Viajar é ótimo! Conhecer pessoas é magnífico, mas até que
ponto isso não constitui uma fuga ao espelho?
Enriquecermo-nos através do exterior é uma ideia bastante
sedutora. Há sítios fantásticos e fascinantes, que nos alargam horizontes e nos
enchem a alma. Recortes da natureza de beleza ímpar, criações humanas admiráveis.
Pelo meio, vamos conhecendo pessoas que nos mostram ângulos insuspeitos da
vida, mas passamos por elas armados em máquina fotográfica que tudo quer
registar, numa ânsia gulosa de açambarcamento, sem saber muito bem como ordenar
tanta informação e emoção.
No mês seguinte voaremos para outra paragem, para novo
banho de cultura, gastronomia, maneira diferente de encarar a vida. E tudo será
bom novamente e de maneira diferente. Pararemos quando o corpo ou a carteira nos enviar uma sms sos.
E como essa paragem é terrível para alguns! Não me parece
que seja apenas o vício de viajar… Em muitos sinto o desespero do vazio sobre o
qual não têm de pensar enquanto viajam. Muitos deles dizem-me que lhes falta
algo, que as múltiplas viagens não conseguem preencher.
Viajar é bom, mas o ser humano não precisa assim tanto de
viajar a não ser que esteja a … fugir. É um contrassenso fugir, quando
procuramos encontrar algo.
Na maioria parte das vezes procurarmos encontrarmo-nos.
Na maior parte das vezes, cometemos o erro de pensar que esse encontro connosco
se fará quando conhecermos alguém especial.
Raramente é assim!
Não podemos
pensar a nossa transformação a partir do outro, como coubesse ao outro fazer as
mudanças que só nós podemos executar. O outro é essencial e deve chegar à nossa
vida, mas não como um Dom Sebastião qualquer, que nos redime de um trabalho
doloroso que não quisemos fazer.
Talvez não fosse má ideia dedicarmos algum do nosso precioso
tempo a viajar no ignoto território da nossa personalidade. Conhecermo-nos, na
total extensão da nossa beleza e fealdade; arranjar o porto, onde outros possam
amarrar o seu barco; amar aquilo que somos; efetuarmos as mudanças que nos
deixem mais satisfeitos.
Saber tudo dos outros e pouco de nós é um desleixo
imperdoável.
Gabriel Vilas Boas
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