Amuar é quase sempre uma péssima resposta
a um problema. Quando acontece com uma criança, passa-lhe com o tempo, quando
acontece com um adulto, normalmente agudiza-se com o tempo e não passa.
Os professores estão habituados a lidar
com as birras dos seus alunos, mas não com as suas. Frequentemente nem dão por
elas.
Quando uma turma inteira obtém razoáveis
resultados com vários professores durante o mesmo ano letivo e péssimo apenas
connosco e nós pensamos que a culpa é obviamente (?) dos alunos, porque não
estudam, isso é pouco avisado. Achar que o nosso método é o único possível com
aquele grupo é pouco inteligente; recusar mudar de estratégia, apesar de todas
as evidências, é amuar na hora e no local errados.
Quando um aluno não faz aquilo que eu
pretendo “à minha maneira”, pode ser a minha maneira que está errada. Amuar, ou
seja, insistir num método comprovadamente votado ao insucesso não é solução,
por muito que o nosso ego seja atingido. Ninguém fica a ganhar, professor
incluído.
Claro que quando um professor tem de mudar
o seu inamovível método de ensino, ele é obrigado a sair da sua zona de
conforto e as dúvidas são muitas e, por vezes, notam-se. No entanto é
preferível arriscar perder alguma reputação balofa, a perder a turma durante
meses.
As mentalidades dos alunos renovam-se a um
ritmo superior e temos de nos adaptar a elas, levando aos alunos o essencial do
que pretendemos ensinar numa roupagem que os tempos aconselham. Eles também não
escolheram o tempo e o modo em que vivem.
Há várias maneiras de levá-los ao esforço
e ao compromisso. As suas histórias de vida, as suas personalidades não vêm em
nenhum manual de pedagogia. Cabe ao professor absorvê-las com humildade e a partir delas desenhar o método que melhor se adequa àquele grupo.
Normalmente temos de descer expectativas, ir lá por tentativa-erro e
experimentar de várias maneiras.
Fundamental é ter humildade para
desconstruir um método certo e inútil e ao mesmo tempo demonstrar coragem e
convicção no método que construímos para aquele grupo.
Um professor tem de ter consciência que a
sua profissão obrigá-lo-á a reinventar-se várias vezes ao longo da vida, porque
amuar nunca foi solução. Sempre que um professor amua, o mundo para, estagna e
dá um passo atrás.
Gabriel Vilas Boas
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