E se um pobre pudesse desfrutar de uma
casa com assinatura? E os arquitetos de renome trabalhassem para gente que não
lhse pudesse pagar o que estão habituados a receber?
O mais recente prémio Pritzker, o
arquiteto chileno Alejandro Aravena (fará 49 anos daqui a um mês) propôs há uma
década uma fórmula diferente de fazer arquitetura: o arquiteto começa, o cliente acaba.
Através do seu escritório Elemental, Aravena sugere um modelo de
“moradia incremental”.
Como construir uma casa quando dispomos de
um orçamento incrivelmente baixo? Aravena advoga a construção de “metade de uma
casa” (literalmente!): um espaço extensível de 40 metros quadrados, onde fica
assente a estrutura básica (divisões, estrutura e paredes contra-fogo, casas de
banho, cozinha, escadas e cobertura). A outra metade fica em aberto, isto é,
por construir. Nessa metade aberta, o cliente (normalmente uma pessoa de baixos
recursos económicos) pode acrescentar várias divisões, ao longo do tempo,
conforme o seu gosto e possibilidades económicas.
Cada uma dessas pessoas garante, a baixo
custo, os fundamentos essenciais (elementares) da sua casa, podendo-a alterar
no futuro, pois o espaço em aberto permite inúmeras combinações. A proposta
arquitetónica de Aravena vira a arquitetura para as pessoas, para as suas
necessidades.
Aravena convoca as pessoas para o processo
de construção. Nos seus projetos, as pessoas participam ativamente na
construção da sua casa, do seu bairro, da sua cidade. O arquiteto chileno pensa
que a melhor maneira de responder aos problemas/desafios é usar a capacidade
das pessoas em construir.
No seu conceito de projeto aberto e partilhado,
Aravena usa o processo de interrogatório, em que cada pessoa, mais do explicar
“o que quer”, explica “para que quer”. Normalmente, ele apresenta os seus
projetos como soluções para equações. Regra geral, estas equações explicam
relações volumétricas e não planimétricas.
Os edifícios de Aravena estão suspensos
nos princípios elementares de uma relação formal ainda por concluir. Acabá-la é
uma possibilidade que temos enquanto já os habitamos, mas como as nossas
necessidades habitacionais básicas são diferentes ao longo da vida, a
construção permanece em aberto, ainda que as diversas equações possam ser
resolvidas.
Ao olhar a ideia arquitetónica do mais
recente Prémio Pritzker não deixo de pensar que, talvez, Aravena queira mais do
comprometer os seus clientes na construção do projeto da «sua» casa. Aravena
quer que cada um de nós “pense” a sua casa não como um projeto fechado, capaz
de satisfazer todos os caprichos de comodidade e luxo visual, mas como um
projeto aberto e intemporal, apto para cumprir as necessidades habitacionais
básicas e ao mesmo tempo permitir a expansão da liberdade criativa de quem a habita.
GAVB
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