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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

CONHECER PESSOAS É BOM. E SABERES DE TI, TAMBÉM É?


Viajar é ótimo! Conhecer pessoas é magnífico, mas até que ponto isso não constitui uma fuga ao espelho?
Enriquecermo-nos através do exterior é uma ideia bastante sedutora. Há sítios fantásticos e fascinantes, que nos alargam horizontes e nos enchem a alma. Recortes da natureza de beleza ímpar, criações humanas admiráveis. Pelo meio, vamos conhecendo pessoas que nos mostram ângulos insuspeitos da vida, mas passamos por elas armados em máquina fotográfica que tudo quer registar, numa ânsia gulosa de açambarcamento, sem saber muito bem como ordenar tanta informação e emoção.

No mês seguinte voaremos para outra paragem, para novo banho de cultura, gastronomia, maneira diferente de encarar a vida. E tudo será bom novamente e de maneira diferente. Pararemos quando o corpo ou a carteira nos enviar uma sms sos.
E como essa paragem é terrível para alguns! Não me parece que seja apenas o vício de viajar… Em muitos sinto o desespero do vazio sobre o qual não têm de pensar enquanto viajam. Muitos deles dizem-me que lhes falta algo, que as múltiplas viagens não conseguem preencher.  
Viajar é bom, mas o ser humano não precisa assim tanto de viajar a não ser que esteja a … fugir. É um contrassenso fugir, quando procuramos encontrar algo. 


Na maioria parte das vezes procurarmos encontrarmo-nos. Na maior parte das vezes, cometemos o erro de pensar que esse encontro connosco se fará quando conhecermos alguém especial. 
Raramente é assim! 
Não podemos pensar a nossa transformação a partir do outro, como coubesse ao outro fazer as mudanças que só nós podemos executar. O outro é essencial e deve chegar à nossa vida, mas não como um Dom Sebastião qualquer, que nos redime de um trabalho doloroso que não quisemos fazer.
Talvez não fosse má ideia dedicarmos algum do nosso precioso tempo a viajar no ignoto território da nossa personalidade. Conhecermo-nos, na total extensão da nossa beleza e fealdade; arranjar o porto, onde outros possam amarrar o seu barco; amar aquilo que somos; efetuarmos as mudanças que nos deixem mais satisfeitos.
Saber tudo dos outros e pouco de nós é um desleixo imperdoável.

Gabriel Vilas Boas

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