PRESSÕES IMORAIS
A política vive de pressões e imoralidades!
Todos já o sabemos há muito, mas algumas são de um descaramento que surpreende
até os mais céticos.
Hoje reparei em duas notícias (“Gestores
da Caixa ameaçam demitir-se se tiverem de declarar rendimentos” / “Médicos denunciam pressão imoral para não
passar exames”) que eu acho que devem de ser lidas a par, para percebermos, através
de exemplos concretos, como se concretiza a sem vergonhice política que nos
governa.
Nos ordenados da Caixa Geral de
Depósitos, tudo está mal, tudo é imoral. Os poderes dados pelo ministro Centeno
à nova administração são excessivos; os salários contratados são imorais; a tácita
anuência do governo à não declaração pública desses ordenados é indigna da
posição que ocupa; a ameaça de demissão dos neófitos banqueiros públicos é ignóbil.
É impossível não haver em toda a
administração pública gente capaz de endireitar o banco público, sobretudo agora
que houve recapitalização. Gente que trabalharia, estou certo, por um valor 7/8
vezes inferior ao do pretensioso António Domingues. Já a pressão que a sua equipinha
de gestores acaba de fazer sobre o governo só pode ter uma resposta – A porta da rua é a serventia da casa.
É sempre de desconfiar quando alguém faz
tanta pressão para que não se saiba quanto ganha. Como é que um presidente de um
banco público pode lutar por um setor bancário transparente se ele próprio é o
maior exemplo de opacidade?
Do outro lado da rua, os médicos denunciam
as fortes pressões das administrações hospitalares para que não passem exames,
pois estes custam dinheiro. Em primeiro lugar, como foi feita, esta é uma denúncia
cobarde. É preciso dizer quem, onde, como e quando. É grave a acusação, por
isso exige definição clara dos seus elementos.
No entanto, não me custa a crer que ela
tenha existido e ainda exista, em grande escala, até porque já ouvi relatos na
primeira pessoa de tais práticas. Os exames são caros, é verdade, mas são
essenciais ao diagnóstico e salvam vidas ou prolongam a saúde a milhares de
pessoas. Não é pelo doente ser um velhote que aceita tudo de bom grado, que lhe
vamos negar um direito básico de saúde. Este problema dos exames médicos é
gravíssimo. Quem ordena ou pressiona para tal devia estar sujeito, no mínimo, a
um processo disciplinar.
Há dias um tribunal da relação confirmou
uma insensata decisão de um tribunal de 1.ª instância, que condeno um senhor de
Coimbra por este se ter insurgido, numa carta aberta contra um político que
chamou aos velhos de Portugal “peste grisalha”. Hoje sabe-se que há dirigentes
políticos a pressionar médicos para não passar exames e gestores bancários que
não querem que se saiba quanto lhes vamos pagar. Afinal de contas, a doença de Trump já chegou a Portugal.
Gabriel Vilas Boas
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