Dez anos depois de lançado o concurso público
e após três paragens nas obras, abre finalmente o famigerado túnel do Marão, que
permitirá que os transmontanos possam entrar no seu Reino Maravilhoso de
autoestrada e, sobretudo, em segurança.
O mais comprido túnel da península ibérica
foi também o que mais tempo demorou a ser construído. A obra esteve parada mais
de dois anos, talvez por ser das poucas que teve um preço final abaixo do
projetado.
Em Portugal, os governares irritam-se quando alguém cumpre
orçamentos ou consegue preços mais em conta e por isso resolve atrasar as
obras.
Com um estoicismo fora de comum e uma
paciência de louvar, os transmontanos esperaram que o seu túnel visse o
outro lado da montanha. Já em pleno século XXI lá tiveram a sua obra pública de
referência, depois de todos os outros terem as suas autoestradas, as suas vias
rápidas, as suas SCUT’s de borla e depois a pagar, os seus hospitais públicos e
privados, os seus centros comerciais até enjoarem, os seus aeroportos onde não
aterram aviões, os seus projetos que custaram milhões e milhões antes de serem
atirados para o cesto dos papeis.
Nestas últimas décadas, Trás-os-Montes chorou
muitas mortes dos seus filhos na encosta do Marão, porque o nevoeiro cegava
camionistas cansados de viagens internacionais, mas as suas lágrimas secaram no
rosto e entristeceram os corações daqueles que se habituaram a dar muito e a
receber muito pouco.
Os transmontanos sempre foram de uma generosidade
imensa, todavia a sua recompensa sempre foi escassa. Tratados como filhos de um
deus menor, ficaram muitas vezes com os restos do investimento público. Com o passar
dos anos, os jovens foram partindo para o litoral, desertificando aldeias,
vilas e pequenas cidades, tornando a região um imenso templo de silêncio e paz, onde não há muitas oportunidades de investimento e negócio e um povo maravilhoso
que se mantém fiel às suas raízes.
Tal como aconteceu com o alqueva, o túnel
chegou tarde e fora de horas, mas é bem-vindo e ninguém o rejeita.
Não há
motivo para foguetes nem sequer para um "obrigado", porque hoje o governo
português tratou apenas de fazer uma pequena reparação das muitas injustiças
cometidas sobre uma população injustiçada.
A partir de hoje, os transmontanos já
podem regressar a casa em segurança, nas noites frias de outono ou de inverno.
Quanto aos outros, sempre podem aprender que ao fundo do túnel não está uma
luz, mas um REINO MARAVILHOSO.
Gabriel Vilas Boas
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