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domingo, 17 de dezembro de 2017

MULHER INDEPENDENTE E DESTEMIDA NÃO PODE SER REPETIDAMENTE AGREDIDA?


Releio os fundamentos principais da sentença que ilibou Carilho do crime de violência doméstica sobre Bárbara Guimarães e retenho uma frase da juíza Joana Ferrer: “Bárbara Guimarães é uma mulher destemida e dona da sua vontade pelo que não é plausível que, na sequência das agressões, tenha continuado com o marido em vez de se proteger a si e aos seus filhos”

O que Joana Ferrer quis dizer a Bárbara foi algo como: ou és burra ou és mentirosa. Acho que a juíza preferiu, erradamente, censurar a fraqueza de Bárbara em continuar com um homem que a agredia do que em punir quem batia descontroladamente.

É possível que Joana Ferrer quisesse garantir uma espécie de justiça salomónica entre o alcoolismo de Bárbara e a brutal violência de Carrilho sobre a ex-mulher, mas não era isso que estava em questão. O que havia para decidir era se houve ou não violência doméstica e sobre isso a sensação com que ficamos é claramente contrária à decisão do tribunal.

No entanto, o lado pernicioso da decisão de Joana Ferrer não é aquela decisão, mas a mentalidade que subjaz à fundamentação da decisão. O que a juíza pensa sobre a violência doméstica traduz uma mentalidade perversa. Então não é crível que uma mulher independente (instruída, determinada, empregada…) seja repetidamente vítima de violência doméstica? 

Para esta juíza, a separação à primeira chapada ou pontapé resolve facilmente grande parte dos problemas da violência doméstica entre gente independente de espírito? Será que esta juíza pensa que só as fracas de espírito e de carteira são alvo de violência doméstica? Não conhecerá esta juíza outras razões que levam milhares de mulheres independentes a manterem -se ao lado do seu agressor? Os filhos, a sensação que conseguirão ainda reverter a situação, a vergonha pública, a coação psicológica, física e social de que são alvo…
Pior do que uma fundamentação questionável é uma argumentação insensível e insensata.

GAVB

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