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quarta-feira, 11 de maio de 2016

DIAGNÓSTICO CHAPA 5


A ordem não tem rosto, mas é clara: os médicos dos Centros de Saúde têm cinco minutos, em média, para atender cada doente. Uma consulta completa em cinco minutos! Há que perceber o historial clínico do paciente, ouvir as suas queixas, fazer-lhe perguntas, fazer um diagnóstico rigoroso, preencher um formulário informático, prescrever-lhe uma receita, explicar-lhe como, porquê e para quê são determinados remédios, assegurar-se que o doente percebeu o que se pretende assim como da importância de cumprir todas as orientações médicas.


Obviamente é impossível fazer isto em 300 segundos com a qualidade necessária que um ato médico requer. O diagnóstico médico é um ato da maior importância para a saúde, para a vida das pessoas e não pode ser feito a correr como quem despacha uma encomenda. O objetivo não é fazer muitas consultas, mas fazê-las bem-feitas.
Reparemos que isto é o tempo médio que cada utente dos Serviços de Saúde tem para ser atendido pelo seu médico de família ou alguém que faça a sua vez. Se uma pessoa consultar o seu médico de família três vezes ao ano (há muita gente que não necessita de tanto), tem direito a um quarto de hora de médico por ano. Há pausas para um café que demoram mais.

No entanto, o mais grave nem é a desumanização, a falta de consideração e respeito com que os utentes são tratados com uma medida como esta, que os põe ao nível de um embrulho nos correios; o mais grave é a desqualificação do ato médico que perde perigosamente qualidade. Como poderá um médico de família se responsabilizar por um diagnóstico assertivo quando tem de o fazer debaixo desta coação administrativa? As probabilidades de erro aumentam bastante, além de todo o stress que esta medida causa aos clínicos, enfermeiros e assistentes administrativos.

Bem sabemos que faltam médicos de família, bem sabemos que há médicos com mais de dois mil pacientes, mas o problema não se resolve desta maneira. Por muito que os problemas das pessoas que se dirigem aos Centros de Saúde possam parecer corriqueiros e repetitivos, há sempre casos complexos, que exigem ponderação, tempo, mais perguntas, até uma conferência de clínicos. Para usar mais tempo com estes casos e cumprir o diagnóstico em cinco minutos, os médicos têm, forçosamente, de retirar tempo às outras consultas que assim descem para 3/4 minutos por doente.
Nem todos os diagnósticos são “Chapa 5" nem os doentes vão à consulta sempre com as mesmas queixas. Com a saúde não podemos brincar à estatística nem devemos levar os médicos à exaustão psicológica, pois o perigo de diagnósticos errados é altíssimo.
Esta é uma ordem perigosa, que achincalha utentes e profissionais de saúde, como se estes fossem uns pastelões que arrastam consultas e aqueles uns inconscientes que recorrem aos serviços de um médico de família por tudo e por nada. Os médicos merecem mais respeito, a população merece mais consideração e quem ordenou tal orientação devia ter um pouco mais de bom senso.

Gabriel Vilas Boas

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