Um dos aspetos que sempre me
seduziu no exercício da docência foi a possibilidade de me relacionar com muita
gente: colegas, auxiliares educativos, alunos, pais.
Ao longo de duas décadas de
trabalho na escola, fui ganhando uma certeza: a maneira como cada um gere os
vários tipos de relacionamento, da sua vida, é fundamental para o seu equilíbrio
psicológico, emocional, social. É uma gestão difícil (sempre o será), mas que
paulatinamente temos vindo a tornar dolorosa.
Por que é que isto acontece,
quando os nossos pensamentos se ocupam tanto dos “relacionamentos”? Encontro
dois motivos: somos demasiado teóricos, somos demasiado egoístas.
Começo pelo último problema.
Olhamos para os outros como se fossem peças de um xadrez, destinadas a ser manipuladas
por nós. Quase sempre pensamos na melhor maneira de tirarmos o máximo partido
de determinado relacionamento, sem nos preocuparmos devidamente com o outro.
Ora, o outro faz o mesmo, o que resulta numa frustração dupla. Essa visão egoísta
e egocêntrica de um relacionamento contradiz a essência de qualquer ligação,
não deixando que nenhum tire o melhor partido da relação.
Facilmente instala-se
a desilusão. Depois virá nova tentativa, desilusão maior, incapacidade de compreender,
frustração, desistência…
Associado ao egoísmo encontro
o excesso de teoria. «O nosso relacionamento devia ser assim... blablá… blablá…».
Cada relacionamento tem o seu tempo de descoberta, a sua história, a sua
concretização. Não pode haver padrões pré-definidos, como se nós também
estivéssemos programados. Não estamos!
Cada um de nós é um ser único e irrepetível,
convém lembrar... Construiremos uma relação única com os nossos filhos, com os
nossos pais, com os nossos companheiros, com os nossos colegas, com os nossos
amigos, se não perdermos de vista esta premissa. Tentar implementar uma fórmula ou imitar alguém será um erro crasso.
Um relacionamento não tem que
ser assim ou assado, não vai lá por imposição nem decreto, mas é imperioso que
se viva, ou melhor, que se vá vivendo.
Quando passamos demasiado
tempo a teorizar como deve ser ou a tentar impor ao outro o nosso método ou o
nosso estilo ou os nossos desejos, a relação permanece parada, mas o tempo
avança.
Os dias, meses, anos que
passaram… passaram; são irrecuperáveis. Mais importante que lamentar o passado,
diagnosticar doutamente, pela enésima vez, o que correu mal, talvez não fosse
má ideia começar a dar corpo à coisa. Pode não ser tão espetacular como
imaginámos, mas será, certamente, muito mais real.
Gabriel Vilas Boas
Para Refletir!!!
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