«A História tal como é ensinada nas escolas, versa grande parte sobre as guerras, grandes
controvérsias políticas, extensões territoriais e outros assuntos do mesmo
género. Quando fui aos nossos livros de História Americana para saber como os
nossos antepassados gradaram a terra, descobri que os historiadores não
percebiam nada de grades [utensílios agrícolas]. No entanto, o nosso país
dependia mais de grades do que de armas ou discursos pomposos.» Henri Ford,
Chicago, 1916
Há precisamente cem anos, o fabricante de
automóveis Henri Ford escandalizava o mundo ao chamar «inútil» à História, tal
como ela era ensinada. Ao contrário de Ford, não acho que uma História que não
dá primazia à vida quotidiana seja inútil, mas penso que as palavras de Ford
merecem uma atenção cuidada.
Para
que serve a História? Para aprendermos com ela. E temos aprendido com a
História? É claro que temos aprendido muito pouco com a História.
Como diria o padre António Vieira, a culpa
ou é do sal (História) que não salga (ensina) ou da terra (pessoas) que não se
deixa salgar (ser ensinada). É fácil e cómodo responsabilizar as pessoas, mas penso que
a História não está isenta de culpas.
Na escola, promovemos o conhecimento dos
factos, queremos que os alunos os relacionem mas evitamos que procurem tirar
ilações deles. Têm de os dominar, mas não têm de se pronunciar sobre eles.
Dizemos que isso seria introduzir a opinião/subjetividade em algo que se pretende
objetivo, mas acho que tal asserção é uma atitude cobarde.
Houve factos maus e factos bons e é
conveniente assentarmos ideias sobre o que foi luz e o que foi sombra na lâmina do
tempo. O nazismo defendia o extermínio dos judeus e isso foi mau; a escravatura
não foi apenas um facto histórico que perdurou durante séculos, mas essencialmente
uma indignidade eivada de enorme maldade. O mundo conheceu duas grandes guerras
durante o século XX e isso foi catastrófico, porque a guerra é
indiscutivelmente má e só aparentemente resolve problemas.
Quando a humanidade se permite repetir, em
três décadas, dois conflitos bélicos à escala global, revela estupidez.
Acho importante aprender História, mas o
essencial é aprender com a História, porque um Homem que só sabe História nem
de História sabe. A História que aprendemos na escola corre o risco de se
tornar aquela inutilidade anunciada por Ford se apenas se detiver no passado e
abdicar de influenciar o futuro.
Gabriel Vilas Boas
Sem comentários:
Enviar um comentário