«- Ai tu és canhoto?!»
Pois sou! Eu e uma imensa minoria, que se
faz notar por esse mundo fora também por ser esquerdina. Que o digam génios da
bola como Maradona ou da ciência como Leonardo Da Vince ou da física como
Albert Einstein ou da pintura como Miguel Ângelo.
Nós, canhotos, gostamos de apresentar
estes cartões-de-visita para demonstrar que não temos nenhum pacto com o diabo
nem com a mediocridade, apesar dos italianos dizerem que a nossa mão preferida
é a “sinistra”.
Isto de ser canhoto ou destro não foi
escolha nossa. É genético! Diz um estudo das universidades de Oxford, Bristol e
Andrews, e provavelmente deve-se ao facto de um dos nossos pais (ou mesmo os
dois) serem canhotos. Segundo um estudo científico, é a interação entre o
património genético e o ambiente intrauterino que determina a lateralidade.
Depois há um gene altamente suspeito – o PCSK6 – que dizem ter posto alguns a
escreverem com a mão esquerda.
Sobre os canhotos há muitas histórias,
algumas mirabolantes e do domínio da efabulação, outras mais sérias e do
domínio da ciência.
No entanto, quer umas quer outras são deveras curiosas. Uma
delas diz que os esquerdinos ganham 10% ou 12% menos que os destros. Uma
injustiça pegada até porque é vox populi
que os canhotos são mais inteligentes e criativos.
Estes dois fatores deixam-me mais descansado
quanto ao futuro da América, pois é altamente improvável que Donald Trump seja
esquerdino e por isso as suas hipóteses de suceder ao canhoto Obama são
diminutas. É que quatro dos últimos sete presidentes dos EUA escrevem com a mão
esquerda.
Se a carteira dos esquerdinos está
injustamente mais vazia que a dos destros, outros fatores há que os compensam.
Um estudo da loja de brinquedos eróticos Lelo afirma que os canhotos são cinco
vezes mais satisfeitos sexualmente que os destros.
Estudos anteriores já tinham
provado que os canhotos recebem mais testosterona quando estão no útero materno
e isso fá—los mais dominadores na cama. Esses estudos referem mesmo que 86% dos
canhotos se dizem “extremamente satisfeitos” no que à sua vida sexual diz
respeito enquanto a percentagem dos destros não ultrapassa os 15%. Bill Clinton
devia ter evocado estes estudos em sua defesa. Bastava ter dito “Sou canhoto! O que é
que estavam à espera?” que toda a gente entenderia! Como disse atrás, esta
coisa de ser canhoto é genético, não se compra no supermercado…
Não sei se por excesso de criatividade ou
de atividade, a verdade é que os esquerdinos vivem menos que os destros. Nove
anos – quase uma década! Além disso, têm seis vezes mais probabilidade de
sofrerem acidentes mortais que os destros. Qualquer dia anulam-me o seguro de
saúde.
Se ser esquerdino pode ser um perigo,
também pode ser um problema. O investigador Joshua Goodman defende que os
canhotos têm mais problemas de fala e comportamento, nas escolas, do que os
destros. Talvez porque as suas emoções estão invertidas no cérebro. É isso
mesmo que se conclui outro estudo, que refere que os canhotos processam as
informações do lado oposto do cérebro que os destros. Durante anos pensou-se
que a motivação era processada sobretudo do lado esquerdo do cérebro… mas nunca
se provou tal. O que se demonstrou foi que os canhotos processam mais
rapidamente estímulos cerebrais.
Agora que todos vocês já estão fartinhos de “esquerdices”,
eis a minha conclusão absolutamente (im)parcial: um canhoto é uma espécie rara
e muito preciosa: mais criativo, mais inteligente, mais barato, mais fácil de
despachar e uma melhor garantia de “extrema satisfação”.
Gabriel Vilas Boas
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