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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

OS SEM-ABRIGO NÃO SÃO UM POSTAL DE NATAL



A pobreza só dá jeito a quem é pobre de espírito. Quem luta todos os dias contra ela sonha com o dia em que tenha de ir pregar para outra freguesia. Há uma enorme diferença entre rejeitar temas-tabu e explorar o infortúnio alheio mediaticamente.

Fico quase sempre de pé atrás quando me falam dos Sem-Abrigo… no Natal. Essa caridadezinha de pacotilha anula qualquer efeito positivo. Em Portugal, desde o início do ano que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem-se batido pela eliminação progressiva do fenómeno. Houve imensas oportunidades de trazer para a montra mediática a questão dos sem-abrigo, mas há sempre aqueles que guardam a temática para o Natal, em busca de lágrimas e indignações de crocodilo. 

Hoje, um jornal diário português indignava-se contra o facto da explosão turística, em Lisboa e Porto, acabar com alguns alojamentos para os sem-abrigo (https://www.jn.pt/nacional/interior/turismo-fecha--a-porta-aos--sem-abrigo-9007319.html).
Antes de mais, a constatação do fenómeno tem dois meses e meio, com se pode ler numa reportagem do «Público» de 8 de Outubro (https://www.publico.pt/2017/10/08/sociedade/reportagem/turismo-afecta-semabrigo-1787575), mas o maior equívoco está a montante: que queremos para os sem-abrigo? Não é acabar com o fenómeno? Não é reintegrá-los paulatinamente na sociedade? O meu objetivo, enquanto cidadão, é contribuir para a erradicação do fenómeno e não perpetuá-lo, como se ele fizesse parte da paisagem ou fosse um conveniente ícone de Natal, onde facilmente nós podemos exercitar a nossa solidariedade expiatória.

Preparar-lhes uma cama, uma refeição, um abrigo é uma obrigação moral de todos enquanto sociedade, mas não é algo de que nos devemos orgulhar, porque a sua existência nos acusa. Obviamente que o Natal nos inspira e o apelo da solidariedade encontra eco no nosso coração, mas temos de priorizar o respeito pela dignidade do indivíduo. E isso obriga-nos à discrição no Natal e à ação no resto do ano. 

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