A frase é de Pep Guardiola, o renomado treinador, que treina
a luxuosa equipa do Manchester City, e que há três dias sofreu a primeira
derrota da época desportiva diante dos ucranianos do Shakhtar Donetsk, treinado
pelo português Paulo Fonseca.
À partida são as vitórias que nos dão força e moral enquanto
as derrotas nos trazem tristeza, insegurança, descrença nas nossas capacidades.
Felizmente, a realidade não é a preto e branco e devemos perceber além do
linear.
No desporto como na vida, ganhar sempre faz mal.
Torna-nos arrogantes perante as circunstâncias, as adversidades, os obstáculos,
os adversários. Por outro lado, cria em nós uma pressão psicológica intolerável
e absurda, que nos obriga ao triunfo ou faz dele uma normalidade banal. O
prazer da conquista desaparece e o reconhecimento do nosso mérito também. Um
pequeno revés passa então a ter proporções incomuns e ilógicas e deixamos de
ver os acontecimentos em perspectiva.
Ainda que saibamos todos os truques para nos manter ao leme,
abafando a insubordinação daqueles que nos desafiam, o melhor é contribuir
sabiamente para a nossa derrota, até porque muitos desses truques são
ilegítimos ou decorrem do estatuto, associado ao poder das vitórias.
Fazer um «reset», recomeçar, porque o prazer e a sabedoria
da vida estão em sabermos renová-la, percebendo que precisamos também das derrotas
para crescer.
O sabor da conquista é tão delicioso como o da reconquista,
pois existe a vontade de provar que «ainda somos capazes», sem a angústia
de manter aquela pose invicta, que tanto sofrimento nos causa.
Quando percebemos que por baixo da fina camada de glamour existe
apenas uma maçã irremediavelmente podre, o melhor é declará-la inapta. A
simulação apenas atrasa a inevitável renovação de que precisamos e de que somos
feitos.
Pep Guardiola, o sábio catalão, está quase sempre um passo à
frente dos seus colegas treinadores, porque começa por entender o ser humano antes de reinventar o futebol.
Gabriel Araújo
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