separação que impôs a muitas famílias, a miséria a que condenou os cubanos, apenas por teimosia. 
GAVB

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A HUMILDADE PERANTE A IGNORÂNCIA



Para uns a humildade é um ato de inteligência, para outros uma maneira de estar na vida, outros ainda acham-na um acessório dispensável; para muitos um exercício difícil.
A meio da tarde de hoje, pensei nela em confronto com a… ignorância. E rapidamente percebi como o exercício sobe de nível de exigência.

A ignorância veste vários fatos: o desconhecimento, a presunção, o atrevimento, o desprezo, a falta de reconhecimento, a pobreza de espírito. Como nos mantermos humildes perante alguns destes cenários? Como continuar a ver o nosso conhecimento em perspetiva e manter uma atitude de sábia humildade?

Pressinto que seja bem mais difícil, até porque a ignorância provoca muitos dos nossos instintos mais básicos e deprimentes.
Por outro lado, a ignorância alheia facilmente faz-nos esquecer como é relativo o nosso conhecimento. Em pouco tempo achamos que somos, temos ou sabemos mais, o que não é verdade. Com facilidade a ignorância dos outros nos conduz à soberba ou ao relaxamento ou então aquela detestável peninha dos outros que tanto nos apouca.
A ignorância é um desafio à nossa humildade. Provoca-a, testa-a, fá-la crescer ou desaparecer.
E se não existir humildade mas antes vaidade, o que poderá fazer contra ela a ignorância? Fá-la-á inchar até rebentar.

Gabriel  Vilas Boas

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

MERCURY LIVE FOREVER


Já passaram 25 anos! Freddie Mercury morreu há um quarto de século e parece que foi ontem! Não é a minha geração que está a ficar velha, é a música dos Queen que se tornou imortal. Pelo menos no coração de todos aqueles que viram e ouviram os inolvidáveis concertos de Mercury.

A música dos Queen junta toda a tensão e juventude do rock com a sensibilidade de letras apaixonadas e memoráveis. Mercury era um homem de palco, de grandes concertos, de multidões. Transcendia-se, envolvia o público e fazia-o feliz. A sua música era feita com paixão e era apaixonante. Tinha aquela espécie de Kind of Magic que fazia pular e sonhar com a mesma alegria e energia.

Para qualquer fã dos Queen ou de Freddie Mercury é muito difícil escolher qual das suas músicas gosta mais. Quase todas são memoráveis. Depende do estado de espírito. Qualquer amante de futebol recordará “We are the Champions” (1977), escrita por Mercury para o «seu» Liverpool, mas os estádios ainda hoje entoam aquele “We Will Rock You” que faz subir a adrenalina e empolga jogador e espetador.

Para quem prefere o lado romântico da banda, o melhor é ouvir “Somedoby to love” ou “Love of my live”, e deixar correr todas as secretas nostalgias. Já os amantes do rock e da diversão escolherão “Under Pressure”, “I Want Be Free”, “Radio Ga Ga” ou “Who Wants To Live Forever”.
Talvez o importante não seja escolher a melhor ou a que mais gostamos, mas continuar a usufruir da beleza, da força e da magia da voz de Mercury. Quando já sabia que ia morrer, o líder dos Queen escreveu “The Show Must Go On”. E de facto ele continuou… nos nossos corações e na nossa memória. Faltou passar essa magia a quem veio depois, pois a música dos Queen é extremamente melodiosa e adaptável.
Passaram 25 anos desde que Mercury faleceu. Ele ia ficar contente por saber que ainda há muita gente que o ouve e fica feliz com isso.
Gabriel Vilas Boas

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

E O TELEMÓVEL SALVOU A AULA


Iniciado o estudo de uma obra de leitura obrigatória, há duas aulas, um professor e uma turma de 9.ºano viram-se com um problema inesperado: os livros requisitados na Biblioteca, com 48 horas de antecedência, foram levados, por outro professor, para outra escola do agrupamento.
Surpreendido por este imprevisto, o professor vê grande parte da sua planificação de aula abortada pela inexistência física da obra em estudo. Gera-se um impasse; os alunos lamentam a descortesia de que foram vítimas, o professor decide inovar e pergunta:
«Trouxeram os vossos telemóveis?»

A escola proibira o uso dos telemóveis e os alunos acanharam-se na resposta, mas rapidamente perceberam a intenção do professor e timidamente lá fora respondendo «Sim, trouxe!»
Em poucos minutos, todos os alunos da turma tinham ligado os seus smartphones à net, acedido à versão online da obra e retomado a leitura orientada da mesma.
Os telemóveis são uma ferramenta dos nossos dias. Nem diabo nem remédio santo, apenas uma ferramenta que pode ser usada por professores e alunos, com inteligência e parcimónia.

Os professores não devem desprezar ou proibir aquilo que dominam mal ou têm receio de ser usado como fator desestabilizador ou causador de problemas.
A proibição do uso do telemóvel pelos alunos não afasta este aparelho do recinto escolar nem devemos encarar o uso do telemóvel na escola segundo aquele prisma “Se não consegues vencê-lo, justa-te a ele!”, porque não é disso que se trata. O telemóvel, por si só, não é mau nem bom, mas tem enormes potencialidades escolares, a começar pela enorme “estima” que cada aluno tem pelo seu.

Há imensas tarefas escolares/exercícios de aplicação de conhecimentos que os alunos podem fazer no telemóvel. Apesar de muito custar aos professores admiti-lo, o simples uso do telemóvel motivaria muitíssimo os alunos.
Claro que é difícil monitorizar um uso adequado do telemóvel se não o sabemos usar, mas esse não é um problema dos alunos. Provavelmente, eles diriam com inegável gozo:
«O professor não se dá com o telemóvel? Tem que estudar mais; fazer os trabalhos de casa que lhe recomendei; ser persistente; não desistir à primeira dificuldade.»

Gabriel Vilas Boas

terça-feira, 22 de novembro de 2016

COSTA ANDA A PÔR AS CONTAS DA CÂMARA DE LISBOA NOS “CARRIS”


Paulatinamente, sem fazer muito alarido, António Costa anda a limpar a enorme dívida da Câmara Municipal de Lisboa (CML) à custa do governo.
Primeiro, “obrigou” o governo de Passos Coelho a comprar por 286 milhões de euros os terrenos do aeroporto de Lisboa, quando o anterior governo pretendia privatizar a ANA; agora dá, numa bandeja de prata, a gestão da Carris ao seu anterior «vice» e futuro candidato à CML, Fernando Medina, responsabilizando o Estado central pela monstruosa dívida de 813 milhões de euros.


Quando saiu da CML, Costa deixou a Medina capacidade de endividamento de 300 milhões para Medina gastar como lhe aprouvesse; a poucos meses das eleições assume a dívida da Carris, mas deixa a gestão ao amigo Fernando Medina, para este poder dar os presentes de Natal que quiser aos lisboetas. E Medina não se faz rogado: viagens de autocarro grátis até aos 12 anos, os idosos passam a pagar praticamente metade do que pagavam (de 26,75 euros para 15 euros); renovação de frota; aumento de funcionários; investimento de 60 milhões de euros em três anos. E onde vai Medina buscar este dinheiro, havendo uma expectável baixa de receitas? À capacidade de endividamento que Costa lhe deixou em herança; à isenção de pagamento dos juros da dívida da Carris.

Em poucos anos, A CML vai voltar a ter a dívida que tinha antes do governo lhe comprar os terrenos do aeroporto e nessa altura ninguém se lembrará que a CML (e quem a governou) durante esta década estoirou trezentos milhões de euros em obras de embelezamento e investimento eleitoral do PS & limitada.
Entretanto, o PSD anda à procura de candidato, Assunção não reage e Costa vai ajeitando a vida do governo, da CML, do PS e dos amigos.

Gabriel Vilas Boas

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS: FALA-SE DE MAIS, VIVE-SE DE MENOS

Um dos aspetos que sempre me seduziu no exercício da docência foi a possibilidade de me relacionar com muita gente: colegas, auxiliares educativos, alunos, pais.
Ao longo de duas décadas de trabalho na escola, fui ganhando uma certeza: a maneira como cada um gere os vários tipos de relacionamento, da sua vida, é fundamental para o seu equilíbrio psicológico, emocional, social. É uma gestão difícil (sempre o será), mas que paulatinamente temos vindo a tornar dolorosa.
Por que é que isto acontece, quando os nossos pensamentos se ocupam tanto dos “relacionamentos”? Encontro dois motivos: somos demasiado teóricos, somos demasiado egoístas.

Começo pelo último problema. Olhamos para os outros como se fossem peças de um xadrez, destinadas a ser manipuladas por nós. Quase sempre pensamos na melhor maneira de tirarmos o máximo partido de determinado relacionamento, sem nos preocuparmos devidamente com o outro. Ora, o outro faz o mesmo, o que resulta numa frustração dupla. Essa visão egoísta e egocêntrica de um relacionamento contradiz a essência de qualquer ligação, não deixando que nenhum tire o melhor partido da relação. 
Facilmente instala-se a desilusão. Depois virá nova tentativa, desilusão maior, incapacidade de compreender, frustração, desistência…

Associado ao egoísmo encontro o excesso de teoria. «O nosso relacionamento devia ser assim... blablá… blablá…». Cada relacionamento tem o seu tempo de descoberta, a sua história, a sua concretização. Não pode haver padrões pré-definidos, como se nós também estivéssemos programados. Não estamos! 
Cada um de nós é um ser único e irrepetível, convém lembrar... Construiremos uma relação única com os nossos filhos, com os nossos pais, com os nossos companheiros, com os nossos colegas, com os nossos amigos, se não perdermos de vista esta premissa. Tentar implementar uma fórmula ou imitar alguém será um erro crasso.

Um relacionamento não tem que ser assim ou assado, não vai lá por imposição nem decreto, mas é imperioso que se viva, ou melhor, que se vá vivendo.
Quando passamos demasiado tempo a teorizar como deve ser ou a tentar impor ao outro o nosso método ou o nosso estilo ou os nossos desejos, a relação permanece parada, mas o tempo avança.
Os dias, meses, anos que passaram… passaram; são irrecuperáveis. Mais importante que lamentar o passado, diagnosticar doutamente, pela enésima vez, o que correu mal, talvez não fosse má ideia começar a dar corpo à coisa. Pode não ser tão espetacular como imaginámos, mas será, certamente, muito mais real.

Gabriel Vilas Boas 

domingo, 20 de novembro de 2016

DO BOSQUE PARA O MUNDO

Foto da Agência Lusa APS

Do Bosque Para O Mundo é uma peça de teatro para crianças sobre o drama dos refugiados, que estreia daqui a 48 horas, no Teatro São Luís, em Lisboa.
A iniciativa da dupla Inês Baranhona (texto) e Miguel Fragata (encenação) é extremamente interessante, porque concentra a atenção no público-jovem, convidando-o à reflexão do problema humanitário, social e político mais importante dos nossos tempos.

Para que tal aconteça, Inês Baranhona criou uma história protagonizada por duas crianças afegãs, Farid e Reza, enviadas para Londres pela mãe, mas que serão separadas durante o percurso.

Ciente que a peça se destina a um público muito jovem, Miguel Fragata socorreu-se de algumas estratégias cénicas inventivas para contextualizar conceitos fundamentais como “refugiado”, “asilo”, “traficante”, “regras dos países europeus”.
Mais difícil de explicar será, certamente, a razão da forçada separação de dois irmãos, as dificuldades em obterem autorização para entrar em Inglaterra, a impossibilidade de terem a companhia dos pais. Há coisas que uma criança não entende e que um adulto também não deveria entender: a maldade, a desumanidade, o horror a tudo o que é estrangeiro…

Quer dramaturga quer encenador confiam que as crianças portuguesas, que verão esta peça, consigam encontrar pontos comuns com as personagens e sejam capazes de refletir no drama de Farid e Reza como algo que deve ser evitado, no futuro, mas que lhes pode acontecer.

A ideia de criar uma peça de teatro, sobre o tema dos refugiados, para crianças é muito interessante e pedagógica, pois fornece às crianças e jovens uma interpretação mais ampla e mais humana das notícias em que reparam desleixadamente e ajuda-os a formar uma consciência cívica sobre um assunto que, infelizmente, também lhes diz respeito.

Depois de Lisboa, espero que a peça possa percorrer outras cidades do país, de maneira a que mais público juvenil veja esta primeira abordagem teatral de um tema que faz sangrar a sociedade europeia.

Gabriel Vilas Boas 

sábado, 19 de novembro de 2016

ANOTHER LOVE


Another Love é provavelmente a música de Tom Odell mais conhecida e com maior sucesso.
Nela coexistem a força do rock e o arrebatamento das grandes paixões, que a voz de Odell sintetiza maravilhosamente e o piano dá amplitude.

No entanto, o poder de sedução de Another Love vai para além da erupção vulcânica que brota da boca de Odell e centra-se no eixo fundamental da letra:
O another love, on another love
All my tears have been used up

A repetição exaustiva deste refrão é perfeitamente intencional. Na minha opinião, Odell quer mostrar como um amor passado e do passado nos pode esgotar e condicionar, mesmo contra a nossa vontade.

O crescendo sonoro com que Tom Odell repete o seu refrão serve para acentuar o desespero do amante, pela incapacidade de reativar em si as forças do amor. Todavia, a grande força do amor é a sua capacidade de se reinventar e cada um de nós transporta em si a semente de um novo amor.
Cada amor precisa das suas flores, das suas lágrimas e gargalhadas, das suas canções, gestos singulares e decisões.

A música de Odell é poderosa e bela, mas triste, pois releva um amor que terminou. E quando um amor termina, o melhor é não fechar o coração. Passada a tristeza, secadas as lágrimas, another love surgirá como um força bruta de um vulcão e a luz intensa da aurora.

GAVB

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

AMIGOS, AMIGOS, NEGÓCIOS À PARTE


Se há coisa que devemos evitar fazer com amigos é qualquer tipo de negócio! 
O negócio pressupõe o lucro, a vitória sobre um competidor, a tomada de decisões difíceis, a objetividade absoluta; o triunfo da racionalidade sobre as emoções. 
A amizade requer outro tipo de atitude. 

Frequentemente fazer um negócio com um amigo é fazer um mau negócio ou perder um amigo. Saímos sempre a perder. 
No mundo dos negócios, o ideal é não ter amigos, porque os amigos levam-nos para uma dimensão afetiva que atrapalha os negócios. Não vale a pena desfazer uma amizade por causa de um negócio, por isso devemos evitar trabalhar com aqueles que amamos. 

É bem mais difícil tomar uma decisão racional contra aqueles de quem gostamos; é horrível criticar duramente determinado trabalho executado pelo nosso melhor amigo, quando este veste o papel de sócio; é constrangedor ter que emendar a decisão profissional de uma filha sempre que isso se impõe. 

É possível fazer bons negócios entre amigos? É! É possível dois amigos executarem um parceria económica de sucesso? É, mas a exigência é muito maior. Em cada decisão, em cada atitude, em cada negócio joga-se não apenas o futuro do negócio como o da amizade. Algum dia, algum negócio há de correr mal, porque houve uma má decisão de um dos sócios ou porque alguém insistiu numa solução infeliz. Como sobrevive uma amizade quando o negócio momentaneamente a suplantou? 

Por outro lado, os negócios despertam características de personalidade desconhecidas nos nossos amigos, algumas delas até detestáveis para eles. «Não sabia que eras capaz de fazer isso!» O escrúpulo, a ferocidade negocial, a humanidade/desumanidade de certas decisões laborais são características de um negociador implacável, mas perfeitamente dispensáveis entre amigos. 

Amizade e negócios são uma combinação problemática. Algumas amizades até podem nascer a partir de um negócio, mas o mais normal é os negócios destruíram muitas amizades. 
Gabriel Vilas Boas

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O TANTO FAZ


“Na vida tudo é relativo!” – Ouvi esta frase repetidamente dezenas de vezes quando era adolescente e um padre espanhol tentava demonstrar que apenas Deus era absoluto. Não me lembro já das suas teorias, mas a frase continua a gelar-me.
Nunca consegui aceitar a teoria da relatividade aplicada às pessoas. 
É certo que há muitas pessoas que entram nas nossas vidas e rapidamente saem, mas, enquanto estão, são para sempre! Interessa-me pouco a estatística, o poder da rotina, a cultura do descartável.
Talvez por isso me cause muita confusão quando descubro o “tanto faz” entre supostas amizades.
O “tanto faz” é o parente mais chegado do “Na vida, tudo é relativo!” O "tanto faz" é o descaso completo, é o não querer saber, é o estar apenas quando é oportuno e conveniente, é ter uma perspetiva materialista e oportunista dos relacionamentos.

O "tanto faz" parte de um espírito fraco e pobre, mas é capaz de fazer estragos consideráveis naqueles que nos viam como friends forever
O “tanto faz” magoa, entristece, faz-nos desacreditar da bondade das pessoas e da beleza da vida.  
Não é a distância que separa as pessoas; é o "tanto faz"! 
E não é preciso grandes cometimentos para mostrarmos que o “tanto faz” não faz nada connosco. Uma simples sms na altura certa; ficar junto de alguém quando a nossa presença é imprescindível; saber relativizar um descontrolo emocional ocasional; pegar no telefone e esquecer o relógio quando o outro tem necessidade de chorar, desabafar, arrostar contra o mundo.

O "Tanto faz" é o triunfo do desencanto; é uma rua escura e sem saída, onde facilmente perdemos a confiança nos outros e em nós.

Na amizade como no amor há sempre tanto para fazer, mas não há lugar para o “tanto faz”.

Gabriel Vilas Boas

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

ORGULHO NOS FILHOS

O orgulho dos pais nos filhos é um sentimento/afeto fortíssimo, belíssimo e altamente inflamável. Através dele, cada pai e cada mãe provam/revelam o tamanho do seu generoso amor.

Os problemas começam quando os pais confundem aquilo que deve ser objeto de orgulho e aquilo que apenas deve ser objeto de contentamento/alegria.

Orgulho no crescimento pessoal dos filhos; orgulho pela consistência dos seus valores; orgulho pela coerência das suas atitudes. No entanto, não faz grande sentido dizer a um filho “Sinto-me muito orgulhoso pelo resultado que tiraste no exame de Matemática” ou “Foste o melhor da turma neste trimestre! Que orgulho!”. E se não tivesse tirado uma grande nota ou simplesmente fosse um aluno mediano? Já não havia razão para o pai/mãe sentir orgulho nele? E quando há irmãos, como se sentirá aquele que obtém piores resultados escolares, quando vê os pais proclamarem orgulho nos resultados do irmão? Pois…

Outro problema da má interpretação que recorrentemente os pais fazem deste sentimento é exibirem ostensivamente o orgulho que têm nos filhos, como se o estivessem a esfregar na cara dum rival qualquer. Um sentimento tão bonito, conectado com amor e generosidade, não pode/não deve ser usado como forma de amesquinhar quem quer que seja.

Outra questão importante a reter é que o orgulho nos filhos não impede a crítica nem a crítica anula o orgulho que sentimos por eles. Podemos e devemos ter orgulho nos nossos filhos, mas é bom que eles percebam que isso não os isenta de uma justa crítica. Eles percebem isso claramente, quando sentem que os pais continuam a ter imenso orgulho neles, apesar de lhes terem passado um valente raspanete.

O orgulho que temos num filho ou numa filha não pode/deve depender dum qualquer resultado escolar, desportivo, económico nem deve ser medido comparativamente.
É bom ter orgulho nos nossos filhos, mas é ainda melhor fazê-lo sem deixar de ter orgulho nos pais que somos para que, no futuro, os nossos filhos tenham orgulho em nós.

Gabriel Vilas Boas

terça-feira, 15 de novembro de 2016

PROFESSOR CONTRATADO ABAIXO DE PRECÁRIO


Para sossegar a CGPT e o PCP, o governo anunciou informalmente que pretende acabar com os falsos recibos verdes na função Pública, que é como quem diz, acabar com os precários no Estado.
Quem pensou na ideia, dentro do governo, deve ter-se esquecido que há mais de vinte mil professores precários em Portugal há vários anos, em condições de aproveitar essa leve brisa de justiça que o governo português quer fazer correr. Quando o Correio da Manhã fez as contas, alguns membros do governo devem ter levado um susto; depois telefonaram a Jerónimo de Sousa e começaram a falar do Natal do ano que vem.

Mário Nogueira, o líder da Fenprof, já percebeu que os professores ficarão de fora desta incorporação nos quadros da função pública dos precários, apesar da diretiva europeia,  das boas intenções do governo e da pressão do PCP e BE.
Se a intenção do governo fosse incluir os professores, Mário Nogueira já o saberia e andaria a preparar os foguetes, para comemorar a sua mais estrondosa vitória política e sindical desde que é líder da mais importante organização de professores do país. O tom de suave ameaça de Nogueira deixa claramente a entender que os professores contratados ainda não conseguiram o estatuto de “precários do Estado”, porque, na verdade, estão ainda num patamar inferior.

Os professores contratados não têm culpa de serem muitos, não têm culpa de serem realmente necessários, nem lhes cabe qualquer responsabilidade neste indigno arrastar da sua situação laboral com o Ministério da Educação. No entanto, serão mais uma vez discriminados, porque “não há dinheiro”. É a conversa de sempre, até descobrirmos que lá vamos enterrar não sei quantos milhões num banco qualquer, privado ou público, que urge salvar para depois vender (ou dar) ao desbarato a um concorrente espanhol.
A falta de dinheiro até é um falso problema, porque, na verdade, o impacto da entrada nos quadros destes vinte/trinta mil docentes seria reduzido, pois ficariam a ganhar praticamente o mesmo;todavia deve fazer uma confusão medonha a muita gente que haja mais vinte/mil trinta mil funcionários públicos, ainda que na verdade eles já trabalhem para o Estado há vários anos.
Sempre se podem despedir de um dia para outro!” Nem isso é verdade. Estes professores foram, são e serão precisos. Toda a gente ligada à educação, com responsabilidades governativas, sabe disso. O problema é que não têm a coragem política necessária para o assumir, colocando-os nos quadros.   
Em política, coragem de fazer aquilo que é certo é das coisas mais raras, já a sem-vergonhice…

Gabriel Vilas Boas

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O PROFESSOR-PAPAGAIO



Para o fim da saga do professor-animal, ficou o tipo de professor com que mais me identifico.
O professor-papagaio é um professor que baseia as suas aulas na Relação. 
Ele vê a vida como uma festa maravilhosa e convida os seus alunos a disfrutá-la a partir da sala de aulas.

Nas aulas do professor-papagaio, as emoções e os adjetivos andam à solta e são um material a que o docente recorre com frequência para influenciar a turma. Para este tipo de professor, mais importante que informar é comunicar e para isso ele precisa de ativar as emoções dos seus alunos!

Com frequência, os alunos consideram o professor-papagaio simpático, divertido, entusiasmado com aquilo que ensina e otimista face às capacidades dos seus alunos. Por vezes, até demasiado otimista…
O ritmo das aulas deste professor é rápido, como o das aulas do professor-águia, mas o caminho seguido é bem diferente. O professor-águia segue um raciocínio linear enquanto o professor-papagaio pensa e fala em teia, ou seja, está constante a relacionar conhecimentos e emoções para chegar a um determinado objetivo. Para um aluno-águia, este tipo de professor é um tormento, além do excesso de fogo-de-artifício das suas aulas. Alguns pensam até que o seu professor tem uma certa vocação para as artes circenses e que toda aquela expansividade era desnecessária.

No entanto, um professor-papagaio não vive sem a alegria (emoção-base) e aquilo que mais o motiva é a relação que estabelece com os seus alunos. Adora contar histórias e por isso tornar a matéria uma “história fabulosa” onde todos os conhecimentos estão conectados entre si e os alunos deles fazem parte como atores.

O professor-papagaio é um professor influente, mas deve vigiar-se, pois o excesso das suas forças pode transformar-se na sua fraqueza.
Por exemplo, ao criar um ambiente de aprendizagem divertido, o professor-papagaio pode não estar a proporcionar um estrutura de aprendizagem suficientemente sólida aos alunos que precisam dela. Outro perigo que este tipo de abordagem de aula provoca é não seguir uma ordem lógica, que muitos alunos necessitam para se orientar.

Agora que os quatro bichos estão apresentados, fica a faltar a pergunta óbvia:
Que tipo de professor é você?

Gabriel Vilas Boas