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segunda-feira, 16 de maio de 2016

ELEMENTAL, CARO ARAVENA



E se um pobre pudesse desfrutar de uma casa com assinatura? E os arquitetos de renome trabalhassem para gente que não lhse pudesse pagar o que estão habituados a receber?
O mais recente prémio Pritzker, o arquiteto chileno Alejandro Aravena (fará 49 anos daqui a um mês) propôs há uma década uma fórmula diferente de fazer arquitetura: o arquiteto começa, o cliente acaba.


Através do seu escritório Elemental, Aravena sugere um modelo de “moradia incremental”.
Como construir uma casa quando dispomos de um orçamento incrivelmente baixo? Aravena advoga a construção de “metade de uma casa” (literalmente!): um espaço extensível de 40 metros quadrados, onde fica assente a estrutura básica (divisões, estrutura e paredes contra-fogo, casas de banho, cozinha, escadas e cobertura). A outra metade fica em aberto, isto é, por construir. Nessa metade aberta, o cliente (normalmente uma pessoa de baixos recursos económicos) pode acrescentar várias divisões, ao longo do tempo, conforme o seu gosto e possibilidades económicas.
Cada uma dessas pessoas garante, a baixo custo, os fundamentos essenciais (elementares) da sua casa, podendo-a alterar no futuro, pois o espaço em aberto permite inúmeras combinações. A proposta arquitetónica de Aravena vira a arquitetura para as pessoas, para as suas necessidades.

Aravena convoca as pessoas para o processo de construção. Nos seus projetos, as pessoas participam ativamente na construção da sua casa, do seu bairro, da sua cidade. O arquiteto chileno pensa que a melhor maneira de responder aos problemas/desafios é usar a capacidade das pessoas em construir. 
No seu conceito de projeto aberto e partilhado, Aravena usa o processo de interrogatório, em que cada pessoa, mais do explicar “o que quer”, explica “para que quer”. Normalmente, ele apresenta os seus projetos como soluções para equações. Regra geral, estas equações explicam relações volumétricas e não planimétricas.

Os edifícios de Aravena estão suspensos nos princípios elementares de uma relação formal ainda por concluir. Acabá-la é uma possibilidade que temos enquanto já os habitamos, mas como as nossas necessidades habitacionais básicas são diferentes ao longo da vida, a construção permanece em aberto, ainda que as diversas equações possam ser resolvidas.

Ao olhar a ideia arquitetónica do mais recente Prémio Pritzker não deixo de pensar que, talvez, Aravena queira mais do comprometer os seus clientes na construção do projeto da «sua» casa. Aravena quer que cada um de nós “pense” a sua casa não como um projeto fechado, capaz de satisfazer todos os caprichos de comodidade e luxo visual, mas como um projeto aberto e intemporal, apto para cumprir as necessidades habitacionais básicas e ao mesmo tempo permitir a expansão da liberdade criativa de quem a  habita.

GAVB 

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