Dez antes de receber o Prémio Pritzker, o arquiteto
espanhol Rafael Moneo inaugurava a extraordinária peça arquitetónica que é o
MUSEU NACIONAL DE ARTE ROMANA, em Mérida, provavelmente a cidade do Império
Romana melhor preservada da europa ocidental.
Quando foi convidado pelo governo espanhol para projetar
este museu, Rafael Moneo era um arquiteto renomado pela fama que obras como
o edifício Bankinter, em Madrid, lhe deram. A ideia era substituir o museu
existente em Mérida e que datava de 1938.
Moneo projetou um edifício elegante, que procurava combinar
modernidade e história, numa simbiose perfeita. O elemento fundamental da
estrutura museológica criada por Rafael Moneo são os arcos.
Os arcos são um
elemento fundamental do império romano. Constantino e Tito construíram-nos para
comemorar as suas vitórias militares e Moneo trá-los para a entrada do seu
MUSEU NACIONAL DE ARTE ROMANA, para lembrar toda a grandiosidade e triunfalismo
dos Romanos.
O Museu situa-se numa elevação, mesmo em frente ao imperial teatro romano de Mérida.
Os vários espaços do Museu estão articulados por uma série de
arcos crescentes de tijolos, transmitindo ao visitante uma sensação de
modernidade surpreendente.
Depois de entrarmos no Museu, um corredor central de
arcos propõe-nos uma primeira escolha: subimos aos andares superiores para
vermos a parte das exposições ou descemos à “cripta”, enterrada no solo, para
apreciar a vertente arqueológica do projeto de Moneo.
Por entre os arcos, a luz
natural, quente e silenciosa de Mérida relaxa o visitante e guia-o na sua
primeira opção.
Comecemos pela cripta, situada abaixo do nível do solo. Ela
mergulha o visitante numa espécie de evocação da era romana intocada, como se
descêssemos à “cidade velha” onde a arqueologia se exibe em simultâneo com a
sua réplica arquitetónica.
Regressamos aos andares superiores e vamos apreciando as
aveludas paredes.
Paredes, colunas e arcos são feitos do mesmo material, mas a
aparência está longe de ser monótona. Moneo criou belíssimos “retalhos de ouro”
em pequenos nichos incendiados de um
vermelho fogoso dado pela sobrecarga de uma iluminação dramática. É no controlo
cuidado da luz que Moneo deixa a sua marca indelével no melhor Museu de Arte
Romana da península ibérica.
A luz contraste com a placidez fantasmagórica das
antiguidades em exposição.
Nas paredes destaca-se ainda a textura dos seus
elementos verticais. Neles Moneo articula perfeitamente História e modernidade
através de “empréstimos” de elementos históricos, contemporizando-os.
Os arcos-triplos unidos aludem à alvenaria do teatro romano
mesmo ali em frente ao edifício do Museu, envolvendo a totalidade do espaço
arqueológico num diálogo contínuo que os arquitetos sempre gostam de criar. Os
tijolos têm precisão rítmica e são bem dimensionados, como que evocando uma
sensação de requinte tão próprio dos projetos deste arquiteto espanhol.
No entanto, há algo de atemporal que paira sobra a
simplicidade das estruturas: as formas e os materiais não pertencem nem ao presente
nem à História. Isso permite que o projeto de Moneo se afirme como algo acima
do tempo, como convém a qualquer museu arqueológico moderno.
Esta interação entre novo e antigo existe até ao nível mais
conceptual do museu. Por exemplo, no Museu-cripta, a escavação da antiga cidade
está ritmicamente pontuada por uma grade-coluna que suporta as estruturas
superiores, evidenciando duas condições históricas diferentes.
Perto dali, uma
estrada romana completa segue o seu caminho pelo meio do museu (qual leito de
um rio) rompendo com a ortogonalidade do projeto-Moneo.
A construção de um túnel subterrâneo envolve os visitantes,
conduzindo-os diretamente ao teatro romano, fazendo-os sentir-se nos grandiosos
tempo de Emerita Augusta.
É claro que a inserção destes elementos, por parte do premiado arquiteto castelhano, só é possível dadas as condições únicas do local.
Como alguém escreveu, O Museu de Moneo em Mérida é “auto consciente
do seu propósito” – exposição do passado antigo da cidade. Nele, a arquitetura
procura “apenas” dramatizar as realizações da cultura romana. Moneo consegue
isso através de uma magistral combinação de história e modernidade, onde a luz
criada dentro do Museu pelo arquiteto parece transportar-nos aos gloriosos
tempos do Império Romano.
GAVB