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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

À GRANDE E À LISBOETA


Não gosto nada de discutir os salários dos outros. Por norma é uma discussão miserabilista, eivada de inveja e que facilmente descamba para a maledicência. No entanto, há casos em que o descaramento e a pouco vergonha no (mau) uso dos dinheiros públicos obriga qualquer um a intervir. É o caso trazido hoje a lume pelo jornal «I», onde se revela os ordenados auferidos pelos assessores e secretários dos deputados(as) da Assembleia Municipal de Lisboa. Reitero que estamos a falar de deputados municipais e não nacionais.

Revela a investigação do «I» que existem 17 assessores de deputados municipais, na Câmara de Lisboa – um por cada deputado – e cinco secretárias. Cada assessor pode auferir 3752 euros por mês enquanto as secretárias podem custar ao erário público 2800 euros mensais. Só em assessores e secretárias, a Câmara de Lisboa gasta mensalmente 77784 euros. Se multiplicarmos este valor por catorze meses, o valor é superior a um milhão de euros.
A maioria dos deputados não tem pelouros, ou seja, não tem efetiva necessidade de assessor ou secretária. Talvez por isso, alguns deputados municipais de Lisboa tiveram a lata de se autonomear secretários ou assessores de si próprios para aumentar ordenado, já de si elevado, pois superior a qualquer dos valores citados.
Um pouco envergonhada, Helena Roseta, admitiu que os “valores são altos”, mas não se comprometeu com nenhuma correção ou proposta nesse sentido.

Não há concurso público para assessor ou secretário de deputado municipal, mas parece haver abundância de dinheiro na CML, ou pelo menos, ordem para endividar como se não houvesse amanhã, porque o governo sempre porá a mão.

Um professor ao fim de 40 anos de serviço, atingindo o topo da carreira, almeja chegar ao nível de um assessor de deputado da CML. O Presidente de uma Câmara como Amarante pouco mais ganha que um assessor de um de um deputado municipal de Lisboa.

Portugal tem 2 milhões de portugueses (cerca de 20% da população) no limiar da pobreza, ou seja, não dispondo de 400 euros mensais para viver. Um assessor de um deputado municipal, em Lisboa, pode dispor dessa quantia para o último fim-de-semana alargado.
Deixa de ser miserabilista discutir os salários dos outros quando aquilo que eles auferem é dinheiro público e é de tal forma injustificado que ofende quem fez uma carreira honesta e dedicada de serviço ao seu país.

GAVB

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