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domingo, 8 de maio de 2016

QUANDO UM PROFESSOR AMUA


Amuar é quase sempre uma péssima resposta a um problema. Quando acontece com uma criança, passa-lhe com o tempo, quando acontece com um adulto, normalmente agudiza-se com o tempo e não passa.
Os professores estão habituados a lidar com as birras dos seus alunos, mas não com as suas. Frequentemente nem dão por elas.

Quando uma turma inteira obtém razoáveis resultados com vários professores durante o mesmo ano letivo e péssimo apenas connosco e nós pensamos que a culpa é obviamente (?) dos alunos, porque não estudam, isso é pouco avisado. Achar que o nosso método é o único possível com aquele grupo é pouco inteligente; recusar mudar de estratégia, apesar de todas as evidências, é amuar na hora e no local errados.
Quando um aluno não faz aquilo que eu pretendo “à minha maneira”, pode ser a minha maneira que está errada. Amuar, ou seja, insistir num método comprovadamente votado ao insucesso não é solução, por muito que o nosso ego seja atingido. Ninguém fica a ganhar, professor incluído.
Claro que quando um professor tem de mudar o seu inamovível método de ensino, ele é obrigado a sair da sua zona de conforto e as dúvidas são muitas e, por vezes, notam-se. No entanto é preferível arriscar perder alguma reputação balofa, a perder a turma durante meses.

As mentalidades dos alunos renovam-se a um ritmo superior e temos de nos adaptar a elas, levando aos alunos o essencial do que pretendemos ensinar numa roupagem que os tempos aconselham. Eles também não escolheram o tempo e o modo em que vivem.
Há várias maneiras de levá-los ao esforço e ao compromisso. As suas histórias de vida, as suas personalidades não vêm em nenhum manual de pedagogia. Cabe ao professor absorvê-las com humildade e a partir delas desenhar o método que melhor se adequa àquele grupo. Normalmente temos de descer expectativas, ir lá por tentativa-erro e experimentar de várias maneiras.
Fundamental é ter humildade para desconstruir um método certo e inútil e ao mesmo tempo demonstrar coragem e convicção no método que construímos para aquele grupo.
Um professor tem de ter consciência que a sua profissão obrigá-lo-á a reinventar-se várias vezes ao longo da vida, porque amuar nunca foi solução. Sempre que um professor amua, o mundo para, estagna e dá um passo atrás.
Gabriel Vilas Boas  

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