A conjugação de vários fatores transformou Portugal num
destino turístico de eleição. Hoje uma imensa maioria de cidadãos europeus,
americanos, asiáticos conhecem Lisboa, Porto, Sintra, Coimbra, Braga, Óbidos, Évora,
Guimarães, o Douro e o Alentejo.
Por outro lado, os lisboetas e os portuenses aprendem a
partilhar a suas cidades com os cidadãos de várias nacionalidades. Eles vieram
para ficar e a economia das maiores cidades portugueses estará cada mais
subordinada a eles.
É bom perceber o que isso significa, porque nem tudo são
boas notícias. É verdade que trazem euros e dólares, que criam emprego
permanente, que nos abrem o espírito e alegram o quotidiano, mas também é
verdade que a cidade passa a ser um pouco deles. Os locais mais emblemáticos e
belos do Porto e Lisboa serão preferencialmente ocupados por turistas, os preços da
restauração, dos hotéis e das casas tenderão a subir acima da inflação, as leis
do ruído nocturno bem como as autorizações de funcionamento de espaços de
divertimento nocturno terão em conta os seus interesses.
Na rua, o português apenas será mais uma língua e teremos de nos
habituar a falar o inglês regularmente.
No entanto, a transformação mais profunda será a mental:
viveremos para servir o turista. Quando vamos a Veneza, Florença, Milão,
Barcelona ou Paris esperamos que a cidade se aperalte para nos receber, que
haja espetáculos a toda a hora, que os locais a visitar tenham atrações e estejam sempre
limpos, que nos sirvam em primeiro lugar e connosco tenham deferência especial.
Ser um destino turístico de eleição é viver em função do turista e relegar para
segundo plano as preocupações domésticas. Em certas alturas terão até de ser
escondidas ou disfarçadas, para não perturbar o negócio nem a imagem externa da
cidade.
Ser um destino turístico exceional é ter de abdicar dos melhores
lugares, dos melhores momentos que a sua cidade proporciona, porque o mais
certo é estar de bandeja na mão ou ao volante de um tuk-tuk a mostrar pela
enésima vez as belezas naturais e monumentais das principais cidades
portuguesas… em inglês, francês ou chinês.
Ser destino turístico de eleição não é mau, bem pelo
contrário, mas está muito longe de ser apenas aquele paraíso na terra que vemos
nas revistas das agências de turismo. Isso é para quem faz turismo, não para
quem vive do turismo.
GAVB
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