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sábado, 30 de dezembro de 2017

QUANDO A AMIZADE TRIUNFA SOBRE O MAIS PROFUNDO RESSENTIMENTO


Há mais de trinta anos, homens como Magic Johnson, Michael Jordan, Larry Bird, Scottie Pippen, Isiah Thomas tornaram-me um apaixonado do basquetebol. Jamais alguém interpretou aquele jogo como eles. 
Em 1992, nos Jogos Olímpicos de Barcelona, o grupo uniu-se para conquistar a medalha de ouro e deliciar o mundo do desporto com o seu virtuosismo único. No entanto, todos sabiam que faltava um elemento: Isiah Thomas, o magnífico «bad boy» dos Detroit Pistons, que se tinha zangado com Magic. Os outrora grandes amigos e rivais deixaram de se falar em 1991, quando Magic assumiu que era portador do vírus da Sida e Isiah Thomas teve um comentário infeliz, sugerindo que tal se tinha ficado a dever à orientação sexual de Magic Johnson. O jogador dos Lakers nunca perdoou a Isiah aquele comentário e os dois estiveram de costas voltadas mais de vinte e cinco anos.


O ressentimento foi tão grande que Magic nunca mais cumprimentou  nem falou com o ex-amigo, tendo mesmo usado todo o seu poder para vetar a justa convocatória de Isiah Thomas para os Jogos Olímpicos de Barcelona. Os anos passaram e a paz entre os dois nunca mais chegava, de tal modo que os amigos de ambos já dela tinha desacreditado na reconciliação.
Como um autêntico milagre de Natal, há pouco mais de uma semana, Thomas e Magic deram aquele abraço que estava em falta há mais de nove mil dias. Foi tempo a mais, mas quem via jogar Magic e o ouvia falar sabia que este dia tinha de acontecer. Toda aquela magia era um dom divino, totalmente incompatível como um coração de pedra.
GAVB

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O PERNIL NÃO ESTAVA SUFICIENTEMENTE MADURO

Tantos anos de entendimento entre Venezuela e Portugal e poucos de nós sabiam que o Natal dos venezuelanos se fazia com pernil de porco português. Sócrates devia ter contado esta história de Natal ao juiz Carlos Alexandre e talvez este se tivesse comovido um pouco mais. Foi preciso Nicolás Maduro ter acusado Portugal da sabotagem ao pernil de Natal para aprendermos algo sobre aquele povo sul-americano.
Claro que os portugueses reagiram com um largo sorriso à desculpas de mau pagador de Maduro, porque o problema foi mesmo - falta de pagamento. Só no ano passado ficaram por pagar 40 milhões de euros em pernil de porco.

Depois de desfeiteada a primeira mentirinha de Natal, o presidente venezuelano apontou baterias para os EUA, o grande satã imperialista, que terá ordenado a paragem do pernil na Colômbia. Provavelmente isto no tempo do Sócrates tinha-se resolvido com uns telefonemas entre os dois líderes e Carlos Santos Silva tinha feito de intermediário, mas agora é preciso pagar e em cash.
O caso do pernil português é elucidativo do ponto de degradação económica, social, política e moral a que chegou a Venezuela, país onde falta tudo… até no Natal. Em vez de resolver o problema, o presidente venezuelano continua a “amadurecer” no poder e por lá quer permanecer até apodrecer totalmente um economia paralisada por causa das suas decisões.

O problema da Venezuela não é ideológico nem de modelo económico, mas tão-somente o apego ao poder de um homem que se julga o salvador da pátria, mas apenas consegue ser o seu coveiro.
Nicolás Maduro aproveita-se da ignorância do seu povo, da pouca informação a que tem acesso e dos preconceitos políticos que lhe foi inculcando para reinar no meio da miséria.
Neste Natal, os problemas de Maduro já chegaram ao pernil de porco; a questão que se coloca para 2018 é saber até onde terão de descer mais os venezuelanos para pôr Maduro a dar ao pernil.

GAVB

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

É PRECISO FAZER BULLYING À BUROCRACIA EDUCATIVA



Nunca imaginei que em pleno século XXI tivesse de ir para a rua manifestar-me em defesa de um estabelecimento de ensino para o meu bisneto

Lamento que se tenha chegado a um ponto de tanta exposição pública da própria criança para haver uma solução.”, o pai.

Parece uma história de Natal ao contrário, de tão surreal e negativa que é. Em Coimbra, um rapaz de 13 anos esteve todo o 1.º período escolar (três meses) sem aulas, porque as burocracia que regem a Educação em Portugal, mais propriamente a DGEstE (Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares) inviabilizou a transferência de um aluno vítima de bullying, por parte dos colegas, para um estabelecimento de ensino profissional. Razão invocada: o aluno tinha 13 anos e não 15, como é regulamentar. 

Entretanto foram três meses em casa, sem aulas, sentindo-se ainda mais excluindo, provavelmente agregando um sentimento de culpa que não tinha, cultivando o medo, perdendo o contacto com a aprendizagem. Quando voltar à escola terão passado seis meses desde que esteve na companhia de colegas, dentro de uma sala de aulas, a ouvir um professor.

O que é mais revoltante é que a situação era tão delicada como fácil de resolver. Um aluno vítima de bullying só queria mudar de escola e encontrou uma que o queria acolher e na qual se sentia bem – uma escola profissional, onde frequentar um curso de pastelaria – mas o bullying da DGEstE, o deixa andar da Direção da Escola onde estava matriculado obrigou os pais a recorrer ao único poder que ainda faz alguma coisa pelos cidadãos – o poder mediático.

Só quando o assunto aparece nas redes sociais, nos jornais ou nas televisões é que a gente dita responsável ganha amor pela sua máscara de hipocrisia e faz o óbvio. Não é vergonha na cara nem compaixão que moves esta gente tão incompetente e desumana que gere a educação em Portugal, mas apenas a sua imagem mediática.
Desta vez não há vestidos raríssimos nem prestações de carros ou viagens ao Brasil para mostrar, em forma de escândalo, mas o caso é igualmente chocante. 
Não preciso do nome destes agressores burocráticos nem que os demitam (embora eles merecessem), mas é muito triste que precisemos do facebook, do Correio da Manhã e de expor publicamente um rapaz de treze anos vítima de bullying, para que um adolescente possa voltar a ir sossegadamente às aulas.

GAVB

OS SEM-ABRIGO NÃO SÃO UM POSTAL DE NATAL



A pobreza só dá jeito a quem é pobre de espírito. Quem luta todos os dias contra ela sonha com o dia em que tenha de ir pregar para outra freguesia. Há uma enorme diferença entre rejeitar temas-tabu e explorar o infortúnio alheio mediaticamente.

Fico quase sempre de pé atrás quando me falam dos Sem-Abrigo… no Natal. Essa caridadezinha de pacotilha anula qualquer efeito positivo. Em Portugal, desde o início do ano que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem-se batido pela eliminação progressiva do fenómeno. Houve imensas oportunidades de trazer para a montra mediática a questão dos sem-abrigo, mas há sempre aqueles que guardam a temática para o Natal, em busca de lágrimas e indignações de crocodilo. 

Hoje, um jornal diário português indignava-se contra o facto da explosão turística, em Lisboa e Porto, acabar com alguns alojamentos para os sem-abrigo (https://www.jn.pt/nacional/interior/turismo-fecha--a-porta-aos--sem-abrigo-9007319.html).
Antes de mais, a constatação do fenómeno tem dois meses e meio, com se pode ler numa reportagem do «Público» de 8 de Outubro (https://www.publico.pt/2017/10/08/sociedade/reportagem/turismo-afecta-semabrigo-1787575), mas o maior equívoco está a montante: que queremos para os sem-abrigo? Não é acabar com o fenómeno? Não é reintegrá-los paulatinamente na sociedade? O meu objetivo, enquanto cidadão, é contribuir para a erradicação do fenómeno e não perpetuá-lo, como se ele fizesse parte da paisagem ou fosse um conveniente ícone de Natal, onde facilmente nós podemos exercitar a nossa solidariedade expiatória.

Preparar-lhes uma cama, uma refeição, um abrigo é uma obrigação moral de todos enquanto sociedade, mas não é algo de que nos devemos orgulhar, porque a sua existência nos acusa. Obviamente que o Natal nos inspira e o apelo da solidariedade encontra eco no nosso coração, mas temos de priorizar o respeito pela dignidade do indivíduo. E isso obriga-nos à discrição no Natal e à ação no resto do ano. 

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A VIDA É MARAVILHOSA SE NÃO TEMOS MEDO DELA


Normalmente associamos o medo à morte, porque o nosso maior medo é morrer. Sendo a morte a única inevitabilidade da vida, esse devia ser um sentimento menor… mas não é.

O medo paralisa a vida, retirando-lhe beleza, força e riqueza. Uma das grandes figuras artísticas do século XX, Charles Chaplin, dizia, com imensa sabedoria, que o grande incentivo de viver é arriscar, porque o medo deve ser deixado para os fracos.

Não sendo um livro aberto, a vida compensa quase sempre quem arrisca. No meu entender, o maior risco que podemos assumir é sermos tão fiéis às nossas convicções como aos nossos sentimentos. 

E por que razão isso é tão difícil de alcançar, mesmo num tempo onde o individualismo é lei? Muitas vezes temos medo do ridículo, outras levamo-nos demasiado a sério ou então percebemos que a originalidade dá trabalho. 
Nesses momentos gosto de pensar em dois amigos da vida: o humor e a perspectiva. Ver os acontecimentos da vida em perspectiva e com sentido humor ajuda muito a vencer os mais dissabores e incerteza.
Chaplin, o tal génio do cinema que morreu num dia de Natal, dizia que “a vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe”. 
Julgo que este distanciamento filosófico ajuda a derrotar o medo. E quando o medo tem a pequenez que lhe cabe na História é possível protagonizar uma vida maravilhosa.

GAVB

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

GASTÁMOS 15 MIL MILHÕES DE EUROS PARA SALVAR OS BANCOS E NÃO SALVÁMOS BANCO NENHUM

 
Há dez anos Portugal tinha bancos privados, agora tem bancos privados intervencionados e arruinados. BPN, BES, BANIF, BCP e BPI são um espectro do que foram. Uns foram à ruína e levaram milhares de pessoas a perder milhões de euros, outros gastaram fortunas aos contribuintes, outros foram dados aos espanhóis. O único que estava decente (BPI) foi comprado a preço justo por um banco espanhol e outro estava tão mal que ninguém lhe pegou, mas foi possível mantê-lo a soro até agora.

Entretanto os contribuintes portugueses gastaram 15 mil milhões de euros. Para quê? Para nada! Os bancos já não são portugueses ou não têm relevância económica. As dívidas permanecem e não se evitou que que houvesse lesados dos BES, nem do BANIF, nem do BPP e ainda há o caso do Montepio.

Durante oito anos foi-nos dito que não havia dinheiro, que gastávamos acima das nossas possibilidades, que tínhamos de pagar por aquilo que (não) usámos. Uma treta mil vezes repetida, que sempre soubemos ser uma mentira, mas que aceitámos de cabeça baixa, porque não tivemos a coragem de impedir que tal acontecesse.
Como dizia um jornalista de economia, aquando da discussão do Orçamento de Estado para 2018, a resposta certa para as reivindicações dos vários setores da sociedade portuguesa não é «não há dinheiro», mas sim, «há opções». E as opções foram erradas. E quem as tomou  não pagou por isso, mas fez-nos pagar.

Também é um dado claro que nem todos os portugueses sofreram da mesma maneira. Durante alguns anos, uns ganharam catorze salários e outros doze, uns tiveram cortes salariais e outros mantiveram os seus ordenados, uns mantiveram o emprego e outros perderam-no.
Gastámos 15 mil milhões com a banca, mas perdemos os bancos, que mesmo assim despediram funcionários e ficaram a dever fortunas aos clientes.

A principal lição a tirar é que não se deve tentar salvar o que não tem salvação e que o dinheiro de todos não pode servir para encobrir as colossais asneiras de alguns privilegiados.
Alguma vez um banco saudável tentou salvar um banco em ruína? Claro que não. Eles sabem perfeitamente quando a situação já não tem retorno. Quando se trata de bancos portugueses é quase sempre.

GAVB

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O QUE MAIS TE ASSUSTA: A FÚRIA DESCONTROLADA DA NATUREZA OU A INDIFERENÇA DA HUMANIDADE?


A Reuters selecionou mais de três centenas de fotos que marcaram o ano de 2018. Vi algumas e escolhi esta, porque os incêndios cravaram a morte na nossa história coletiva e porque me doeu, mais uma vez, aquela indiferença desumana dos jogadores de golfe.

Não é uma indiferença filosófica, própria de quem aproveita os prazeres da vida até à última, sabendo que em breve perecerá. Aquele descaso é com o Outro, com a infeliz sorte que o momento lhe trouxe. Traz à mistura o pensamento tonto que será imune ao infortúnio, como se a fúria da natureza enganada pelo ser humano tivesse que se sujeitar a qualquer código de etiqueta social.
A maneira como maltratamos a natureza é uma boa metáfora da desconsideração que temos para com aquele que partilha este planeta connosco. Não me revolta a estupidez, mas a insensibilidade, porque, apesar de tudo, os sentimentos são aquilo que nos distingue e dá coerência.

Ricardo Reis já tinha dedicado um belíssimo poema (http://www.citador.pt/poemas/os-grandes-indiferentes-ricardo-reisbrheteronimo-de-fernando-pessoa) a este desprezo pela Vida e hoje verifico que os seus "Grandes Indiferentes" saem do poema e passeiam pelo mundo.

Volto à foto. Sobre a esquerda, um casal admira as chamas como se de um quadro assombroso se tratasse. Eu olho a foto novamente e o único assombro que encontro é na indiferença de quem continua a jogar golfe como se as labaredas não estivessem descontroladas e a poucos metros de distância.
No verão que passou, tive muitas vezes a sensação que aqueles que escolhemos para nos governar fizeram demasiado tempo o papel dos jogadores de golfe.

GAVB

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

PAÍS RELIGIOSO PREJUDICA O ENSINO DA MATEMÁTICA E DAS CIÊNCIAS?


Um estudo realizado por investigadores americanos e ingleses concluiu que as escolas do ensino secundário que dedicam muito tempo à educação religiosa têm pior desempenho na Matemática e nas Ciências. (http://visao.sapo.pt/atualidade/estudo-do-dia/2017-12-15-Quanto-mais-religioso-o-pais-pior-o-desempenho-em-ciencias-e-matematica-dos-jovens)
Não conhecendo o universo da investigação, será temerário aceitarmos como potencialmente boas as conclusões deste estado, embora ele faça algum sentido. É lógico que um país com uma grande população religiosa reflita essa realidade nos curricula, ainda que isso seja perigoso no processo de ensino dos alunos.

Ao longo dos tempos, a religião sempre teve tendência para explicar a realidade e para isso utilizou as ferramentas da fé. E nem sempre quem ensinou (ensina) educação religiosa soube fazer a distinção entre ciência e fé e o papel que cabe a cada um. Em muitos domínios, religião e ciência chocam porque apresentam justificações bem diferentes para uma mesma realidade.

Mesmo em países de grande religiosidade da população, a Igreja deve ter uma presença residual na Escola, de molde a não condicionar nem confundir os alunos. Só assim os alunos podem ter em consideração aquilo que os seus professores de matemática ou ciências lhes dizem sem aquela autocensura interna, que foi crescendo com a forte educação religiosa.
É à religião que cabe o papel de desfazer o equívoco gerado na cabeça dos jovens. O aluno pode e deve ser um religioso convicto, sem deixar de ser um homem da ciência. Fé e ciência não são incompatíveis, o que são é dimensões diferentes do ser humano. Sempre que uma tenta anular a outra desqualifica-se.

GAVB

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O IMPORTANTE NÃO É SER BOM, MAS PARECER BOM!


O culto da imagem está refinadíssimo. Os melhores de cada área estão assessorados por gente do marketing que estuda ao pormenor como rentabilizar cada atuação pública. Isto tanto se aplica a um cantor ou ator como a um jogador de futebol ou a um empresário. A imagem não é tudo, mas é quase tudo. O que mais vende são as emoções e entre estas as ações de solidariedade e altruísmo. Num tempo de imediatismo, os fãs já nem exigem provas ou factos, antes se contentam com intenções, tal é a fé que têm na benignidade das intenções dos seus ídolos.
Popstrar que se prese não pode passar um Natal sem anunciar uma ação de bondade que o diferencie dos demais. Está inscrito no manual de estilo de qualquer cadeira de marketing, imagem & comunicação.

Hoje passou pelas headlines dos serviços noticiosos a inocente intenção de Cristiano Ronaldo financiar um hospital pediátrico em Santiago do Chile em… 2020. (https://www.jn.pt/mundo/interior/cristiano-ronaldo-constroi-hospital-pediatrico-em-santiago-do-chile-8995518.html)

É bem possível que Ronaldo não seja o melhor exemplo desta hipocrisia que grassa no mundo das superestrelas, mas não deixa de ser sintomático que a notícia saia em época natalícia nem que a bondade de Ronaldo se dirija a crianças e estas se situem num continente onde o craque português quer expandir a sua marca. É altamente provável que Ronaldo concretize a sua intenção, pois o madeirense gosta de cumprir as suas promessas, mas também não deixa de ser claro que a intenção altruísta de Ronaldo tem como por objetivo melhorar ainda mais a sua imagem no continente americano, onde ainda é possível expandir a sua marca comercial.

O Natal é uma ótima época para observarmos o ser humano em diversas dimensões. Há o amor, a gratidão, a bondade, o altruísmo, o arrependimento, mas também a hipocrisia e o aproveitamento comercial das emoções dos outros. Em cada ano que passa, fico cada vez mais com a sensação que mais importante que ser bom é ser autêntico e por isso mais vale a omissão que o fingimento e o aproveitamento.
GAVB

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

INÉS ARRIMADAS, WONDER WOMAN


Inés Arrimadas, a cabeça-de-lista do Ciudadanos às decisivas e polémicas eleições na Catalunha, é a mulher de quem se fala em Barcelona. E com razão.
Inés é muito mais do que um jovem e belíssima mulher. Ela transpira garra, determinação, coerência política e ideológica. Consegue fazer uma campanha pela Espanha e pela Catalunha em simultâneo, usando a força da imagem e da argumentação.

Obviamente Inés é uma sedutora, mas a sua sedução começa na convicção dos seus argumentos, na coragem com que os defende, no bom senso das suas palavras.


Há uns meses, chamei a atenção da minha colega e amiga Anabela Magalhães (http://anabelapmatias.blogspot.pt/) para este fenómeno que estava a nascer na Catalunha, por oposição ao discurso sectário, cego, inábil do Carles Puigdemont. A maneira corajosa, assertiva e convincente com que Inés Arrimadas demonstrou as fragilidades do presidente da Generalitat deixa antever uma mulher talhada para grandes cometimentos.

Agora, está perto de vencer as eleições na Catalunha.
Inés tem todos os predicados que um verdadeiro político deve ter: argumentação, convicção, sedução, confiança, seriedade, bom senso. Ninguém melhor do que ela representa a juventude e a tradição, o europeísmo e a Catalunha, a unidade e a diversidade.

Se ganhar as eleições será um pequeno milagre, mas ele nunca esteve tão perto de acontecer. Se Inés for eleita a maior representante da Catalunha, é certo que os espanhóis podem dormir descansados, mas não é certo que o governo de Mariano Rajoy tenha sossego. Caso conquista a Catalunha, Inés Arrimadas não é mulher por se ficar por Barcelona, por muito importante e honrosa que seja a cidade condal.
É que, apesar de jovem, Inés não costuma cometer erros. E isso é assombroso.
GAVB

domingo, 17 de dezembro de 2017

MULHER INDEPENDENTE E DESTEMIDA NÃO PODE SER REPETIDAMENTE AGREDIDA?


Releio os fundamentos principais da sentença que ilibou Carilho do crime de violência doméstica sobre Bárbara Guimarães e retenho uma frase da juíza Joana Ferrer: “Bárbara Guimarães é uma mulher destemida e dona da sua vontade pelo que não é plausível que, na sequência das agressões, tenha continuado com o marido em vez de se proteger a si e aos seus filhos”

O que Joana Ferrer quis dizer a Bárbara foi algo como: ou és burra ou és mentirosa. Acho que a juíza preferiu, erradamente, censurar a fraqueza de Bárbara em continuar com um homem que a agredia do que em punir quem batia descontroladamente.

É possível que Joana Ferrer quisesse garantir uma espécie de justiça salomónica entre o alcoolismo de Bárbara e a brutal violência de Carrilho sobre a ex-mulher, mas não era isso que estava em questão. O que havia para decidir era se houve ou não violência doméstica e sobre isso a sensação com que ficamos é claramente contrária à decisão do tribunal.

No entanto, o lado pernicioso da decisão de Joana Ferrer não é aquela decisão, mas a mentalidade que subjaz à fundamentação da decisão. O que a juíza pensa sobre a violência doméstica traduz uma mentalidade perversa. Então não é crível que uma mulher independente (instruída, determinada, empregada…) seja repetidamente vítima de violência doméstica? 

Para esta juíza, a separação à primeira chapada ou pontapé resolve facilmente grande parte dos problemas da violência doméstica entre gente independente de espírito? Será que esta juíza pensa que só as fracas de espírito e de carteira são alvo de violência doméstica? Não conhecerá esta juíza outras razões que levam milhares de mulheres independentes a manterem -se ao lado do seu agressor? Os filhos, a sensação que conseguirão ainda reverter a situação, a vergonha pública, a coação psicológica, física e social de que são alvo…
Pior do que uma fundamentação questionável é uma argumentação insensível e insensata.

GAVB

sábado, 16 de dezembro de 2017

OS EXAMES SERÃO A PEDRA NO SAPATO DA FLEXIBILIDADE CURRICULAR?


Num artigo escrito por Samuel Silva, no jornal «Público», alerta-se para o receio que existe entre pais, alunos e professores sobre o impacto negativo que a flexibilidade curricular terá nos exames nacionais. Muitos Diretores ouvidos pelo repórter aconselham a cautela na implementação da flexibilidade curricular no ensino secundário.
Quando o projeto chegou ao conhecimento público, escrevi neste blogue que, na minha opinião, ela visava, por um lado, assegurar que mais gente transitaria de ano, e por outro, garantir mais poder aos diretores. 

Também pensava que o seu calcanhar de Aquiles estava no facto de ser inconveniente para os alunos que lutavam pelas melhores notas, pois reduzir tempo aos professores para os preparar para os exames de maneira consistente. Não foi por acaso que a reforma só se aplicou aos alunos do 5.º, 7.º e 10.º anos. Havia dois anos para estudar a melhor maneira de contornar essa perda de aulas. Agora que o projeto está em marcha, os pais dos alunos com ambições aos cursos superiores mais disputados já perceberam para onde corre o rio e por isso estão preocupados, porque quem faz os exames quer lá saber das matérias que ficarão por dar com a flexibilidade curricular. O programa continua a ser o mesmo. 
Flexibilizar para aligeirar até serve a uma grande parte dos alunos, mas assusta aqueles para quem todas as aulas contam.

Alguns diretores ainda acreditam que terão de ser os exames a adaptar-se à cultura de flexibilidade curricular e há pais que pensam que é “preciso repensar o acesso ao ensino superior”. Acho que esta gente é demasiado lírica. 
O ministro que não consegue resolver eficazmente o problema dos concursos de professores e que não fala claro sobre os planos da municipalização da educação vai agora dar uma resposta satisfatória ao desfasamento entre exigência dos exames nacionais e a política de flexibilidade curricular? Não creio! 
Quando a bolha rebentar a sério – Outono de 2019 – estaremos em campanha eleitoral e Tiago Brandão Rodrigues não será o ministro que terá de resolver a questão. O mais certo é Costa ou outro qualquer primeiro-ministro autorizar que as turmas que então iniciem o 12.º ano possam ter a flexibilidade de voltar ao regime antigo, ou seja, sem flexibilização.  

GAVB

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

OS AMERICANOS FORAM ENGANADOS PELOS RUSSOS, MAS CULPAM O FACEBOOK



Agora que se tornou mais que evidente que os russos conseguiram influenciar as eleições americana, ajudando à escolha de Donald Trump, através da inundação do facebook com falsas notícias/factos, os americanos começam a perceber o efeito nocivo das redes sociais.

Foi preciso o brinquedo estoirar-lhes nas mãos para perceberem que as redes sociais têm imenso poder, e que este tanto pode ser usado para o bem como para o mal. Os russos adoram mostrar como os americanos são uns tolos e por isso enganaram-nos através dos seus gananciosos brinquedos de fazer dinheiro.

É comovedor com há pouco dias um ex-administrador do Facebook se diga “tremendamente arrependido” por ter participado na construção de algo que ajuda a destruir a “forma como a sociedade funciona”. Mas soam a lágrimas de crocodilo, pois o próprio Chamath Palihapitiya acaba por confessar que dentro da empresa “no fundo todos sabiam que algo de mal podia acontecer”. O homem que teve a função de aumentar o número de utilizador do Facebook confessa, por outras palavras, que a administração do Facebook tinha consciência que estava a ser usada pela Rússia para favorecer a eleição de Trump, mas não conseguiu ou não quis parar o processo.

Nem sei qual é pior. Se podia e não fez, é que porque a ganância submergiu por completo alma de Zuckerberg; se tinha consciência da manipulação mas não a conseguiu parar é porque já não domina o monstro que criou.
Agora que os americanos percebem quanto estúpidos foram ao eleger Trump, o Facebook é o diabo que “explora as vulnerabilidades psicológicas do ser humano”. Mas isso já todos nós sabíamos e os americanos também. Eram (são) essas as regras do jogo, para quem decide aderir a uma rede social. Tornaram-se más para os americanos, porque os atingiu violentamente.


Embora os americanos comecem a abrir a pestana, ainda falham o alvo: o problema não é das redes sociais, mas deles – são demasiado estúpidos, querendo parecer muito espertos. Falta-lhe uma grande dose de humildade para distinguir o acessório do essencial. Enquanto continuarem a culpar a máquina em vez da sua mentalidade arrogante e tolinha continuarão a ser enganados facilmente por qualquer filho de Putin que suceda a este.
GAVB

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

INFELIZMENTE AS TRAPALHADAS DO GOVERNO NÃO SÃO RARÍSSIMAS



Podem os governos aprisionar as oposições nos compadrios cruzados, que a verdade acaba quase sempre por se saber. O verdadeiro confronto parte da comunicação social, que amplifica as queixas e as suspeitas nascidas nas redes sociais ou nos blogues.
O caso de Paula Brito e Costa revela bem como todo a entourage do Bloco Central dos Interesses estava comprometida, até ao osso, com esta forma despudorada de gerir o dinheiro público. 
E os governantes não aprendem nada com as lições do passado. Hoje tudo é escrutinado, verificado, farejado, com a avidez de quem se especializou em escândalo e vive deles.

Paula Brito e Costa, a raríssima, já afundou um secretário de estado e acabará por consumir Vieira da Silva, um ministro da velha guarda, que terminará da pior maneira a sua carreira política. 
Temendo que as trapalhadas governativas consumam em lume brando um governo desorientado e cheio de telhados de vidro, o PS já terá dado Vieira da Silva como «perdido» ou «descartável». Apesar de Marcelo dizer que não se deve julgar ninguém sem antes se investigar e António Costa dizer que mantém total confiança política em Vieira da Silva, O PS já o deu à morte, pois foi o próprio partido que apoia o governo a pedir a “audição imediata do ministro para que lhe sejam feitas todas as perguntas e lhe seja dada a possibilidade de dar todas as respostas que tem o DEVER de dar”.


Acho que já poucos, entre os socialistas, conseguem perceber como Vieira da Silva não viu nenhum problema nas contas da Raríssimas entre 2013-2015, quando era vice-presidente do Assembleia Geral da Associação ou deixou que Paula Brito e Costa apresentasse a Raríssimas como uma Fundação, quando apenas era uma associação. Vieira da Silva esteve na assinatura de um protocolo entre a Raríssimas e a sueca Agrenska Foundation, em que Paula Brito e Costa, com grande desplante e ousadia, fez passar a Raríssima por aquilo que não era.
Vieira da Silva terá enorme dificuldade em explicar como é que a Raríssimas não tem dinheiro para atalhar a compromisso básicos, quando o governo quadruplicou os seus donativos para a associação.
É por coisas como estas que os deputados do PS não podem estar tranquilos e muito menos satisfeitos.
Vieira da Silva cairá, sem honra nem glória. 
Infelizmente, a doença do governantes não é raríssima, apenas vulgaríssima, mas não há maneira de tomarem um medicamente normalíssimo – vergonha na cara.

GAVB  

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

MORREU AO MEU LADO, NUM BANCO DO METRO. NINGUÉM REPAROU… NEM EU!

No belo poema, que é a letra de “Construção”, a certo momento Chico Buarque canta

E se acabou no chão feito pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu em contramão, atrapalhando o tráfego”

Acabo de ler que, no México, um homem teve um ataque cardíaco, em pleno metro, e morreu sem que ninguém tivesse dado por isso.
Não, não morreu em contramão nem tão pouco atrapalhou o trânsito, mas acabou como um pacote flácido, deixado ao abandono num banco de metro, em cuja essência humana só repararam quando já tinha deixado de ser.
Andamos a ficar tão lamentáveis que já nem uma lamentação valemos.

O mexicano viajou cadáver algumas horas até alguém ter desconfiado de tão profundo sono. Vieram então os paramédicos decretar a morte legal tal como agora nós manifestamos a nossa perplexidade e indignação.
O velho mexicano que morreu no metro de ataque cardíaco sem incomodar a pressa e a indiferença de ninguém é um signo e um sinal daquilo em que nos tornamos. 
A irrelevância em que transformamos o outro é a medida da nossa insignificância.

Os direitos humanos, nos países ditatoriais e nos regimes brutais, fazem-nos percorrer quilómetros de luta, indignação e manifestações, mas a desumanização diária com que tratamos a senhora do terceiro direito, a avó com quem não falamos há meses ou o velho que dá de comer às pombas, no jardim público, em que passamos todos os dias não nos preocupa dez segundos.

Com o tempo o mexicano deixará de ser uma metáfora para ser uma estatística, tal como nós deixaremos de ser um ser humano para nos transformamos num número.
GAVB



terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O TRAUMA E O DRAMA DO CHUMBO NO 2.º ANO


Mais um relatório sobre Educação foi divulgado. Entre os vários dados revelados, um chamou-me à atenção: no 2.º ano, 9% dos alunos ficam retidos. 
É uma percentagem altíssima, sobretudo se tivermos em conta que só no 9.º ano os alunos chumbam tanto e apenas o 7.º ano de escolaridade (12,6%) supera este número.

O que levará tantos professores a reter os seus alunos no 2.º ano? Muitos dirão, porque não o podem fazer logo no 1.º ano (o que não deixa de ser verdade), mas a resposta mais certa talvez seja – "não estavam preparados para frequentar o primeiro ciclo".


Há uma série de competências (sociais, linguísticas,…) que algumas crianças não apresentam e que são absolutamente necessárias para que o professor do 1.º ciclo inicie o seu trabalho. 
Nesse sentido é fundamental que o trabalho feito no pré-escolar seja feito com muito profissionalismo e sabedoria. O problema é que o Estado português apenas garante a todos os alunos o último ano do pré-escolar, ou seja, quando chegam às mãos do professor do 1.º ciclo, uns têm três anos de pré-escolar, outros dois e outros apenas um. Para piorar a situação, há ainda que acrescentar o meio socioeconómico que envolve determinados alunos e o nulo acompanhamento familiar.

Quando estes alunos chegam às mãos do professor, este pouco pode fazer para reverter tantas situações negativas, num só ano. Como estão “proibidos” de chumbar os meninos no 1.º ano, o problema passa para o segundo ano, onde muitos alunos ficam retidos.


No meu entender, ajudaria bastante a minimizar o problema atuar em dois planos: juntos dos pais e encarregados de educação e reforçar os meios humanos qualificados no ensino pré-escolar.


As direções das escolas reclamam autonomia, mas vejo poucas a apresentarem como proposta maioria investimento humano no pré-escolar. Cada agrupamento sabe perfeitamente quais são os alunos que potencialmente precisam mais de um ensino pré-escolar de qualidade para entrarem bem no 1.º ciclo. É aí que devem começar por investir, com bons educadores. 

Um bom Projeto Educativo começa por garantir que todos os entrarão no 1.º ciclo, potencialmente, em igualdade de circunstâncias. Esse investimento produzirá frutos em todos os ciclos de ensino.
Por outro lado, é preciso atuar junto dos pais. Em conjunto com as associações de pais, é necessário sensibilizar determinados pais para a necessidade de desdobrar o 1.º ano de escolaridade em dois, se a educação pré-escolar foi insuficiente e/ou se o estádio de desenvolvimento do aluno assim o justificar. Querer forçar a transição para o segundo ano, não resolve nenhum problema, mas é capaz de acrescentar outros e agravar os existentes.
Competência, coragem, determinação e informação clara junto dos pais. Um bom Diretor não é aquele que se eterniza, que constata problemas ou se lamenta com frequência, mas antes aquele que ataca os problemas pela raiz, ouvindo os educadores e professores que todos os dias lidam com os alunos.

GAVB

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

WONDER – A BELEZA DE APRENDER A OLHAR O OUTRO


Olhar, não apenas ver. Olhar como quem vai além do rosto e invade a alma do outro, para o sentir, para o conhecer, para o entender.
Afinal de contas quantos rostos cruzam o nosso olhar e apenas os vemos com aquela venda quotidiana que nos mantém cegos para tudo o que é importante? 
Sim, é a velha lição do Principezinho -  “o essencial é invisível aos olhos”. E que outra coisa podemos nós buscar além do essencial?
«Wonder» é um filme de Natal, mas será um desperdício de tempo se o virmos apenas como tal. 
Auggie, o rapaz de 10 anos, que vai pela primeira vez à escola, após vinte e sete cirurgias que o puseram a respirar, mas não com um rosto agradável e normal, tem de ser mais do que uma história que nos põe a chorar e eleva os nossos níveis de bondade e compreensão. É preciso observar além da circunstância, do defeito, da peninha, do caso concreto.

O drama deste rapaz com deformações no rosto – síndrome de Treacher Collins – leva-me mais longe que a sensibilidade momentânea e específica perante o drama humano em questão. 
Acho essencial que aprendamos o olhar aqueles com quem nos cruzamos além do superficial. 
Estar atento ao ser humano que reside naquele corpo, ao que ele nos quer comunicar, e aos desafios que silenciosamente os seus olhos nos lançam é algo que fazemos pouco. Há imenso gente que cruza o nosso dia apressado, a quem podíamos ter dedicados uns míseros segundos de atenção, mas não quisemos saber.
Querer saber – apenas isso – é tão importante! Por vezes, decisivo. 

«Wonder» também é um filme que acusa esta insensibilidade coletiva, essa imaturidade que armazena orgulhosamente, mas desconhece a beleza dos embrulhos, porque simplesmente nunca os desembrulha. 
Todos os dias, à nossa frente, aparecem uma ou duas almas ávidas, que esperam desfaçamos o laço ou o nó de um olhar triste ou inquieto.

GAVB

domingo, 10 de dezembro de 2017

SER O MELHOR DESTINO TURÍSTICO DO MUNDO É COOL, MAS O PREÇO É HOT


A conjugação de vários fatores transformou Portugal num destino turístico de eleição. Hoje uma imensa maioria de cidadãos europeus, americanos, asiáticos conhecem Lisboa, Porto, Sintra,  Coimbra, Braga, Óbidos, Évora, Guimarães, o Douro e o Alentejo.
Por outro lado, os lisboetas e os portuenses aprendem a partilhar a suas cidades com os cidadãos de várias nacionalidades. Eles vieram para ficar e a economia das maiores cidades portugueses estará cada mais subordinada a eles.

É bom perceber o que isso significa, porque nem tudo são boas notícias. É verdade que trazem euros e dólares, que criam emprego permanente, que nos abrem o espírito e alegram o quotidiano, mas também é verdade que a cidade passa a ser um pouco deles. Os locais mais emblemáticos e belos do Porto e Lisboa serão preferencialmente ocupados por turistas, os preços da restauração, dos hotéis e das casas tenderão a subir acima da inflação, as leis do ruído nocturno bem como as autorizações de funcionamento de espaços de divertimento nocturno terão em conta os seus interesses.

Na rua, o português apenas será mais uma língua e teremos de nos habituar a falar o inglês regularmente.
No entanto, a transformação mais profunda será a mental: viveremos para servir o turista. Quando vamos a Veneza, Florença, Milão, Barcelona ou Paris esperamos que a cidade se aperalte para nos receber, que haja espetáculos a toda a hora, que os locais a visitar tenham atrações e estejam sempre limpos, que nos sirvam em primeiro lugar e connosco tenham deferência especial. 

Ser um destino turístico de eleição é viver em função do turista e relegar para segundo plano as preocupações domésticas. Em certas alturas terão até de ser escondidas ou disfarçadas, para não perturbar o negócio nem a imagem externa da cidade.
Ser um destino turístico exceional é ter de abdicar dos melhores lugares, dos melhores momentos que a sua cidade proporciona, porque o mais certo é estar de bandeja na mão ou ao volante de um tuk-tuk a mostrar pela enésima vez as belezas naturais e monumentais das principais cidades portuguesas… em inglês, francês ou chinês.

Ser destino turístico de eleição não é mau, bem pelo contrário, mas está muito longe de ser apenas aquele paraíso na terra que vemos nas revistas das agências de turismo. Isso é para quem faz turismo, não para quem vive do turismo.

GAVB