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sábado, 7 de maio de 2016

TRÁS-OS-MONTES AO FUNDO TÚNEL


Dez anos depois de lançado o concurso público e após três paragens nas obras, abre finalmente o famigerado túnel do Marão, que permitirá que os transmontanos possam entrar no seu Reino Maravilhoso de autoestrada e, sobretudo, em segurança.
O mais comprido túnel da península ibérica foi também o que mais tempo demorou a ser construído. A obra esteve parada mais de dois anos, talvez por ser das poucas que teve um preço final abaixo do projetado. 

Em Portugal, os governares irritam-se quando alguém cumpre orçamentos ou consegue preços mais em conta e por isso resolve atrasar as obras.
Com um estoicismo fora de comum e uma paciência de louvar, os transmontanos esperaram que o seu túnel visse o outro lado da montanha. Já em pleno século XXI lá tiveram a sua obra pública de referência, depois de todos os outros terem as suas autoestradas, as suas vias rápidas, as suas SCUT’s de borla e depois a pagar, os seus hospitais públicos e privados, os seus centros comerciais até enjoarem, os seus aeroportos onde não aterram aviões, os seus projetos que custaram milhões e milhões antes de serem atirados para o cesto dos papeis.

Nestas últimas décadas, Trás-os-Montes chorou muitas mortes dos seus filhos na encosta do Marão, porque o nevoeiro cegava camionistas cansados de viagens internacionais, mas as suas lágrimas secaram no rosto e entristeceram os corações daqueles que se habituaram a dar muito e a receber muito pouco.
Os transmontanos sempre foram de uma generosidade imensa, todavia a sua recompensa sempre foi escassa. Tratados como filhos de um deus menor, ficaram muitas vezes com os restos do investimento público. Com o passar dos anos, os jovens foram partindo para o litoral, desertificando aldeias, vilas e pequenas cidades, tornando a região um imenso templo de silêncio e paz, onde não há muitas oportunidades de investimento e negócio e um povo maravilhoso que se mantém fiel às suas raízes.  

Tal como aconteceu com o alqueva, o túnel chegou tarde e fora de horas, mas é bem-vindo e ninguém o rejeita. 
Não há motivo para foguetes nem sequer para um "obrigado", porque hoje o governo português tratou apenas de fazer uma pequena reparação das muitas injustiças cometidas sobre uma população injustiçada.

A partir de hoje, os transmontanos já podem regressar a casa em segurança, nas noites frias de outono ou de inverno. Quanto aos outros, sempre podem aprender que ao fundo do túnel não está uma luz, mas um REINO MARAVILHOSO.

Gabriel Vilas Boas

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