Em 1536, ANA BOLENA, a rainha consorte de
Henrique VIII e mãe da futura rainha Isabel I, tinha sido julgada e declarada
culpada de cometer adultério com um músico, Mark Semeaton, e um palafreneiro,
Henry Norris, e de manter relações incestuosas com o irmão, George, visconde de
Rockford. Em devido tempo, outros nomes foram acrescentados à lista das
supostas ligações adúlteras.
Ana foi julgada e considerada culpada a 15
de maio, num julgamento presidido pelo seu tio, Thomas Howard, conde de
Norfolk; os seus alegados amantes foram executados dois dias depois.
Após a anulação do seu casamento, Ana foi
executada em 19 de maio, com uma espada especial e um carrasco que Henrique
VIII trouxera de Calais. Tratou-se uma intervenção “misericordiosa” do rei,
pois o adultério da rainha era considerado traição e a pena habitual para os
traidores do sexo feminino era a morte na fogueira.
Assim terminou um casamento que fora a
causa da rutura do rei com a Igreja de Roma. Na manhã seguinte, Henrique ficou
noivo de Jane Saymour, que era dama de honor de Ana. O corpo de Ana Bolena foi
enterrado numa sepultura não identificada.
Charles Wriothesley descreveu assim aquele
momento terrífico na história de Inglaterra:
«Às oito horas da manhã, Ana Bolena,
rainha, foi levada para execução, para o relvado da Torre de Londres, junto da
grande Torre Branca. […] Num cadafalso ali construído para a sua execução, a
rainha Ana falou assim: “Senhores,
submeto-me humildemente à lei, pois a lei me julgou, e quanto aos meus crimes,
não acuso nenhum homem; Deus conhece-os; entrego-os a Deus, rogando-Lhe que
tenha misericórdia da minha alma e suplico-Vos: Jesus, salvai o meu soberano e
senhor rei, o príncipe mais devoto e gentil que existe, e deseja reinar sobre
vós.”
Estas palavras foram pronunciadas com uma
fisionomia admirável e sorridente; e dito isto ela ajoelhou-se e disse: “A Jesus Cristo encomendo a minha alma!”;
e de repente o carrasco cortou-lhe a cabeça com um golpe de espada.»
As palavras
de Ana Bolena são de uma dignidade, elevação e grandeza surpreendentes. Talvez
a expressão da sabedoria que muitos alcançam na hora da morte. Uma sabedoria
que Henrique VIII, o rei mais conhecido e polémico que os ingleses tiveram, nunca teve.
Na
verdade não foi Ana Bolena a causa principal do afastamento dos ingleses do
catolicismo, mas a soberana soberba de Henrique VIII que se julgava um deus na
terra. Demorou pouco tempo para Ana perceber quanto volúveis e perigosas são as
paixões dos homens.
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