A Reuters selecionou mais de três centenas de fotos que
marcaram o ano de 2018. Vi algumas e escolhi esta, porque os incêndios cravaram
a morte na nossa história coletiva e porque me doeu, mais uma vez, aquela
indiferença desumana dos jogadores de golfe.
Não é uma indiferença filosófica, própria de quem aproveita
os prazeres da vida até à última, sabendo que em breve perecerá. Aquele descaso
é com o Outro, com a infeliz sorte que o momento lhe trouxe. Traz à mistura o
pensamento tonto que será imune ao infortúnio, como se a fúria da natureza
enganada pelo ser humano tivesse que se sujeitar a qualquer código de etiqueta
social.
A maneira como maltratamos a natureza é uma boa metáfora da
desconsideração que temos para com aquele que partilha este planeta connosco.
Não me revolta a estupidez, mas a insensibilidade, porque, apesar de tudo, os
sentimentos são aquilo que nos distingue e dá coerência.
Ricardo Reis já tinha dedicado um belíssimo poema (http://www.citador.pt/poemas/os-grandes-indiferentes-ricardo-reisbrheteronimo-de-fernando-pessoa) a este desprezo pela Vida e hoje verifico que os seus "Grandes Indiferentes" saem do poema e passeiam pelo mundo.
Volto à foto. Sobre a esquerda, um casal admira as chamas
como se de um quadro assombroso se tratasse. Eu olho a foto novamente e o
único assombro que encontro é na indiferença de quem continua a jogar golfe
como se as labaredas não estivessem descontroladas e a poucos metros de
distância.
No verão que passou, tive muitas vezes a sensação que
aqueles que escolhemos para nos governar fizeram demasiado tempo o papel dos
jogadores de golfe.
GAVB
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